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Moro ataca vazamentos, e opositor lembra: ‘Quem com ferro fere, com ferro será ferido’

Em audiência na CCJ do Senado, o ministro atacou os vazamentos da #VazaJato, enquanto tentou justificar diálogos como normais, sem atestar veracidade

Reprodução/tv senado
Reprodução/tv senado
'Qual o interesse público que o site propõe na divulgação dessas mensagens hackeadas ilegalmente? Impedir investigações?', atacou Moro

São Paulo – A sessão da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado acabou após mais de oito horas de duração e embates entre parlamentares e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Ele prestou esclarecimentos sobre relacionamentos possivelmente indevidos e promíscuos com integrantes do Ministério Público durante a Operação Lava Jato, quando atuou como juiz federal. A parte final da audiência foi marcada por poucos questionamentos e mobilização da base de apoio do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), para fazer elogios ao ministro.

O senador Paulo Rocha (PT-PA), porém, questionou os métodos do então magistrado. “A Lava Jato misturou Justiça com política e disputa de poder (…) Esses métodos usados por setores da Justiça interromperam um processo que estava sendo construído no país. Gostem ou não, estava sendo construído um Estado social. A partir da democracia, criamos condições para o desenvolvimento do cidadão mais simples; mais casa, mais universidades, saúde e educação”, disse.

Sobre o escândalo que ficou conhecido como Vaza Jato, dos conteúdos divulgados pelo The Intercept Brasil, Moro se defendeu o tempo todo, dizendo que nada do que vazou é ilegal, ao mesmo tempo que questionava a veracidade dos conteúdos. O ministro defendeu que os vazamentos foram ilegais e feriram a privacidade dele e de outros agentes públicos, ao classificar a ação como criminosa. Rocha ironizou: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Sensacionalista

Moro ainda chamou várias vezes o The Intercept Brasil de “sensacionalista” na divulgação das conversas. Entretanto, foi lembrado por Rocha de que vazar diálogos foi um método amplamente utilizado pela Lava Jato contra o PT. “Essa situação o senhor está passando. Vejo aqui os métodos que o senhor utilizou. O senhor falou de sensacionalismo. A Lava Jato tinha como mote para ganhar apoio popular o sensacionalismo. Antes de chegar a PF, estavam lá a Globo e a grande imprensa. Agora mesmo com o ex-presidente Temer (Michel), para prendê-lo, fizeram o esquema sensacionalista”, disse o senador.

O ministro atacou ainda mais os jornalistas, ao dizer que eles “queriam se fazer de vítimas”. “Tenho a impressão que eles gostariam de ter mandados de busca e apreensão para criticar o malvado governo do presidente (Bolsonaro). Qual o interesse público que o site propõe na divulgação dessas mensagens hackeadas ilegalmente? Impedir investigações? Esses são os princípios desse site?”

Duas medidas

O líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ressaltou que sempre foi um defensor da Lava Jato, mas questionou a imparcialidade de Moro. Ele destacou que o ministro sempre fala de corrupção no passado, como se todos os problemas tivessem sido solucionados no presente. “O senhor disse que a corrupção “estava”, no pretérito perfeito. Mas ainda está. Tem ministro envolvido em escândalo de laranjas, tem denúncias de caixa 2. O ministro do Meio Ambiente é denunciado por crime ambiental.”

Por fim, Randolfe disse, em tom de lamento, que Moro “poderia passar como personagem histórico de combate a corrupção”. “O senhor optou por servir apenas a um governo desastrado, que não é imune à corrupção.”

Fora do eixo

Um dos pontos mais inusitados ficou por conta do senador Chico Rodrigues (DEM-RR). Ele rasgou elogios ao ministro, falou sobre seus pais e, por fim, atacou a liberdade de imprensa. Disse que o Intercept Brasil deveria ser “combatido” e pediu a ajuda de Moro contra venezuelanos em seu estado: “Temos 50 mil venezuelanos assombrando nossa capital em Roraima, eles não dão paz para nossa população. Gostaríamos de pedir apoio”.