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Fatos comprovam que Léo Pinheiro mentiu para incriminar Lula, diz defesa

Ex-executivo da OAS diz que não foi coagido a mentir, mas provas e atos processuais comprovam mudança de versão para reduzir pena

Youtube/Reprodução
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Pinheiro pagou a executivos da OAS para que se ajustassem à nova versão de seu depoimento

São Paulo – A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva listou fatos e provas que atestam que o ex-executivo da construtora OAS Léo Pinheiro forjou seu depoimento prestado à Operação Lava Jato. Após ser condenado, ele mudou versão apresentada para incriminar Lula. Em troca, garantiu redução de sua pena e direito de desfrutar a fortuna, como revelam os próprios procuradores, em conversas divulgadas pelo The Intercept Brasil.

Léo Pinheiro enviou carta, publicada nesta quinta-feira (4) pelo jornal Folha de S.Paulo, em que nega que tenha sido coagido a mentir. Segundo o advogado Cristiano Zanin, os argumentos de Pinheiro não abalam o que sempre foi demonstrado pela defesa: “Na prisão, Pinheiro fabricou uma versão para incriminar Lula em troca de benefícios negociados com procuradores”.

Zanin lembra que a própria Folha noticiou, em 2016, que as negociações de Pinheiro com o Ministério Público Federal (MPF), com vistas a um acordo de delação premiada, “travaram” após o empreiteiro inocentar Lula. Ele foi preso, naquele mesmo ano, quando negou o envolvimento de Lula em atos ilícitos. Nos autos do processo, ele chegou inclusive a contestar a “legitimidade” da acusação relativa ao apartamento em Guarujá, na qual Lula seria condenado dois anos depois.

Em 2017, a defesa do executivo da OAS informou ao então juiz Sergio Moro que “não foram localizadas contratações ou doações para ex Presidentes da República, tampouco para institutos ou fundações a eles relacionadas”, nem identificou em sua contabilidade qualquer imóvel destinado a Lula por meio de doação ou qualquer outra forma.

Depoimentos adaptados

A defesa de Lula alega que Pinheiro foi pressionado a mudar a sua versão, depois que 73 testemunhas ouvidas negaram o envolvimento do ex-presidente. A nova versão foi dada pelo executivo não em acordo de delação, mas em depoimento prestado na condição de corréu, o que implica que o acusado não tem compromisso com a verdade, pois não é obrigado a apresentar provas contra si.

“Durante seu interrogatório perguntamos a Léo Pinheiro: “O comportamento do senhor estão está sendo diferente nesta oportunidade?”; sua resposta: “Aí é uma orientação dos meus advogados, o senhor vai me desculpar”; ou seja, Leo Pinheiro efetivamente mudou sua posição no curso da ação penal”, destaca Zanin. Depois de mudar a versão, Pinheiro atribuiu ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari suposta negociação do apartamento, negada por ele “peremptoriamente”. “O que se tem, portanto, é a palavra de Léo Pinheiro contra a palavra de João Vaccari.”

Em 2018, a defesa do ex-presidente também identificou contratos de doação em dinheiro firmados por Pinheiro com  executivos da OAS “que alinharam suas colaborações no âmbito da Operação Lava Jato”, o que comprovaria que seus depoimentos foram comprados para se ajustarem a nova versão. Segundo a defesa, esse “fato novo” ainda não foi analisado pelo Tribunal Superior de Justiça (STJ).

Além de Ló Pinheiro, outros executivos da OAS teriam adequado suas delações ao acordo firmado entre a empreiteira e a Lava Jato. Em reclamação trabalhista, o ex-gerente administrativo Adriano Quadros de Andrade afirmara que os executivos da empresa que fizeram delação premiada receberam R$ 6 milhões para “ajustar os depoimentos aos interesses” dela. Segundo o site Consultor Jurídico, Quadros teria negociou sozinho com o Ministério Público, não recebeu dinheiro, e foi deixado “à própria sorte”.