Sem melindres

FHC jantou com presidenta do STF pouco depois de diálogo entre Moro e Dallagnol

Ex-presidente teve encontro secreto com ministra Cármen Lúcia em período em que denúncias de caixa 2 da Odebrecht rondavam ninho tucano

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Teor da conversa em jantar entre FHC e Cármen Lúcia foi mantida em absoluto sigilo

São Paulo – As conversas reveladas pelo The Intercept Brasil no último dia 18 mostram que o então juiz Sergio Moro preocupou-se em não “melindrar” o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O excesso de zelo de Moro parecia justificado. Menos de duas semanas depois de aparecer na Operação Lava Jato, FHC encontrou-se com a então presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia.

Eles tiveram um “jantar secreto”, no dia 25 de abril de 2017, conforme publicou a blogueira Helena Sthephanowitz, na RBA, há pouco mais de dois anos. Seu texto lembra que o “misterioso” compromisso não constava da agenda da ministra e que o teor da conversa foi mantido em absoluto sigilo, o que o torna “inadequado, para dizer o mínimo”.

Dias antes, em 13 de abril, se dava a conversa entre Moro e Dallagnol. O então juiz queria saber se as suspeitas contra o ex-presidente eram “sérias”, e se o caso não estaria “mais do que prescrito”, pois envolviam denúncias de recebimento de caixa 2 da Odebrecht, nas eleições de 1994 e 1998, vencidas pelo tucano.

Dallagnol então confirma que o processo contra FHC foi mandado de Curitiba para o Ministério Público Federal de São Paulo sem análise sobre a prescrição, supostamente “de propósito”, segundo ele, “talvez para passar recado de imparcialidade”. Moro então reclama: “Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante”.

Como ex-presidente, FHC não já não tinha foro privilegiado. Logo, não seria julgado pelo STF. Mas, segundo a jornalista e blogueira, o grão-tucano estaria atrás de proteção para integrantes de seu partido. O PSDB, naquele momento, contava com quatro deputados e três senadores investigados pelo Supremo – entre eles, dois presidenciáveis, Aécio Neves (MG) e José Serra (SP).

Mais recentemente, FHC retribuiu o tratamento especial dispensado pela juiz da Lava Jato. Em mensagem pelo Twitter na sexta-feira (21), o ex-presidente declarou que Moro “se saiu bem” em audiência no Senado, quando tratou de criminalizar os vazamentos das conversas, negando a veracidade dos conteúdos e classificando como “sensacionalismo” a divulgação do material pelo Intercept Brasil.

Passado o risco de melindre, FHC afirmou que “havia mais vontade de destruir e abalar a Lava Jato que de compreender” o conluio entre Moro e os procuradores. A preocupação com a imagem e o humor do ex-presidente não foi exclusividade de Sergio Moro. Um ano antes do jantar com Cármen Lúcia, Fernando Henrique prestou depoimento à Polícia Federal sobre o caso de suspeita de remessa ilegal de dinheiro envolvendo a ex-namorada Miriam Dutra. “Não teve circo, jornalistas correndo atrás do carro, cobertura para TVs, não teve helicópteros e quase passou despercebido”, observou à época a blogueira.

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