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Bolsonaro é suspeito de fraude na contratação de assessoras parlamentares

Reportagem da Agência Pública revela que cinco funcionárias do gabinete do agora presidente nunca pisaram na Câmara durante o último mandato de Jair Bolsonaro como deputado

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Assessor de Bolsonaro disse que funcionários em cargos de comissão podem trabalhar até dormindo

São Paulo – Pelo menos cinco assessoras parlamentares do então deputado federal Bolsonaro (PSL) passaram os últimos quatro anos da legislatura anterior (2015-2019) sem ter ido à Câmara dos Deputados uma só vez, mesmo recebendo salários que variavam de R$ 1.023 a R$ 4.188. Segundo o repórter Adriano Belisário, da Agência Pública, elas sequer tinham crachá de funcionária nem foram registradas como visitantes durante o período. 

As supostas assessoras fantasmas – suspeitas de receberem sem trabalhar – são Bárbara de Oliveira Ferraz, de 34 anos, Denise Marques Felix, de 61 anos, Patrícia Cristina Faustino de Paula, de 31 anos, Dulcineia Pimenta Peixoto, de 59 anos e Mirian Melo Lessa Glycério de Castro, de 43 anos.

De acordo com a reportagem, todas as cinco assessoras teriam atuado com o atual presidente por pelo menos sete anos, e foram exoneradas entre 2016 e 2018. Assessores podem trabalhar fora dos gabinetes, nos estados de origem dos deputados. O cumprimento da carga horária trabalhada é de responsabilidade dos próprios parlamentares. Mas, mesmo em nesse caso, o normal é que esses assessores passem pela Câmara em datas específicas, como a posse do mandato ou reuniões estratégicas. 

As informações sobre as ausências e a inexistência de credenciais foram obtidas via Lei de Acesso à Informação (LAI) e reforçam suspeitas de que elas recebiam sem trabalhar, e se somam a casos do mesmo tipo já conhecidos, como da assessora Walderice Santos de Conceição, a “Wal do Açaí”, que vendia a vitamina de fruta em Angra dos Reis, enquanto era paga pela Câmara para trabalhar para Bolsonaro.

Outro caso é de Nathalia Queiroz, então nomeada como sua secretária parlamentar, mas trabalhava como personal trainer de famosos, no Rio de Janeiro. Ela é filha de filha do motorista Fabrício Queiroz, que trabalhou como assessor do deputado estadual e senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente. 

Quando a Pública tentou ouvir Miriam, uma das assessoras ausentes, quem respondeu foi Waldir Ferraz, assessor de imprensa de Bolsonaro. Após alegar que estariam “inventando um monte de histórias” e “tentando derrubar o presidente”, ele afirmou que Miriam trabalhava no Rio de Janeiro, atendendo a demandas de eleitores militares. “Todos os funcionários do gabinete trabalharam com assuntos militares, fatalmente”, disse Ferraz.

Ferraz também explicou que funcionários contratados em cargos de comissão podem “trabalhar dormindo”. Ele afirmou que também conseguia entrar na Câmara sem apresentar crachá porque “conhece todo mundo”. Já a Câmara negou tal possibilidade, alegando que só é possível acessar a Casa com crachá, bottom parlamentar ou adesivo de visitante, que exige cadastramento. 

Patrícia Cristina, que recebia o maior salário entre as supostas funcionárias fantasmas, atualmente trabalha como assessora do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente. Ela confirmou ter trabalhado como assessora de Bolsonaro pai, mas não comentou a ausência na Câmara. “Nada a declarar. Passar bem.” Outra assessora que se recusou a comentar o foi Dulcineia Pimenta. As demais não foram encontradas pela reportagem.

 

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