Revelações

“A expressão ‘o rei está nu’ nunca foi tão apropriada”,diz Kakay sobre Moro e Dallagnol

"É assustador. Estou neste momento em Paris, tive várias reuniões, e a perplexidade é geral. Eles estão sendo desmantelados e, pelo que ouço dizer, serão mais ainda", diz criminalista

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"É óbvio que ele é que ganhou a eleição. E aceitou ser ministro do presidente que elegeu", diz criminalista

São Paulo – “As revelações só vêm confirmar aquilo que nós, advogados, falamos há tempos sobre a fragilidade técnica e até moral dessas investigações (da Lava Jato). Acho que é desmoralizante para ele e para o Ministério Público. A expressão ‘o rei está nu’ nunca foi tão apropriada”, diz o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, sobre as conversas do ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro com o procurador Deltan Dallagnol, reveladas pelo Intercept Brasil. “Há três anos eu corro o país para dizer dos excessos e dos absurdos das prisões preventivas. Eles acabaram com o instituto da delação premiada, mas não imaginava que poderiam chegar a tanto.”

Para Kakay, Moro fez uma “estratégia de promoção” com a operação Lava Jato e “cooptou três ou quatro procuradores”. “Estão sendo desmantelados e, pelo que ouço dizer, serão mais ainda. Mas não precisava nada, bastava (conhecer) a estratégia de ele ter aceitado conversar sobre o Supremo, ainda como juiz que determinou a prisão do principal opositor do atual presidente, para demonstrar quem é a pessoa, quais os limites que essa pessoa tem”, afirma. “Essas matérias todas são assustadoras, porque é muito ruim que se tenha essa promiscuidade entre a Procuradoria da República e um juiz que está julgando um caso criminal e botando pessoas na cadeia. É assustador. Estou neste momento em Paris, tive várias reuniões, e a perplexidade é geral.”

Na opinião do advogado, Moro é “muito fraco” juridicamente para chegar ao Supremo Tribunal Federal e sua verdadeira intenção é ser presidente da República. A conduta de Moro coordenando uma investigação, “dando ordem” ao procurador Deltan Dallagnol sobre como determinada testemunha deve ser instruída, formam um conjunto de fatos “humilhantes” para o Judiciário, avalia Kakay. “O poder judiciário não merece isso, porque é composto de juízes sérios, na sua quase totalidade.”

“Ele quer ser presidente da República, só que foi pelo caminho errado. Foi com o autoritarismo que lhe é peculiar, e aceitou ser ministro de um governo que ajudou a eleger. Ele prendeu, e agora se demonstra que prendeu sem prova, de forma ardilosa, o principal opositor do atual presidente”, diz Kakay, que define a atuação do então juiz como alguém “que se julgava um semideus e achava que tinha jurisdição nacional”. O advogado acrescenta: “Não sou lulista, nem sou petista, mas é óbvio que ele é que ganhou a eleição. E aceitou ser ministro do presidente que elegeu.”

O criminalista também comentou a manifestação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo o qual “o vazamento de mensagens entre juiz e promotor da Lava-Jato mais parece tempestade em copo d’água”. “Fico espantado que uma pessoa que respeito, como Fernando Henrique, tenha a coragem de minimizar a gravidade dessas gravações. Até porque não temos a exata noção daquilo que está gravado. Vão vir ainda certamente muitas outras gravações. Tenho curiosidade de saber o que ainda virá. E tenho preocupação. Sou um homem que respeita o Judiciário e o Ministério Público Federal”, diz Kakay.

O jornalista Glenn Greenwald, do Intercept Brasil, afirmou que possui “conversas que ainda não reportamos sobre o Moro estar pensando na possibilidade de aceitar uma oferta do Bolsonaro, caso ele ganhasse. Isso foi antes da eleição, acho que depois do primeiro turno”.

O próprio Moro divulgou nota na qual afirma que “não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado” nas mensagens divulgadas. Também lamentou “a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores”.

Membros do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) encaminharam pedido à Corregedoria do órgão, nesta segunda-feira (10), de investigação da conduta e do conteúdo das conversas feitas pelo procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz Sergio Moro.

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