Em curitiba

Lula, Bresser e Celso Amorim conversam sobre reconquista da soberania nacional

'Está claro para ele que o Brasil está sendo violentamente atacado por um governo que não respeita a nação e é preciso nós, brasileiros, e não só a esquerda, nos defendamos contra isso”, disse Bresser

Joka Madruga

Amorim e Bresser destacaram a importância de Lula como líder capaz de dialogar com todas as forças

São Paulo – Após visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba, no fim da tarde desta quinta-feira (16), os ex-ministros Celso Amorim e Luiz Carlos Bresser-Pereira ressaltaram que Lula está muito preocupado com a soberania do país. Bresser contou que, apesar de ter levado a Lula o livro de sua autoria A Construção Política do Brasil, “não precisa dizer nada a ele sobre soberania”. Em coletiva após a visita, ambos destacaram a importância da união das forças democráticas para o país voltar a ser soberano.

“Está claro para ele que o Brasil precisa de uma união maior, que (o país) está sendo violentamente atacado por um governo que não respeita a nação e é preciso que nós, brasileiros, e não só o PT e não só a esquerda, nos defendamos contra isso”, disse Bresser. “Soberania não é só uma ideia de desenvolvimento econômico, é preciso também defender a saúde, a América Latina, o Mercosul.”

Segundo Amorim, Lula ainda “terá grande papel na política brasileira, na defesa do povo, mas como um homem que será capaz – e isso é convicção minha – de dialogar com todas as forças, porque, para exercer a soberania, nós precisamos de todas as forças nacionais: do povo pobre obviamente, mas também das classes médias”.

Os ex-ministros foram a Curitiba como “representantes de um certo movimento que é esse projeto Brasil Nação, que tem muito a ideia da defesa da soberania”, disse o ex-ministro das Relações Exteriores. Bresser é autor dessa proposta, que trabalha a ideia de se construir uma nação soberana – sob premissas políticas e econômicas – que supere a estagnação da economia e a derrocada do setor industrial. 

Segundo Amorim, transpareceu no diálogo e nas palavras de Lula “a centralidade do problema da soberania”, embora o ex-presidente não tenha transmitido uma mensagem específica nesse sentido. “Está muito claro para ele que os problemas do Brasil, inclusive sociais, não serão resolvidos se o país não for soberano. Por isso ele se preocupa muitíssimo com a educação, que está sendo atacada de maneira brutal (pelo governo Jair Bolsonaro)”, afirmou o ex-chanceler.

“É muito importante a defesa da educação no contexto da soberania nacional. Não se pode permitir que a educação, a ciência e a tecnologia sejam destruídas”, continuou. Segundo ele, a soberania não é contraditória com a solidariedade, mas é contraditória com a subserviência a uma potência estrangeira. “O que infelizmente temos assistido hoje.”

Bresser declarou não ter dúvida de que Lula é um preso político. “Isso para mim ficou muito claro quando houve a condução coercitiva dele (4 de março de 2016).” Na época, lembrou, a Lava Jato divulgou uma nota responsabilizando Lula como principal beneficiário da corrupção que havia no Brasil, relativamente à Petrobras. “Isso é um absurdo, uma coisa sem pé nem cabeça. O que a Lava Jato estava fazendo era tentar obter o apoio dos neoliberais, das elites brasileiras que adotaram uma posição muito irracionalmente contra o PT e o Lula.”

De acordo com Bresser, o PT é um partido “muito importante para o país, como era o PSDB”. “O que estamos vendo é a destruição do PSDB, quase a destruição do PT, mas ele sobrevive.” Todo o atual quadro adveio da violência contra os direitos por parte da força tarefa da Lava Jato, acredita. “Mas a violência não é só contra Lula, porque houve muitos outros políticos que também foram justiçados pela operação, como houve alguns que foi ótimo que fossem presos, porque são desonestos.”

A interpretação de Bresser é de que o mal que a Lava Jato fez à política brasileira e à economia do país passa não apenas pela violência jurídico-política como pela economia, já que “as empreiteiras eram um ativo nacional que foi em parte destruído”. “A quem interessa isso? Aos nossos concorrentes, aos países ricos. Por isso Lula está comprometido com a ideia de soberania.”