Conluio

Mais que crime de Moro, Vaza Jato revela como mídia e sociedade estão envoltas na corrupção

Jornalista Jacques Mick, doutor em Sociologia Política, reflete sobre operação que buscava minar corrupção, mas está imersa em contradições e ilegalidades

Arquivo EBC
Arquivo EBC
"Há uma predisposição social para encontrar argumentos que justifique práticas corruptas", afirma Jacques Mick sobre apoiadores de Moro

São Paulo – As conversas divulgadas pelo The Intercept Brasil colocaram em xeque a parcialidade como juiz do agora ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, mas não só isso. Na análise do jornalista Jacques Mick, doutor em Sociologia Política e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as irregularidades cometidas no âmbito da Lava Jato, alçada como a maior operação de combate aos desvios públicos, expõem como a corrupção está interiorizada na sociedade brasileira, inclusive no próprio Judiciário.

“Nós, como sociedade, vamos ganhar se entendermos que o combate à corrupção será lento, cultural, com escolas, meios de comunicação. Não será nem a operação A ou B que resolverá esse problema”, observa Mick em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

De acordo com o docente, há uma certa “ilusão” no debate público de que é possível extirpar a corrupção do sistema social e político como se ela fosse um “tumor”, que seria facilmente isolado com o uso de um bisturi. “Mas não é assim que funciona, a corrupção, em suas diversas modalidades, é uma prática altamente disseminada”, compara. Não à toa que, para Mick, mesmo as conversas da Vaza Jato indicando que Moro atuou como chefe dos procuradores do Ministério Público, rompendo com os preceitos éticos e, logo, praticando corrupção, há quem apoie a postura do ministro.

“Apoiadores de Bolsonaro, ou os antipetistas, olham para as práticas do Sergio Moro e dizem que tem que ser assim mesmo, ‘se queremos combater corruptos temos que agir dessa maneira, e não pode ser fiel ou rigoroso ao cumprimento da lei porque é uma organização criminosa’. Ou seja, há uma predisposição social para encontrar argumentos que justifique práticas corruptas”, avalia.

Mas essa predisposição é também alimenta pelo papel da mídia, como destaca o doutor em Sociologia Política. Isso porque, na prática, toda a operação Lava Jato foi sendo construída dentro de uma narrativa maniqueísta que levou Moro à figura de herói nacional, mas que agora, vem sendo deslegitimada pelos próprios veículos que o consagraram, como fez em editorial o jornal O Estado de S. Paulo e recente edição da revista Veja. “A construção da imagem do Moro não seu deu da noite para o dia. Foram cinco anos. Evidente que ela não será desconstruída em três semanas”, ressalta acrescentando que, para além da sociedade e da mídia, o próprio judiciário precisa refletir sobre a corrupção exposta no escândalo da Vaza Jato. “Precisam lidar com as irregularidades que acontecem dentro do seu próprio sistema e estrutura”, propõe o professor.

Ouça a íntegra da entrevista

Leia também

Últimas notícias