Operação Política

STF não pode fechar os olhos para as conversas reveladas pela ‘Vaza-Jato'”

Para o doutor em Direito Yuri Carajelescov, ilegalidades cometidas pela Lava Jato, como revelou matéria do The Intercept Brasil, não podem ser desconsideradas pelos ministros do STF que devem apurar denúncias

Carlos Moura/STF
Carlos Moura/STF
De acordo com Carajelescov, o próprio STF deverá ser questionado pelos réus da Lava Jato sobre atuação política de Moro e dos procuradores

São Paulo –  As conversas entre os procuradores da Lava Jato e o então juiz Sérgio Moro, divulgadas neste domingo (9) pelo The Intercept Brasil, não podem ser desconsideradas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Acho difícil que os ministros, ou pelo menos parte deles, permaneçam com uma postura de cegueira deliberada sobre essas situações”, destaca em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria da Rádio Brasil Atual.

De acordo com Carajelescov, a atuação arbitrária e política dos operadores da Lava Jato pode até ser negada pelo Ministério Público Federal, como foi feito em nota divulgada poucas horas depois da reportagem ir a público, ou mesmo ser naturalizada por parte da mídia tradicional, que tem procurado questionar a legalidade das provas, mas o teor das conversas compromete a condução da força-tarefa, podendo inclusive serem usadas pelos réus da Lava Jato diante da postura de acusador assumida pelo próprio juiz.

“O Supremo Tribunal Federal não poderá fechar os olhos para essa realidade (…) essas matérias deverão ser levadas pelos advogados dos réus condenados. Como é que o STF poderá insistir que houve imparcialidade, se os casos foram julgados por um juiz que claramente entrava em acordos inclusive sobre aspectos políticos?”, questiona o doutor em Direito. Carajelescov acrescenta ainda a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que o conjunto de informações reveladas expõem uma “clara tentativa de perseguição” ao ex-presidente, condenado em 2018 pela Lava Jato.

“Depois da Lava Jato tivemos um impeachment na presidência da República, o candidato mais cotado para ganhar foi impedido de disputar as eleições, depois tivemos uma eleição baseadas em fake news e chegamos aonde chegamos. Isso já seria grave se fosse um processo corriqueiro, mas esse foi um processo que pautou a discussão política do país nos últimos cinco anos”, explica, apontando as implicações da atuação de Moro e do procurador Deltan Dallagnol.

Ouça a entrevista na íntegra