Insatisfação

Capital político de Bolsonaro se deteriora, e atos de rua tendem a crescer

Para o cientista político Vitor Marchetti, agenda do governo federal não desperta otimismo na sociedade. 'O discurso de desmonte tem um efeito bastante mobilizador', avalia

Pedro Rocha

Atos do dia 15 de maio levaram mais de um milhão de pessoas às ruas. Nova manifestação está marcada para junho

São Paulo —A mobilização da sociedade civil, evidenciada nas grandes manifestações do dia 15 de maio, diante de um governo federal que ainda não completou nem seis meses de mandato, é um sinal relevante da atual situação do presidente Jair Bolsonaro (PSL), segundo análise do professor e cientista político da Universidade Federal do ABC (UFABC) Vitor Marchetti.

Para ele, os atos realizados em todo o país demonstram que a “lua de mel” do governo após a vitória na eleição presidencial “não durou nada”, ainda que o núcleo duro do bolsonarismo tente rotular as manifestações como tendo sido feitas por uma esquerda inconformada com a eleição do atual presidente.

“Qualquer um que esteve presente no 15 de maio sabe que, de fato, os partidos e sindicatos que sempre se opuseram ao Bolsonaro estão nas ruas, mas a ‘bolha’ está furada, a sociedade civil não vinculada aos partidos tradicionais também estava na rua. E isso tende a produzir um engajamento maior, na medida em que o governo não oferece respostas concretas para os problemas que estão aí”, explica Marchetti, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.

Como exemplo de problemas concretos e para os quais o governo de Bolsonaro não indica saídas, ele cita as altas taxas de desemprego e a estagnação da economia. “O que se vê do governo não é uma agenda que desperte otimismo do cidadão médio, que olhe para essa agenda como capaz de superar a crise”, afirma.

Segundo o professor da UFABC, por um lado as propostas do ministro da Economia, Paulo Guedes, só falam de cortes no orçamento, enquanto nas áreas de saúde e educação não há ideias propositivas.

“A gente só vê um discurso de desmonte. Esse discurso de desmonte vai produzir efeitos perversos para a sociedade brasileira, e isso tem um efeito bastante mobilizador”, pondera, destacando que a tendência é os movimentos de rua crescerem. “Estamos presos numa situação de crise econômica, estrutural e, fundamentalmente política que a gente não consegue superar. E não há no horizonte qualquer sinal de que vá superá-la, porque os atores que seriam responsáveis por produzir a estabilidade do país não parecem estar muito dispostos a isso.”

Na entrevista, Marchetti avalia que a briga de Bolsonaro, em Dallas, com a repórter Marina Dias, do jornal Folha de S.Paulo, é mais um indício de como o presidente trata os meios de comunicação há algum tempo, comportamento que tem lhe causado perda de apoio na mídia comercial – que, tradicionalmente, defende a agenda liberal e apostou na candidatura do presidente.

Assista à íntegra da entrevista

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