Interesses escusos

Bolsonaro faz ‘jogada política’ ao acenar cargo no STF para Sergio Moro

Na Rádio Brasil Atual, sociólogo e professor Paulo Silvino comenta promessa de Bolsonaro em indicar atual ministro da Justiça e Segurança Pública à mais alta instância do Judiciário do país

José Cruz/Abr

Indicação passa por cima de medida apoiada pelo próprio ministro Sérgio Moro no pacote Anticorrupção

São Paulo – Por trás do anúncio feito pelo presidente Jair Bolsonaro, prometendo indicar o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ao Supremo Tribunal Federal (STF), há uma certa “jogada política”, de acordo com o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP). Em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual, o doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pondera duas vantagens buscadas por Bolsonaro no que considera como encenação, devido aos constantes recuos do governo, na escolha por Moro.

“Isso pode render politicamente para o Bolsonaro já que uma parte da população acredita que Moro seja de fato o grande homem que defenda a luta contra a corrupção. Ou seja, indicá-lo é assinar, fazer uma demonstração, do quanto ele continua defendendo o mesmo discurso de campanha”, avalia Silvino.

A segunda vantagem listada pelo professor dá conta de um processo futuro, as eleições, sendo a promessa, nesse caso, uma espécie de jogada para impedir o ministro da Justiça como um concorrente. “O Moro poderia, em tese, ser candidato à presidência. Eu acredito que ele tenha pensado nisso, mas falta coragem para assumir”, ressalta.

Mas, para além das vantagens que poderiam estar sendo buscadas pelo presidente da República, o aceno de Bolsonaro ao seu ministro dá força ao processo de sobreposição dos interesses pessoais na política, como avalia Silvino ao considerar a promessa como uma revelação do que se buscava com a bandeira contra a corrupção e Lava Jato que “fez uma espécie de justiçamento a todo custo, com resultados e desdobramentos políticos”, segundo o professor.

Silvino cita como exemplo o apoio de Moro a uma medida prevista no Pacote Anticorrupção, que impede a indicação ao Supremo de membros do governo nos últimos quatro anos, relativizada agora. “Incoerentes seríamos nós se buscássemos coerência neles. É muito curioso que mesmo que eles falem em nome da Constituição, que tentem defender o primado da lei, o tempo todo parece que não a consideram”, rebate Silvino.

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