momento difícil

Ataque a Santa Cruz mostra Bolsonaro cruel e sem apreço pelos valores democráticos

Para cientista política e conselheira do Instituto Vladimir Herzog, declarações que desrespeitam mortos e desaparecidos na ditadura civil-militar isolam o presidente

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
'Não é possível se imaginar que, numa democracia, um presidente diga isso', critica ativista pelos direitos humanos sobre apologia de Bolsonaro à tortura

São Paulo – Após o presidente Jair Bolsonaro desrespeitar a memória de vítimas da ditadura civil-militar, ele também desqualificou o trabalho da Comissão da Verdade, que apurou crimes cometidos no período. Para Glenda Mezarobba, conselheira do Instituto Vladimir Herzog e cientista política, Bolsonaro endossa seu lado antidemocrático e desumano. “São declarações que só podem ser recebidas com tristeza e constrangimento. Não é possível se imaginar que, numa democracia, um presidente diga isso. É muito cruel e sem nenhum apreço pelos valores da democracia”, critica, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Na segunda-feira (29), Bolsonaro atacou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, ao afirmar que “se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto pra ele”, em referência a Fernando Santa Cruz, desaparecido político da ditadura, desde 1974.

Já nesta terça-feira (30), ele questionou a legitimidade da Comissão da Verdade, cujo relatório mostra que Fernando foi morto pelo Estado. Bolsonaro foi questionado sobre qual versão dele contraria a oficial da comissão. “Você acredita em Comissão da Verdade? Qual foi a composição da Comissão da Verdade? Foram sete pessoas indicadas por quem? Pela Dilma”, disse.

Glenda lamenta que o governo Bolsonaro não tem mais fortalecido os grupos que estudam os crimes cometidos pelos militares na ditadura. “Não há mais esforços do Estado brasileiro para cumprir o dever de descobrir o que ocorreu com as vítimas da ditadura. A Comissão da Anistia que fazia um trabalho sobre os perseguidos políticos mudou sua maneira de trabalhar e não contribui mais nesse dever”, criticou.

Entretanto, a cientista política também não espera uma mudança de postura do presidente e acredita que ele ficará fragilizado. “Ele não tem uma capacidade de autocontenção. A trajetória dele é marcada por violência, agressão e preconceito. Então, não será interrompido de um dia pro outro. A crítica contra ele foi generalizada, ninguém o defendeu. É claramente algo que só ele pensa, ninguém endossa. Assim, se isola e a sociedade ganha força para construir uma saída para essa situação”, afirmou.

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