#VazaJato

Mensagens entre Moro e procuradores da Lava Jato repercutem na imprensa internacional

Veículos como "Le Monde", "The Washington Post", "Bloomberg" e "El Clarín" tratam do escândalo revelado pelo "The Intercept Brasil" neste domingo

Montagem/RBA
Montagem/RBA
“De acordo com a reportagem, Moro orientou os procuradores, ultrapassando seus deveres como juiz”, diz trecho de matéria do jornal americano The Washington Post

São Paulo – As mensagens reveladas por The Intercept Brasil envolvendo o atual ministro da Justiça e ex-juiz, Sergio Moro, e os procuradores da força tarefa da Lava Jato em Curitiba são assunto na mídia internacional. O site do jornal El Clarín, da Argentina, abre sua matéria dizendo que “os procuradores brasileiros atuaram deliberadamente e em ocasiões coordenadas com o juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, para prejudicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção, e para evitar o regresso da esquerda ao governo”.

Nos trending topics do Twitter, expressões #VazaJato, #VazaMoro, #EuApoioIntercptBR e #MoroCriminoso superam a tag #EuApoioLavaJato. Habituado a se manifestar pela rede social, o presidente Jair Bolosonaro, até 13h10 desta segunda-feira (10) não havia comentado o assunto e estava a 17 horas sem tuitar nada.

O veículo argentino também destaca a nota divulgada neste domingo (9) pela defesa de Lula. “A defesa do ex-presidente afirma que os documentos divulgados por The Intercept Brasil mostram que a atuação dos procuradores e do ex-juiz, Sergio Moro, teve um ‘objetivo político’.”

A agência norte-americana Bloomberg destaca que as mensagens reveladas pelo The Intercept Brasil mostram Moro compartilhando informações e dando dicas aos procuradores que trabalhavam no caso que resultou na condenação do ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro. O veículo ainda destaca os esforços dos procuradores em impedir Lula de conceder entrevista antes da eleição de 2018, com receio de que pudesse aumentar as chances do candidato petista à presidência, Fernando Haddad.

Amplas repercussões

“Nos últimos cinco anos, a Lava Jato revelou um enorme esquema de propinas envolvendo as maiores empreiteiras do país e líderes políticos em contratos com empresas estatais. O presidente Jair Bolsonaro se beneficiou de uma onda popular de desgosto com a corrupção que o levou à vitória no ano passado, enquanto seu adversário mais popular estava na cadeia. A reportagem vem em um momento sensível para o presidente, que está tentando reunir apoio político para a aprovação de uma polêmica revisão do sistema de pensões no Congresso”, analisa a Bloomberg.

reprodução

Ato falho. Jornal O Estado de S. Paulo chama Moro de ex-ministro

O site ainda repercute a análise da consultoria Arko Advice, para quem as reportagens “são suscetíveis de terem amplas repercussões políticas e jurídicas, incluindo uma possível tentativa de legisladores de criar uma Comissão de Inquérito no Congresso, processos judiciais buscando a anulação de sentenças da Lava-Jato, e um eventual atraso no debate da reforma da Previdência no Congresso”.

O tradicional jornal francês Le Monde também trata do assunto nesta segunda-feira (10). Em seu site, o veículo abre sua matéria questionando: “E se o maior escândalo de corrupção na história do país tivesse sido manipulado?”. Na sequência, o Le Monde diz que The Intercept Brasil revelou “informações indicando que os responsáveis pela investigação anti-corrupção ‘Lava Jato’, teriam manobrado para evitar o retorno do antigo presidente de esquerda Lula ao poder em 2018”.

“Outras mensagens também revelam que os próprios promotores tinham ‘sérias dúvidas sobre a existência de provas suficientes da culpa de Lula’ no caso do suborno do apartamento tríplex, que finalmente o mandou para a prisão por oito anos e dez meses depois de uma recente revisão de sua sentença”, diz trecho da matéria do Le Monde.

Outro importante veículo europeu, o alemão Deutsche Welle, noticiou o vazamento das conversas entre Moro e os procuradores da Lava Jato. De acordo com o veículo, a reportagem do The Intercept Brasil revela conversas que mostrariam que “Dallagnol estava preocupado com a solidez das acusações apresentadas contra Lula para condená-lo pelo caso do tríplex do Guarujá, poucos dias antes da denúncia ser apresentada ao então juiz Sérgio Moro”.

“A Constituição determina que não haja vínculos entre o juiz e as partes em um processo judicial. Para que haja isenção, o juiz e a parte acusadora – neste caso, o Ministério Público – não devem trocar informações nem atuar fora de audiências”, pondera trecho da matéria do Deutsche Welle.

O La Diaria, do Uruguai, também destaca o trecho em que Dallagnol mostra ter dúvidas sobre os pontos centrais da denúncia que ele mesmo faria contra Lula. O procurador e coordenador da Lava Jato transparece estar receoso em afirmar que o tríplex era do ex-presidente e, em caso de ser, se ainda assim podia ser acusado de um suborno vinculado a Lava Jato.

“Vão dizer que estamos acusando com base em uma notícia de jornal e com indícios frágeis. Tem que estar bem atado”, diz Dallagnol, em trecho destacado pelo veículo uruguaio. “Até agora tenho receio do vínculo entre Petrobras e o enriquecimento (…) e da história do apartamento. São pontos que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua”, completa Dallagnol.

O jornal do Uruguai ainda explica que, no Brasil, o sistema de justiça estabelece que o procurador é responsável pela investigação, para depois apresentar a denúncia ao juiz, que até então deve ser totalmente imparcial. “Mas na Lava Jato não funcionou assim: Moro assessorou e até pressionou Dallagnol para que apresentasse, para ele mesmo, as acusação contra Lula. Isto não só viola o princípio da imparcialidade, assim como vai contra as declarações que o próprio Moro havia feito no momento, quando afirmou que ele não tinha uma estratégia de investigação e que os procuradores eram totalmente independentes”, enfatiza o La Diaria.

O The Washington Post informa que as reportagens revelam que o juiz Moro e os procuradores envolvidos na investigação contra o ex-presidente Lula trocaram mensagens discutindo o caso. “De acordo com a reportagem, Moro orientou os procuradores, ultrapassando seus deveres como juiz”, diz o jornal.

Já a rede árabe Al Jazeera, do Qatar, cita trecho em que a reportagem do The Intercept Brasil diz que “os procuradores da Lava Jato falaram abertamente do desejo de impedir o PT de ganhar a eleição e tomaram medidas para realizar essa agenda”. Em seguida, completa, ainda de acordo com a reportagem publicada domingo: “Secretamente e de modo antiético, Moro colaborou com os procuradores da Lava Jato para formular a denúncia do caso contra Lula… somente para ele então fingir ser seu julgador neutro.”