Há dois anos

Lula questionou Moro por falta de provas, de imparcialidade e por dobradinha com mídia

Em maio de 2017, ex-presidente afirma que comprovação futura de sua inocência e do uso político da Justiça iria comprometer a reputação do então juiz

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Dois anos depois de ter sua imparcialidade questionada por Lula, Moro tem conduta imprópria comprovada pelo Intercept

São Paulo – O ex-presidente Lula ficou frente a frente com o então juiz Sergio Moro, em maio de 2017, em depoimento sobre o processo do tríplex no Guarujá. O diálogo com o magistrado foi emblemático. Após ouvir críticas de Lula à imprensa pela cobertura parcial em torno da Operação Lava Jato, Moro retrucou: “O sr. tem reclamações da imprensa, eu compreendo, mas este não é o foro próprio para reclamar contra o tratamento da imprensa. O juiz não tem nenhuma relação com o que a imprensa publica ou não. E esses processos são públicos”, declarou.

Em seguida, o juiz ouviu de Lula: “O vazamento de conversas com a minha mulher e dela com meus filhos foi o sr. que autorizou. Deixa eu lhe falar uma coisa. Eu espero que essa nação nunca abdique de acreditar na Justiça. Agora, eu queria lhe avisar uma coisa. Esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais que eu serei absolvido, prepare-se, porque os ataques ao sr. vão ser muito mais fortes do que fazem até a ministro da Suprema Corte que não pensa como pensa a imprensa”.

Dois anos depois, Moro é alvo de revelações de conversas suas com o procurador Deltan Dallagnol e outros integrantes da Lava Jato. E hesita entre dois discursos. Num primeiro momento, afirmou que as conversas não continham “nada de mais”. Depois, se voltou ao ataque: “Além de juízes e procuradores, jornalistas também tiveram celulares hackeados pelo mesmo grupo criminoso”.

A empresa responsável pelo Telegram negou a possibilidade de o aplicativo de ser sido alvo de hacckers.

No depoimento, Lula disse ainda a Moro que a “acusação tem que ser fundamentada, não pode ser especulativa”, e que  a acusação contra ele era “feita muita mais pela capa dos jornais, de revista e de imprensa do que  pelas perguntas que me fizeram (no depoimento)”.

Ao negar que “o juiz não tem nenhuma relação com o que a imprensa publica ou não”, como ele afirmou a Lula, Moro contradiz o que ele próprio defendeu em artigo famoso de 2004, intitulado “Considerações sobre a Operação Mani Pulite” (a respeito da Operação Mãos Limpas, na Itália), no qual o magistrado já defendia que o papel da mídia é importante em casos semelhantes. “(…) Os vazamentos serviram a um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva”, escreve Moro no artigo.