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Ruas no entorno da PF são tomadas pelas caravanas que cobram Lula livre

Polícia parecia não esperar multidão que chegou a Curitiba para protestar contra a prisão política do ex-presidente, que neste 7 de abril completa um ano

ricardo stuckert

A evocação por Lula livre era entoada a todo momento: um jeito de talvez se fazerem ouvir pelo ex-presidente.

Curitiba – Às 6h30 da manhã, horário marcado para a concentração das caravanas no terminal Boa Vista, em Curitiba, seria impossível imaginar que tanta gente dedicaria o 7 de abril de 2019 a protestar contra este um ano da prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A garoa fina e a brisa fria gelavam quem descia dos primeiros ônibus que chegavam à capital paranaense.

Mas o quadro não demorou a mudar, assim como o tempo. Ao longo da passeata que a partir das 8h percorreu 3,5 quilômetros até o bairro de Santa Cândida, mais e mais gente foi chegando. O tempo firmou, o solzinho apareceu e o calor surpreendeu quem trocou o conforto do dia de descanso pela luta. A organização do ato avalia que mais de 10 mil pessoas reuniram-se nas ruas do entorno do prédio da Polícia Federal na capital paranaense. 

Djalma Bom, “companheiro do presidente Lula com muita honra”, aos 80 anos venceu os 440 quilômetros entre São Bernardo do Campo e Curitiba “com disposição muito grande para libertar esse companheiro que é um preso político”. Ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Djalma relatava, durante a passeata, a tristeza que a ausência de Lula representa para a classe trabalhadora. “Mas a gente continua insistindo e esse país vai ter de novo a presença do companheiro Lula liderando os grandes movimentos, ao lado das pessoas mais pobres, as pessoas que precisam dele.”

Dirceu Lopes, em uma caravana de Rio Grande e Pelotas (RS), ressaltava a importância de participar “desse grande protesto nacional” pela libertação de Lula, pelo restabelecimento da verdade diante de uma condenação sem provas.

O administrador de 61 anos, filiado ao PT desde a fundação, afirma sentir grande responsabilidade de estar nessa luta. “Foi um ano muito difícil, um ano em que todos nós que entendemos a questão do golpe, sabemos o que foi preparado para a retirada de Lula da disputa. Todo país perdendo credibilidade nacional e perdendo grande parte do que conquistou, da cidadania. As pessoas vêm por isso. Porque veem no Lula a possibilidade de retomarmos o processo de um país que tenha liberdade, oportunidades. Que possa ser colocado de volta nos trilhos do desenvolvimento socioeconômico.”    

Os paulistanos Camila Sanches e Clóvis Girardi decidiram vir a Curitiba por conta própria. “A gente estava adiando essa viagem já há algum tempo”, relata o estudante de Planejamento Territorial da UFABC. “Não é uma viagem de passeio, viemos com um propósito maior”, destaca Camila, que faz Direito no Mackenzie. “A gente veio prestar solidariedade ao presidente e registrar que o que está acontecendo é absurdo, injusto, dolorido”, disse a jovem de 21 anos. “Muito”, afirmou Clóvis, que aos 24 anos relata as dificuldades vividas na universidade pública diante do corte de recursos acarretado pela PEC da Morte. “É um movimento que tende a se expandir, que piore nos próximos anos.”

Camila, que estuda numa faculdade mais “conservadora”, conta que o espaço democrático acaba sendo “diminuto”. “Hoje a gente tem um representante maior que não tolera a diversidade e as pessoas se sentem no direito de não tolerar também. Mas a gente está aí para debater isso também e falar ‘ele não’ e ‘ele não no Mackenzie inclusive”, disse, orgulhosa do movimento que ajudou a liderar e acabou por proibir a visita do presidente Jair Bolsonaro à universidade no dia 27 de março.

A eterna noite espera um novo amanhecer

A chegada da passeata à Vigília Lula Livre enfrentou um percalço. Apenas uma das quatro ruas que dão acesso ao prédio da Polícia Federal estava liberada. Agravando a confusão, cerca de duas dezenas de policiais formavam dois corredores humanos nos quais os milhares de manifestantes deveriam se afunilar para passar por uma revista feminina e masculina. 

Quando a confusão parecia que ia se instalar, aos gritos de “libera” do povo que se acumulava na avenida que leva à rua Sandália Manzon, os policiais tiveram de capitular. Não tinham uma estrutura suficiente para tantos milhares de pessoas e a revista foi cancelada.  

No terreno da Vigília Lula Livre – que neste domingo também completa um ano de resistência – um palco foi montado. Parlamentares, representantes dos movimentos social e sindical dividiam o espaço e o microfone com músicos que homenageavam o ex-presidente tocando principalmente clássicos sertanejos, suas canções favoritas.  

A evocação por Lula livre era entoada a todo momento e muitos se viravam, no meio dos discursos, para soltar seu próprio grito em direção ao prédio da PF. Um jeito de talvez se fazerem ouvir pelo ex-presidente.

O ambiente alegre, quase festivo, contrastava com as falas emocionadas, e com os olhos que frequentemente teimavam em derrubar algumas lágrimas, transbordando a raiva diante da prisão injusta.

“Não me conformo”, “é muita injustiça”, “temos de tirar ele de lá”, “solta o Lula” são algumas das frases ouvidas, das mais diferentes vozes, quando se caminha no meio da multidão compacta que cercava o palco e o prédio da PF. Idosos, jovens, famílias inteiras carregavam faixas, bandeiras, cartazes com recados para o ex-presidente.

A professora Marluce Magno tinha o seu e conta que está nas ruas desde as primeiras ameaças contra a presidenta Dilma Rousseff. “A prisão de Lula foi uma coisa inacreditável, ninguém pensou que conseguiriam sustentar isso por tanto tempo”, afirma a carioca que veio de Valença para a vigília que sempre quis visitar. “A gente fica sofrendo, acompanhando de longe cada bom dia, boa tarde, boa noite na vigília. Hoje estou aqui, finalmente. A gente tem a sensação de que estando aqui nesse ato de solidariedade, estamos levando pra ele, que está trancado, encarcerado, uma mensagem de solidariedade”, disse emocionada.

Marluce deixou uma comemoração de casamento de uma sobrinha para estar com Lula nesse 7 de abril. “Ela entende. Sabe o que é essa angústia muito grande, é como viver numa eterna noite”, afirmou, para manifestar esperança em relação ao futuro. “A despeito de toda luta que ainda virá, quando deixarem ele livre será um novo momento, um novo amanhecer.”

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