Crise interna

No pano de fundo da disputa entre militares e olavistas está a incapacidade de Bolsonaro

'Ele não tem a menor condição de ser um polo neutro para conseguir articular posições', avalia professor Vitor Marchetti, ressaltando que o próprio governo produz o caos em sua gestão

Valter Campanato/Abr

“O governo começa a derreter pela sua própria incapacidade de estabelecer suas relações”, garante professor

São Paulo – Na análise do professor e cientista político da Universidade Federal do ABC (UFABC) Vitor Marchetti, mais do que a disputa de poder entre militares e olavistas, o que ganha maior projeção no governo de Jair Bolsonaro é a “incapacidade” do presidente da República em mediar os diferentes grupos de interesse em torno de seu mandato.

“Ele (Bolsonaro) não tem a menor condição de ser um polo neutro para conseguir articular posições. Temos visto isso em várias frentes e, agora, nesse conflito que a gente não tem previsão de quando vai ser pacificado”, afirma o docente em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

Com pouco mais de quatro meses de governo, as disputas internas entre a ala dos militares, que compõe a maior parte dos altos cargos no plano federal, com o setor olavista, composto por seguidores do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, vem tomando a esfera pública.

As mais recentes polêmicas em torno desses núcleos dão conta da insatisfação dos olavistas com a atuação do ministro Santos Cruz à frente da comunicação governamental, mas têm início a partir das indicações para o Ministério da Educação. Além também de uma suposta conspiração da ala militar para derrubar Bolsonaro, tese que, como as outras, vem sendo defendida pela ala dos apoiadores de Olavo de Carvalho, que tem o vereador Carlos Bolsonaro nas suas fileiras.

Soma-se ainda a essa disputa a demissão de Letícia Catelani da diretoria da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Apoiadora do “guru” dos Bolsonaro, a destituição motivou uma mobilização dos apoiadores do ideólogo nas redes sociais. “Você está mexendo com interesses dos atores e dos agentes econômicos por causa de uma agenda ideológica pobre”, avalia Marchetti sobre a situação. 

“O governo começa a derreter pela sua própria incapacidade de estabelecer suas relações com o Congresso e com o gabinete do Executivo”, ressalta o docente, considerando ainda que o governo está “deliberadamente produzindo o caos”. 

Ouça a entrevista

Você pode conferir a partir de 1:03:13

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