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Partido de Bolsonaro gastou R$ 400 mil com ‘candidata laranja’ em Pernambuco

A quatro dias da eleição, candidata do PSL recebeu mais dinheiro que o presidente Jair Bolsonaro e que a deputada federal Joice Hasselmann, mas teve 274 votos

Raquel Cunha/Folhapress

Partido de Bolsonaro, PSL usou candidaturas de mulheres como laranjas para usar dinheiro do fundo partidário

São Paulo – O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, destinou R$ 400 mil a uma candidatura laranja a deputada federal em Pernambuco, nas eleições de 2018. Faltando apenas quatro dias para a eleição, Maria de Lourdes Paixão, que é secretária administrativa do PSL naquele estado, recebeu o valor da direção nacional do partido e gastou R$ 380 mil em apenas em uma gráfica – ela recebeu apenas 274 votos.

O valor repassado para a candidatura dela foi o terceiro maior do país, superior até mesmo ao destinado pelo partido às do próprio Bolsonaro e da deputada federal Joice Hasselmann. A reportagem é do jornal Folha de S. Paulo.

Segundo a prestação de contas de Maria de Lourdes, 95% do valor foi gasto na Gráfica Itapissu para impressão de 9 milhões de “santinhos” e R$ 1,7 milhão de adesivos. Ela teria contratado quatro pessoas para distribuir os panfletos. A quatro dias da eleição, eles precisariam ter distribuído 750 mil panfletos cada um. A então candidata disse não se lembrar do nome do contador de sua campanha, nem da gráfica contratada, nem dos valores gastos ou do tipo de material encomendado.

No endereço que consta da nota fiscal entregue na prestação de contas, no bairro Arruda, no Recife, há uma funilaria de carros. A oficina está no local desde abril do ano passado e os funcionários relataram que o local antes estava vazio. Já o endereço constante da Receita Federal tem no local um café e uma papelaria. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Gráfica Itapissu recebeu R$ 1,8 milhão na eleição de 2018.

O gerente da gráfica, Paulo Henrique Vasconcelos, procurou a reportagem. No entanto, se mostrou surpreso ao ser questionado sobre o valor gasto na gráfica e, inicialmente, negou que tenha feito o serviço. No dia seguinte, disse que tudo foi feito e entregue, mas se negou a dar detalhes de como foi feito o trabalho já que a sede da empresa não foi encontrada nos endereços em que a gráfica estaria funcionando.

A direção do partido de Bolsonaro negou que a candidata seja laranja, mas disse não ter detalhes sobre sua candidatura e valores recebidos. O presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, e o vice-presidente do partido, Antonio de Rueda – que é advogado particular de Bivar – disseram que a decisão sobre o repasse dos R$ 400 mil foi do então presidente do partido era o hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno.

Ele decida a destinação de verbas e coordenava a campanha de Bolsonaro, cujo principal mote era o discurso do combate à corrupção e da moralização da política. A situação é semelhante à do Ministro do Turismo e deputado federal, Marcelo Álvares Antônio (PSL), que apoiou quatro candidaturas laranjas em Minas Gerais e direcionou dinheiro a empresas ligadas ao seu gabinete. As candidatas receberam R$ 279 mil e conseguiram, juntas, cerca de 2 mil votos apenas.

Além destas, há o caso de uma ex-candidata do PSL que fugiu para Portugal alegando ter sido ameaçada por apoiadores de Marcelo Álvares. Cleuzenir Souza recebeu R$ 60 mil do PSL para sua candidatura a deputada federal, mas não gastou nada em empresas associadas ao ministro. Durante a campanha, Cleuzenir registrou Boletim de Ocorrência contra dois assessores dele por pressioná-la a devolver metade do valor destinado a ela.