Viagem

Rejeição a Bolsonaro no Nordeste se deve a ataques a programas sociais, diz professor

Hostilidade ao Bolsa Família quando era deputado pesam na avaliação do presidente na região onde registra os maiores índices de rejeição, afirma sociólogo Paulo Silvino

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro foi duas vezes aos Estados Unidos antes de visitar o Nordeste Brasileiro

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) deve visitar nesta sexta-feira (24) as cidades de Recife e Petrolina, em Pernambuco. É sua a primeira viagem ao Nordeste à frente do governo. A visita é marcada pelo clima de hostilidade de parte da população nordestina, onde Bolsonaro registra os maiores índices de rejeição – 39% avaliam o governo como ruim ou péssimo, segundo pesquisa Datafolha de abril. Para o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) Paulo Silvino, a insatisfação se dá por suas manifestações contra as políticas sociais, como o Bolsa Família,  desenvolvidas nos governos do PT que tiveram grande impacto na região.

“Sempre que teve oportunidade, Bolsonaro demonstrou ou algum tipo de preconceito ou insensibilidade com as políticas sociais dos governos anteriores”, afirma o professor, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, também nesta sexta-feira. Na concepção do presidente, seriam manipulados eleitoralmente por ações de um Estado paternalista.  Silvino destaca também a visita tardia do mandatário ao Nordeste brasileiro, tendo preferido viajar duas vezes aos Estados Unidos e a Israel, antes de contemplar a região.

“Se fosse ele, não criaria muitas expectativas. O povo nordestino é inteligente, trabalhador, aguerrido e, evidentemente, não só já se mostrava contrário à sua candidatura, como agora, avaliando o péssimo desempenho que o governo vem tendo, não vai estar muito aberto a essa visita”, afirmou o professor.

Manifestações do domingo

Já sobre as manifestações convocadas pelo próprio presidente para o próximo domingo (26), em apoio ao seu governo e contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), Silvino diz que “fazem parte da democracia”, ainda que atentem contra as instituições democráticas, o que explicita uma contradição no discurso e na ação de grupos de extrema-direita.

Os ataques a essas instituições servem para Bolsonaro terceirizar a culpa da sua falta de habilidade política. Segundo o professor, o presidente escolheu figuras que são “absolutamente desconsideradas” pelo conjunto da classe política como capazes de fazer a interlocução do governo com o Congresso. Nesta semana, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a anunciar que rompeu relações com o líder do governo na Casa, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO).

“Bolsonaro, como não consegue governar, como não tem habilidade, precisa achar culpados. E se utiliza do discurso de que tudo que está ligado ao Estado não presta.” Silvino diz que prefere não fazer apostas, mas acredita que as manifestações do domingo não devem alcançar as dimensões daquelas realizadas durante a campanha eleitoral, no ano passado, em favor da candidatura Bolsonaro, ou ainda àquelas que pediam o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, ao longo de 2016.

Ouça a entrevista na íntegra