Na nova era

Bolsonaro se aproxima de ala militar mais ‘entreguista’: ‘Ideia de sucatear para privatizar’

Cientista político Paulo Niccoli Ramirez analisa a demissão do general Santos Cruz e a nomeação de comandante da ativa. "Cúpula militar que não tem projeto de nação"

Antonio Cruz/EBC
Antonio Cruz/EBC
Bolsonaro afirmou que irá demitir também o general Juarez Cunha, presidente dos Correios, por se opor à privatização da estatal

São Paulo – Não mais um general da reserva, mas um comandante da ativa faz parte agora do governo de Jair Bolsonaro desde que o presidente substituiu o então ministro da Secretaria de Governo, o general Santos Cruz, pelo comandante militar do Sudeste, Luiz Eduardo Ramos. Alvo de ataques do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho e dos filhos de Bolsonaro, Santos Cruz sai, em parte, devido à dificuldade do governo em estabelecer uma comunicação mais efetiva com a mídia tradicional e com o próprio Congresso Nacional, mas também revela uma proximidade preocupante com a ala ativa do Exército, como avalia o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) Paulo Niccoli Ramirez.

“Não me parece algo muito saudável, ainda mais que os interesses dos militares, por exemplo na questão da Previdência, podem estar acima do interesse do resto da sociedade. E não só na área da Previdência, mas em áreas estratégicas, como as privatizações. E é muito estranho esse fenômeno que vem ocorrendo com o Exército”, avalia o professor em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

De acordo com Ramirez, o Exército sempre foi dividido entre uma ala mais internacionalista, próxima das forças estadunidenses, e uma mais nacionalista, que “por mais problemática que seja a participação de militares na política”, como ressalta o professor, defendia as empresas estatais e os direitos trabalhistas, ala que vem perdendo sua força. “Da década de 1990 em diante o Exército tem se mostrado mais entreguista”, afirma. “Então, a gente vê isso não só com Bolsonaro, mas com toda a cúpula militar atual, que não tem projeto de nação, não tem projeto de civilidade para o nosso país e temos visto um sucateamento das esferas e instituições públicas. A ideia de sucatear é sempre para privatizar.” 

Não à toa que em um café da manhã com jornalistas nesta sexta-feira (14), em meio à greve geral que paralisa o país, o chefe do Executivo disse que demitirá o presidente dos Correios, general Juarez Cunha, por agir como “sindicalista” ao se opor à proposta de privatização da estatal feita por Bolsonaro. “A médio e longo prazo essas reformas e privatizações serão verdadeiras catástrofes para a sociedade, e o próprio governo irá carecer de recursos que poderiam ser oriundos dessas estatais também”, projeta Ramirez.

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