Contra a Lava Jato?

Querem calar nossa voz pelo medo, diz presidente da OAB após ataques

Felipe Santa Cruz passou a ser atacado após dizer que país é mais que o combate à impunidade e precisa, com urgência, 'reencontrar a agenda do crescimento econômico'

Felipe Santa Cruz: ‘É preciso construir pontes onde há pessoas cavando fossos. Quem se alimenta do ódio não quer superação do conflito’

São Paulo – Recém-eleito presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz denunciou “furiosos ataques” contra ele nas redes sociais, motivados por declarações relativa à Lava Jato. Ao reagirem a uma notícia falsa de que o advogado seria contra a operação, internautas passaram a criticar com violência o líder da OAB. “Robôs pagos por movimentos extremistas e pessoas levadas por falsas manchetes”, definiu Santa Cruz.

“O ataque que sofro, travestido e insuflado pela falsa motivação de uma declaração que não dei sobre fim imediato de qualquer investigação antes que se esgote o seu objeto, com o uso danoso e cotidiano de notícias falsas, demonstra claramente a intenção de calar nossa voz através do medo”, afirmou o presidente da Ordem, também por rede social.

“Bateram na porta errada, pois acredito que a função da Ordem nessa quadra histórica é criar no mundo do DIREITO, pressuposto da democracia, um ambiente capaz de produzir discussões técnicas que possam garantir o exercício livre da DEFESA, com a máxima liberdade de manifestação das ideias”, acrescentou, usando duas palavras em letras maiúsculas.

“O crime que justificaria minha eliminação? Dizer que há no país ampla garantia para qualquer investigação, que há no país absoluta unanimidade sobre a necessidade da luta contra a impunidade, mas que o país é muito mais do que isso e que precisa urgentemente, entre outras coisas, reencontrar a agenda do crescimento econômico que possa devolver a esperança de dias melhores ao nosso povo”, disse Santa Cruz em sua página no Facebook, uma mensagem que teve mais de 10 mil visualizações, 2.500 comentários, muitos ofensivos, e 1.500 compartilhamentos. “Sim, defendo que o Estado não gera riquezas e que a estabilidade jurídica deve ser rotina dos povos que querem progredir através do trabalho, do respeito ao meio ambiente, às minorias, aos contratos etc.”

Segundo ele, é preciso “construir pontes onde há pessoas cavando fossos e, assim, alcançar alguma paz social”. “Por óbvio, quem se alimenta e vive do ódio não quer a superação do momento de conflito agudo. Não quer ouvir sobre o DIREITO de ninguém, sobre o drama do próximo”, afirmou. “Vamos dialogar através do DIREITO, não ocupamos a arena da política partidária e buscaremos atrair para esse debate até os que, polarizados e cegos por ideologias, não acreditam ser possível superar o atual momento. É uma grande tarefa que precisa de toda a advocacia do Brasil.”

Equívoco histórico

No início do mês, em entrevista ao jornal O Globo, o presidente da OAB considerou que “em muitos momentos” o Estado sacrificou o direito de defesa na Lava Jato. “Não pode haver vazamento, é sagrado o direito de defesa. Exorbitamos nas prisões preventivas e na politização dos processos”. Ele também considerou um “equívoco histórico” a ida de Sergio Moro para o Ministério da Justiça. “É uma escolha legítima, legal, mas equivocada. Para o processo que o Brasil viveu, o ideal era que ele não tivesse migrado para o Executivo. O processo ainda está em andamento, e ele virou, bem ou mal, símbolo dele.”

Nos últimos dias, além de diversos ataques, o comando da OAB também foi objeto de fake news, levando a desmentidos na página oficial da entidade na internet. No dia 5, por exemplo, a Ordem desmentiu que fosse expulsar quem advogasse de graça para vítimas da tragédia de Brumadinho (MG).

“Lamentável que a indústria de produção em massa de notícias falsas, que atenta contra a democracia ao buscar deturpar fatos durante as eleições, permaneça ativa servindo sabe-se lá a quais interesses”, escreveu a OAB. “Pior ainda é a onda de manifestações indignadas que surgem a reboque dessas mentiras vindas de pessoas e até de parlamentares eleitos que deveriam ter o mínimo de cuidado com aquilo que divulgam, ainda que em respeito à própria reputação.”

No dia 10, novo desmentido, após uma foto circular pelas redes sociais com a falsa informação de que o presidente da OAB estaria apoiando Cesare Battisti, recentemente deportado para a Itália. Uma imagem apontada na imagem não se tratava de Santa Cruz. “O Marco Civil da Internet, de 2014, representou importante conquista, ao prever a retirada de conteúdo indevido da rede, pela via judicial. Não obstante, precisamos avançar mais, promovendo campanhas informativas e fortalecendo o jornalismo profissional”, afirmou na ocasião.

Santa Cruz foi eleito em 31 de janeiro e tomou posse no Conselho Federal no dia seguinte. Com 46 anos, formado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, ele foi presidente da OAB-RJ por dois mandatos.

 

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