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Haddad para Bolsonaro: ‘Qual moral de um presidente que se aposentou aos 33 propor a reforma?’

Com Haddad e Boulos na Av. Paulista, trabalhadores marcharam na capital contra a reforma da Previdência em dia de greve geral. Ato termina com ataque da PM

Dino Santos
Dino Santos
Após concentração a partir do final da tarde, manifestantes saíram em marcha até o centro da capital

São Paulo – O ato contra a reforma da Previdência, realizado no fim da tarde desta sexta-feira (14) na Avenida Paulista, em São Paulo, foi marcado por um pronunciamento ácido do ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad (PT) que levantou a marcha. As principais críticas foram direcionadas ao presidente Jair Bolsonaro. “Depois de se aposentar aos 33 anos, Bolsonaro teve 28 anos de mandato. Desperdiçou 28 anos fazendo nada no Congresso. Se ele tivesse feito alguma coisa, estudado os trabalhadores, ele saberia que tem meninos e meninas que não completam o ensino médio porque precisam ajudar a família”, disse Haddad.

O ato terminou com violência da Polícia Militar, com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.  Após a concentração para o ato, os manifestantes saíram em marcha até o centro da capital. Quando passavam pela Praça do Ciclista, no fim da Paulista, os manifestantes, que estavam ali de forma pacífica, foram atacados. A partir dali, o ato ficou dividido em dois, entre os que conseguiram seguir o caminho pela Rua da Consolação e outro grupo que ficou preso na avenida de origem. De acordo com trabalhadores que estavam lá, um defensor público foi levado pela PM, o que desencadeou a confusão.

O dia de greve geral foi marcado por manifestações em todos os estados e no Distrito Federal, com protestos contra a “reforma” da Previdência do governo Bolsonaro.

O principal ponto de crítica de Haddad foi o aumento da idade mínima para se aposentar, de 65 para homens e 62 mulheres, com 40 anos de contribuição. “Se tiverem que trabalhar até os 65 anos, terão de trabalhar 50 anos, sendo 40 com carteira, pelo menos. Em um país aonde empresários não pagam o que devem ao fisco. Falo isso em frente à Fiesp, que congrega os sonegadores do país”, disse Haddad ao passar em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que apoiou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e endossa o projeto de “reforma”.

Haddad prosseguiu na crítica ao empresariado paulista. “Se os empresários da Fiesp pagassem o que devem, se registrassem os trabalhadores, não ia ter déficit. Estaríamos discutindo outros projetos: educação, saúde, segurança, e não essa agenda retrógrada e caótica que Bolsonaro quer impor ao país.”

Foto/Drone: Jesus Carlos CUT

Balanço

Em um momento de reflexão sobre as mobilizações, Haddad sentenciou que “a greve geral varreu o país de norte a sul. Na esteira do movimento estudantil e das grandes mobilizações de maio, pergunto a vocês: qual a moral de um presidente que se aposentou aos 33 anos propor uma reforma sem sentar com os trabalhadores? Não chamou ninguém para conversar.”

A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), também falou da importância do levante dos trabalhadores e criticou a reforma: “A luta contra a reforma da Previdência é a luta da resistência do Brasil. O Brasil está vivendo uma das maiores crises econômicas dos últimos tempos. O desemprego aumenta, quem mais emprega são os serviços que pagam pouco e exploram quem muito trabalha. Uber, Ifood. Estamos em um governo que, ao invés de cuidar das pessoas, da economia, se subordina a outro país. Um presidente que bate continência para a bandeira de outro país”.

Outra liderança que inflamou o público foi o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos. “Hoje foi um grande dia de luta. Várias categorias cruzaram os braços. Várias manifestações foram realizadas, pararam os quatro cantos desse país. Os movimentos sociais foram para as ruas, pararam as ruas e avenidas para dizer não à essa reforma. Não sei se viram, semana passada saiu uma matéria dizendo que os movimentos estavam com medo do Bolsonaro, dizendo que o MTST, MST não faziam luta. A turma do lado de lá estava com saudade da gente. Tiveram a oportunidade agora de matar a saudade. Povo sem Medo, movimentos sociais, tomamos as ruas contra a reforma da Previdência”, afirmou o candidato à Presidência pelo Psol em 2018.

Nova proposta

Ontem (14), o deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da reforma em comissão especial da Câmara, apresentou seu texto, que ainda será votado. Pontos polêmicos da reforma ficaram de fora, como o fim do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Apesar dos avanços, as lideranças em São Paulo ainda não veem a proposta como positiva para a população. “Me perguntaram se agora, após o relatório, se estava bom. Evidente que retirar capitalização, ataque ao BPC e aposentadoria, são avanços. Mas não está bom coisa nenhuma, queremos que retirem a idade mínima”, disse Boulos.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, também criticou a proposta como ficou. “O relatório apresentado ontem é ruim. Não temos nenhuma concordância com o relatório. Ele é melhor do que a proposta do Bolsonaro, mas também tira direito dos trabalhadores. Não vamos arrefecer a luta. Enquanto tiver retirada de direitos de trabalhadores, a CUT não senta para conversar. Vai continuar organizando greves contra essa reforma.”

Outras pautas

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, criticou decisão da Justiça que tentou barrar a greve geral. Entretanto, o resultado seguiu positivo. “Os bancários aderiram às paralisações conforme deliberado em assembleia. Muitas agências e prédios parados. BB, Caixa, Santander, Bradesco e Itaú. A adesão foi forte e a categoria deu o recado ao governo e aos deputados que não concordam com a reforma da Previdência. É um absurdo que a Justiça se meta na organização dos trabalhadores. Temos direito à greve e direito de lutar por nossos direitos. É um absurdo a Justiça tentar mandar no que faremos. Esse dia foi vitorioso e tem refletido o que a classe trabalhadora pensa. Foi um dia realmente excelente para os bancários e para todos os trabalhadores que deram o recado em todo o Brasil.”

Já o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Gilmar Mauro falou sobre outras pautas que estiveram no foco de hoje. Entre elas, o escândalo envolvendo o ministro da Justiça, Sergio Moro, quando juiz federal, manteve relações de influência sobre os procuradores da Operação Lava Jato, em especial, Deltan Dallagnol. O conluio resultou na prisão de Lula e eleição de Bolsonaro. “Participamos das mobilizações pelas cidades e, agora à tarde, as capitais têm grandes atos. É uma demonstração de que o povo brasileiro não está aceitando, não apenas a reforma da Previdência que retira direitos históricos, mas também, colocamos o tema do Lula livre no debate. O golpismo instalado no Brasil com Temer, Bolsonaro, mídia, está levando Brasil ao caos econômico e social.”

Haddad também comentou sobre o tema. “Temos no Ministério da Justiça uma pessoa que comanda a PF. Quem se sente seguro no Brasil com Moro chefe da PF?! Uma pessoa totalmente ideológica, partidária. Partidário quando era juiz, imagina agora como político. Esse homem pode perseguir as pessoas que estão defendendo a Constituição que ele deveria cumprir. A verdade está aparecendo.”

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