Visita à CIA expõe submissão de Bolsonaro aos interesses dos Estados Unidos
Fora dos compromissos oficiais, presidente Jair Bolsonaro visitou agência de informação, acusada de espionagem - inclusive pelo Brasil –, em visita diplomática ao país chefiado por Donald Trump
Publicado 19/03/2019 - 11h46
Na CIA, presidente se reuniu ainda com diretora acusada de tortura. Professor analisa postura de “subserviência”
São Paulo – A visita fora da agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro à Agência Central de Inteligência (CIA) em viagem aos Estados Unidos, nesta segunda-feira (18), expõe uma postura de “subserviência vergonhosa” do governo brasileiro aos Estados Unidos, como observa o professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Williams Gonçalves, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual. “Todos que conhecem o processo histórico, que estudam os acontecimentos da América Latina, sabem da importância que a CIA tem na ação política, terrorista, subterrânea, contribuindo decisivamente, senão diretamente, para a derrubada de governos, promoção de insurreições, sempre atendendo aos interesses dos Estados Unidos”, explica o docente.
Fora dos compromissos oficiais, apenas quatro horas depois da repercussão da visitação à CIA, a assessoria da Presidência da República divulgou-a como parte da agenda de tratativas de combate ao crime organizado, narcotráfico e à situação da Venezuela, algo que, no entanto, nunca havia sido feito antes por outros Chefes de Estado, como ressalta o diplomata Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores no governo Lula à Deutsche Welle.
Bolsonaro estava acompanhado do ministro da Justiça, Sergio Moro – que assinou um acordo de cooperação entre as polícias federais do Brasil e dos EUA, o FBI, e do deputado federal e seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), que chegou a qualificar a CIA como uma das agências “mais respeitadas do mundo”.
Há informações ainda de que o presidente se reuniu com a diretora da instituição americana, Gina Haspel, acusada de ser responsável por prisões secretas e de promover a tortura como método no tratamento dos detidos.
Para Gonçalves, na prática, a ida de Bolsonaro à CIA é um ato ato de desprestígio à Agência de Inteligência Brasileira, a Abin, e ao próprio país e deveria ser questionado pelo Congresso Nacional. Reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostra ainda que Bolsonaro não fez nenhuma visita à Abin desde que tomou posse.
Ouça a entrevista na íntegra