Reação

Democracia é conquista popular, e não depende da ‘boa vontade’ de militares

Parlamentares e intelectuais rebatem afirmação do presidente Jair Bolsonaro sobre democracia e liberdade tuteladas pelas Forças Armadas

Marcos Corrêa/PR

Cientistas políticos também reagiram: ‘Democracia tutelada por mão militar não é democracia’

São Paulo – Em mais uma polêmica, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que democracia e liberdade só existe num país quando “a sua respectiva Força Armada assim o quer”. A declaração foi dada durante evento de aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (7). 

O primeiro a se manifestar para desfazer mais uma confusão provocada por uma fala do presidente foi o vice, general da reserva Hamilton Mourão, que afirmou, mais uma vez, que Bolsonaro havia sido “mal interpretado”. “O presidente falou que onde as Forças Armadas não estão comprometidas com democracia e liberdade esses valores morrem”, tentou aliviar, fazendo menções, como sempre, a Cuba e Venezuela

Parlamentares também se insurgiram contra a declaração do presidente. “Essa pessoa não tem limites na agressividade!”, criticou a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), pelo Twitter. Disse ela que “A democracia foi conquistada pela sociedade brasileira. Não é objeto de tutela ou permissão. Terá muita luta pra defendê-la, apesar de você (Bolsonaro) e seus aliados”. 

Também pelas redes sociais, a deputada federal Érica Kokay (PT-DF) afirmou que a declaração do presidente ataca a Constituição Federal, ao associar a democracia à “boa vontade” dos militares, pois “desconsidera a soberania do povo brasileiro”, que foi protagonista na luta pela redemocratização do país.

O deputado Henrique Fontana (PT-RS) também classificou a fala de Bolsonaro como “absurda”. O parlamentar Reginaldo Lopes (PT-MG) lembrou que “todo poder emana do povo”, “e não dos militares” segundo a Constituição. Já o deputado Ivan Valente (Psol-SP) disse que Bolsonaro “mais uma vez comete crime de responsabilidade e atenta contra a dignidade do cargo”.

O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Luis Felipe Miguel ironizou a declaração, afirmando que Bolsonaro “está certo”. “A ‘democracia’ que as forças armadas querem é aquela em que um candidato indesejado pode ser aprisionado, em que o Poder Judiciário se curva às pressões do chefe do Exército, em que a repressão fardada é um risco sempre presente para a mobilização popular, em que a ‘militarização’ aparece como pretensa solução para os problemas do Estado”, criticou Miguel. 

Professor titular da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Wilson Gomes diz que a realidade deve ser exatamente o contrário do que disse Bolsonaro: “Se as Forças Armadas de um país não estão comprometidas com a democracia e a liberdade, seus generais devem ser afastados e presos pelo poder civil. Só em republiquetas os militares tutelam os regimes de governo. Democracia tutelada por mão militar não é democracia”.

sociólogo e cientista político Emir Sader também questionou o compromisso dos militares com o regime democrático: “Quando tivemos democracia, foi contra a vontade deles”. Alberto Carlos Almeida, outro cientista político, também contestou a veracidade histórica da fala de Bolsonaro. “A democracia emergiu e se manteve em todo o mundo a despeito da vontade dos militares. Quem conhece um pouco de história e de política sabe disso. Países com renda per capita elevada e economias complexas, são todos democráticos.”

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