azeda

Candidata foi chamada por ministro de Bolsonaro para ser laranja do PSL

Zuleide Oliveira, que concorreu a deputada estadual em Minas, denuncia diretamente Marcelo Álvaro Antônio. Nova denúncia de corrupção do partido do presidente afunda ainda mais credibilidade do governo

Reprodução

A candidata-laranja do PSL, Zuleide Oliveira, ao lado do atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, a quem acusa de envolvê-la em esquema de desvio de verbas públicas do fundo partidário

São Paulo – Filiada ao PSL de Minas Gerais, Zuleide Oliveira afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que foi pessoalmente chamada por Marcelo Álvaro Antônio, atual ministro do Turismo do governo de Jair Bolsonaro, para ser candidata-laranja nas eleições de 2018 e que seu compromisso era devolver ao partido parte do dinheiro público do fundo eleitoral. O encontro em que a falsa candidatura foi acertada, segundo a denúncia, ocorreu no dia 11 de setembro, no escritório de Marcelo, em Belo Horizonte.

Segundo o jornal, Zuleide, que oficialmente concorreu a uma vaga de deputada estadual, fez a denúncia ao Tribunal Regional Eleitoral em 19 de setembro, mas obteve apenas uma resposta protocolar da Justiça Eleitoral, que até agora não avançou na investigação do caso.

Então presidente do diretório estadual, Marcelo Álvaro é acusado de organizar um esquema de candidatas laranjas para captar verbas públicas de campanha para empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara. A reportagem da Folha destaca que Zuleide “é a primeira a implicar diretamente o hoje ministro no esquema de desvio de dinheiro público por meio de candidaturas de laranjas do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro”.

Ela afirmou ao jornal não saber se algum dinheiro foi depositado em seu favor, porque o controle das contas bancárias ficou com os dirigentes do partido. “Eu não entendia de nada, eles que fizeram tudo [para registrar a candidatura], eu não tirei uma certidão minha, eles tiraram por lá, eu só enviei meu documento e eles fizeram tudo. Fui usada, a minha candidatura foi usada para fazer parte de uma lavagem de dinheiro do partido”, afirmou.

Zuleide disse ainda que, no encontro com o atual ministro, foi levada a assinar requerimento de solicitação da verba do fundo partidário, endereçado ao então presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno. “Ele [Marcelo] disse pra mim assim: ‘Então a gente vai fazer o seguinte: você assina a documentação, que essa documentação é pra vir o fundo partidário pra você. (…) Para o repasse ser feito você tem que assinar essa documentação. E eu repasso a você R$ 60 mil, e você tem que repassar pra gente R$ 45 mil. Você vai ficar com R$ 15 mil para sua campanha. E o material é tudo por nossa conta, é R$ 80 mil em materiais'”, disse a candidata.

A denúncia que aprofunda a suspeita de práticas de corrupção no alto escalão do PSL é mais um problema de grandes proporções a abalar o governo de Jair Bolsonaro.

Ela surge um dia depois da polêmica após publicação pelo presidente, em sua conta oficia no Twitter, de um vídeo obsceno como tentativa de desqualificar as manifestações populares contra seu governo durante o carnaval, quando foi xingado e vaiado em praticamente todo o território nacional. No mesmo dia, o jornal O Estado de S.Paulo publicou reportagem que mostra que Bolsonaro e família aumentaram os gastos com cartões de crédito da Presidência em 16%, contradizendo o discurso de campanha, de reduzir gastos públicos.

O episódio está sendo tomado como falta de decoro e já provoca debates sobre um eventual impeachment do presidente.