Parlamento

Partidos de esquerda se dividem na Câmara, mas votarão juntos contra Bolsonaro

O campo progressista formou dois blocos partidários. O maior, liderado por PCdoB e PDT, com 105 deputados. O segundo tem 97 parlamentares de PT, PSB, Psol e Rede

Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Deputados assumiram mandatos nesta sexta-feira. Serão os encarregados de votar agenda de Bolsonaro

São Paulo – Os partidos de centro-esquerda passaram os últimos dias em tensas reuniões e intensas negociações por entendimento em busca de posições dentro da Câmara dos Deputados e de espaço político na Casa, participação na Mesa Diretora e nas comissões. O campo progressista se  dividiu em dois blocos. O maior dos dois foi formado por 105 deputados, composto por PDT, com 28, Pode (17), Solidariedade (13), PCdoB (10), Patri (9), PPS (8), Pros (8), Avante (7), PV (4) e Democracia Cristã (1).

O PT lidera o segundo bloco, mas é formado somente por partidos de oposição programática ao governo Jair Bolsonaro. Com 97 parlamentares, além dos 54 petistas, esse bloco é formado por PSB (32), Psol (10) e Rede (1). Os dois blocos de centro-esquerda somam 202 deputados.

O governo conta com o maior dos três blocos, com 301 deputados. Em suas hostes, o partido do presidente da República, o PSL, que tem 52 deputados, junto com PP (38), PSD (35), MDB (34), PR (33), PRB (30), DEM (29), PSDB (29), PTB (10), PSC (8) e PMN (3).

O PCdoB e o PDT não chegaram a acordo com o PT e os aliados de seu bloco para formar uma força única. Os comunistas apoiam o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à reeleição. Aliado do PCdoB na eleição à presidência da República, com a chapa Fernando Haddad e Manuela D’Ávila, o PT considera que o apoio do PCdoB a Maia, por tabela, é um apoio ao governo.

“Nossa decisão foi apoiar Rodrigo Maia, e não fazer bloco com o PSL, que está em outro bloco”, diz Orlando Silva (SP), líder do PCdoB na Câmara.

“Só tem um bloco de esquerda, formado pelo PT, Psol PSB e Rede. O outro bloco é formado por partidos do campo popular, mas a maior parte dos partidos apoia o governo Bolsonaro e esses partidos estão aliados com o governo. Portanto, não existem dois blocos da esquerda”, cutuca o líder do PT, Paulo Pimenta (RS). O bloco fechou o apoio a Marcelo Freixo (Psol) à presidência da Câmara.

“A unidade vai se dar na luta, porque a eleição da Mesa é apenas uma disputa para organizar internamente a casa. Nós achamos que é um erro lançar uma candidatura só para marcar posição”, responde Orlando Silva. Segundo ele, o PCdoB não apoia Rodrigo Maia por cargo nem comissão. “O principal compromisso dele conosco é discutir a pauta da Câmara. Nosso campo perdeu a eleição. Não podemos imaginar que quem perde eleição na urna para presidente vai ganhar com manobras no parlamento, que é um ambiente contrário à luta popular.”

Mas a questão que se impõe é: não seria natural que todos os partidos progressistas, que têm uma ação política programática, se unissem num mesmo bloco? “Seria natural se o PT tivesse capacidade de dialogar. Para dar um exemplo, desde o ano passado tentamos uma reunião com o líder do PT. Mas a primeira vez que ele aceitou se reunir comigo foi ontem (31)”, responde Orlando Silva.

“Nós fazemos  parte, junto com o PCdoB e os demais, do bloco da minoria, e achamos que foi uma opção política que o PCdoB fez, uma opção que não vamos comentar. Optamos por um outro caminho, o caminho da unidade do campo popular. E independente, em oposição ao governo Bolsonaro e à administração do Rodrigo Maia”, afirma Pimenta.

Independentemente da disputa política dentro do Congresso Nacional e da formação dos blocos, para o analista Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o que se pode assegurar é que os partidos do campo popular, à esquerda, vão “marchar juntos” contra a pauta do governo Bolsonaro.

“Sem dúvida nenhuma, o PDT e PCdoB votam em sintonia com o PT, com PSB, com Psol, na matéria temática. Tanto do ponto de vista cultural como fiscal, vão marchar unidos, porque têm uma visão de mundo.” 

Apoio a Bolsonaro

Segundo análise do Diap, a composição de apoio ao governo Bolsonaro na Câmara é a seguinte: o presidente teria 255 votos de apoio consistente e 117 condicionados, contra 140 da oposição. Queiroz explica que, politicamente, esses números são muito mais próximos da realidade do que a soma dos parlamentares dos dois blocos supostamente de oposição, que chega a 202 deputados.

Para ele, há grande possibilidade de o Congresso aprovar a reforma da Previdência “mais ou menos” como o governo quer, mesmo com a exigência, nesse caso, de maioria qualificada de 308 votos. “Tirando os partidos nos quais se pode apostar que serão contra as reformas como a da Previdência, PT, Psol, PCdoB, PDT e PSB, os outros não têm compromisso ideológico contra o modelo de Estado defendido por Bolsonaro.”

O analista discorda de opiniões segundo as quais as denúncias contra Flávio Bolsonaro vão minar a capacidade parlamentar do governo. Em sua opinião, o governo vai trabalhar na “desconstitucionalização” de matérias que exigem mudança na Constituição, como no caso da Previdência. “Ou seja, ele deve remeter para a lei ordinária grandes questões, deixando alguns princípios na Constituição. A lei precisa de menos votos.”

Para Queiroz, a equipe econômica está blindada e a grande imprensa “está apoiando 100%” a reforma da Previdência. “Para o governo, é o melhor dos mundos: ele tem um aliado que é a imprensa e pode apresentá-la como inimigo, já que ataca o governo nas questões morais e culturais.  Isso dá legitimidade, porque ele pode dizer que ‘até os inimigos reconhecem essa necessidade’. A lógica é essa”, conclui o analista.