Protagonismo da Esplanada

Após Previdência, destino do governo pode ficar nas mãos de Maia e Alcolumbre

Análise é do sociólogo Paulo Silvino, para quem queda de popularidade de Bolsonaro, aliada a fortalecimento do Congresso, pode definir rumos do governo

Agência Senado
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Popularidade em queda de Bolsonaro se contrapõe ao fortalecimento de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre

São Paulo — O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é “figura-chave” não apenas para compreender o sucesso da votação da “reforma” da Previdência na quarta-feira (10), como para o futuro do governo de Jair Bolsonaro (PSL). A opinião é do sociólogo Paulo Silvino, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp).

“Ele sim está fazendo uma articulação. O Rodrigo Maia é uma figura importante, que sai maior de todo esse processo. É alguém de direita e que conseguiu articular, dialogou, então a sua capacidade de articulação é que fez com que esse projeto fosse aprovado”, disse Silvino em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria na Rádio Brasil Atual. “A sorte do Jair Bolsonaro é ter figuras muito melhores do que ele, com capacidade política pra conseguir articular.”

No caso específico da Previdência, diante do texto-base aprovado pelo plenário em primeira votação, o sociólogo reconhece alguma articulação feita pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, embora acredite que o impacto da “velha política”, ao liberar altas quantias em emendas para os deputados, tenha tido enorme influência na votação. “Quando a gente vê que na mesma semana há uma distribuição de emendas parlamentares, então é aquilo que atende ao imenso apetite político de deputados e deputadas que não necessariamente têm compromisso com a sociedade brasileira e, se têm, é muito mais na retórica do que na prática. E que portanto aceita vender o voto”, afirma.

Quanto ao futuro da relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso, Silvino avalia que a projeção política de Bolsonaro é muito menor do que aquilo que se espera do cargo. Assim, para ele, a tendência é que Rodrigo Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), sejam cada mais protagonistas, inclusive para decidir o destino do governo em eventuais pedidos de impeachment.

“O Bolsonaro tem o cargo, mas não assume o seu protagonismo ou sua importância enquanto presidente. Ao diminuir a importância do Poder Executivo, ele cria condições para uma projeção maior do que o próprio cargo de presidente da Câmara tem”, pondera o professor. Para ele, Maia e Alcolumbre esperarão uma queda ainda maior na popularidade de Bolsonaro para decidir levar adiante eventuais pedidos de investigação contra o presidente.

“A quebra da expectativa que a população possa ter em relação à reforma, quando essa expectativa começar a ser frustrada de fato, a gente vai perceber como é o contexto ou o momento em que Rodrigo Maia e Alcolumbre consigam ter condições… Assim como Eduardo Cunha fez com a Dilma”, reforça Silvino.

Confira a íntegra da entrevista