Vaza Jato

Glenn Greenwald rebate a Globo: ‘Preferem abafar desvios da Lava Jato e Moro’

Emissora publicou uma nota colocando em xeque o caráter do jornalista premiado com o qual já trabalhou

Lia de Paula/Agência Senado
Lia de Paula/Agência Senado
Glenn critica maneira que a emissora omite os vazamentos e explica: 'porque a Globo e a força-tarefa da Lava Jato são parceiras'

São Paulo – O jornalista e editor do The Intercept Brasil, Glenn Greenwald, respondeu os ataques da Rede Globo contra o seu caráter. De acordo com ele, a emissora, através de acusações falsas, busca desviar o foco para desviar as revelações de desvio da Operação Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro. “Entrar em disputas coma Globo, agora, seria dar gás aqueles que pretendem desviar a atenção do assunto principal: a conduta dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato e do ex-juiz e agora ministro, Moro.”

Responsável pela publicação dos vazamentos que envolvem Sergio Moro, Glenn observou que a emissora ignorou o conteúdo das revelações e buscou tirar credibilidade da reportagem.

Em entrevista à Agência Pública, o jornalista afirmou que a emissora optou por desqualificar e criminalizar a origem das informações divulgadas, e com isso minimizar a gravidade do conteúdo. “Essa é estratégia que a Globo está usando. Porque a Globo e a força tarefa da Lava Jato são parceiras. E os documentos mostram isso.”

Nesta quarta-feira (12), a emissora enviou uma nota à Agência Pública, acusando Glenn Greenwald de mentir. Ela aponta que Glenn buscou parcerias com o veículo para publicar os documentos secretos da NSA referentes ao Brasil e finalizou a nota afirmando que “o público poderia julgar o caráter” do jornalista.  “Se a avaliação dele em relação ao jornalismo da Globo e a cobertura da Lava-Jato nos últimos cinco anos é esta exposta na entrevista, por que insistiu tanto para repetir “uma parceria vitoriosa”?”, questionou a emissora.

O editor do The Intercept respondeu por meio de nota publicada em sua conta no Twitter. Fica demonstrado que a Globo teve oportunidade de fazer jornalismo, mas no lugar disso optou por continuar fazendo política. Disse que colaborou com o “Fantástico”, em 2013, mas mantém as críticas às decisões da empresa e chama de “efeito negativo para o país”. Ele lembra que voltou a oferecer parceria com a emissora no episódio das denúncias das ilegalidade da Lava Jato, pelo fato de monopolizar a mídia brasileira. “É uma realidade lamentável que, no Brasil, um órgão de mídia seja tão dominante na televisão, obrigando qualquer pessoa, que deseje atingir um público grande, a trabalhar em conjunto com eles”, explicou o jornalista.

Leia na íntegra a nota de Greenwald:

A Globo publicou ontem uma extensa nota com acusações e falsidades sobre mim. O objetivo é claro e é o mesmo que aparece em toda a cobertura da Globo sobre esse assunto: distrair a atenção da substância das reportagens que expõe sérios desvios na conduta de Moro, Deltan e a Força Tarefa da Lava Jato. Não ajudarei nesse esforço.

É verdade que colaborei com o Fantástico em 2013, enquanto trabalhávamos no caso Snowden. Os jornalistas com quem trabalhei, Sonia Bridi e sua equipe, são excelentes, e considero que desenvolvemos um trabalho de alta qualidade.

Mantenho, entretanto, minhas críticas às decisões corporativas da empresa e ao que considero que sejam os efeitos negativos da influência da Globo no país (obviamente incluindo o apoio dela à ditadura militar, para o qual pediram desculpas apenas em 2013, quando forçados a fazê-lo, mas que ainda é responsável pelos bilhões de reais em riqueza desfrutados pela família Marinho, mas muito mais danos além disso). Incluo agora em minhas críticas a cobertura que tem feito da #VazaJato, e o que ser um esforço para diminuir sua repercussão e proteger o ministro Sergio Moro e a força tarefa da Lava Jato.

A diferença em como cada meio de comunicação no Brasil e internacionalmente está reportando essas revelações, e como a Globo está fazendo isso, não poderia ser mais evidente ou óbvia. Ela fala por si.

É uma realidade lamentável que no Brasil, ao contrário de qualquer outro país no mundo democrático, um orgão de mídia seja tão dominante na televisão, obrigando qualquer pessoa que deseje atingir um público grande a trabalhar em conjunto com a Rede Globo. É por isso que trabalhei no caso Snowden com a Rede Globo e é por isso que propus que colaborássemos novamente.

Até hoje, a Globo – em contraste com muitos outros grandes jornais e revistas no Brasil e internacionalmente – continua desinteressada em obter acesso ao arquivo, e as razões me parecem claras: eles preferem abafar, ao invés de revelar, os desvios da Lava-Jato e Moro.

Todos órgãos de imprensa tem excelentes repórteres e jornalistas. Porém, ainda que esses profissionais desenvolvam um grande trabalho, é muitas vezes necessários que eles sejam amparados com uma instituição compromissada com jornalismo investigativo e destemido. Não creio ser este o caso da Globo.

Foi com essa missão que fundei o Intercept, e é esse o nosso compromisso. Entrar em disputas com a Globo agora seria dar gás aqueles que pretendem desviar a atenção do que vai ficar o assunto principal: a conduta dos procuradores da força-tarefa Lava Jato e do ex-juíz e agora ministro Sergio Moro.