Continência

Visita à CIA expõe submissão de Bolsonaro aos interesses dos Estados Unidos

Fora dos compromissos oficiais, presidente Jair Bolsonaro visitou agência de informação, acusada de espionagem - inclusive pelo Brasil –, em visita diplomática ao país chefiado por Donald Trump

Reprodução

Na CIA, presidente se reuniu ainda com diretora acusada de tortura. Professor analisa postura de “subserviência”

São Paulo – A visita fora da agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro à Agência Central de Inteligência (CIA) em viagem aos Estados Unidos, nesta segunda-feira (18), expõe uma postura de “subserviência vergonhosa” do governo brasileiro aos Estados Unidos, como observa o professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Williams Gonçalves, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual. “Todos que conhecem o processo histórico, que estudam os acontecimentos da América Latina, sabem da importância que a CIA tem na ação política, terrorista, subterrânea, contribuindo decisivamente, senão diretamente, para a derrubada de governos, promoção de insurreições, sempre atendendo aos interesses dos Estados Unidos”, explica o docente.

Fora dos compromissos oficiais, apenas quatro horas depois da repercussão da visitação à CIA, a assessoria da Presidência da República divulgou-a como parte da agenda de tratativas de combate ao crime organizado, narcotráfico e à situação da Venezuela, algo que, no entanto, nunca havia sido feito antes por outros Chefes de Estado, como ressalta o diplomata Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores no governo Lula à Deutsche Welle.

Bolsonaro estava acompanhado do ministro da Justiça, Sergio Moro – que assinou um acordo de cooperação entre as polícias federais do Brasil e dos EUA, o FBI, e do deputado federal e seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), que chegou a qualificar a CIA como uma das agências “mais respeitadas do mundo”.

Há informações ainda de que o presidente se reuniu com a diretora da instituição americana, Gina Haspel, acusada de ser responsável por prisões secretas e de promover a tortura como método no tratamento dos detidos.

Para Gonçalves, na prática, a ida de Bolsonaro à CIA é um ato ato de desprestígio à Agência de Inteligência Brasileira, a Abin, e ao próprio país e deveria ser questionado pelo Congresso Nacional. Reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostra ainda que Bolsonaro não fez nenhuma visita à Abin desde que tomou posse.

Ouça a entrevista na íntegra