Brasil afora

No Ceará, Haddad encontra movimentos sociais e diz que governo ‘está meio perdido’

“Apesar das ameaças, estamos podendo caminhar, conversar, se organizar. Acredito que o povo brasileiro dê uma resposta, assim que ele acordar', disse ex-prefeito de São Paulo em Fortaleza

Ricardo Stuckert

Haddad referiu-se à viagem como retomada das caravanas pelo país, pelos direitos ameaçados e pela liberdade de Lula

São Paulo – O ex-ministro da Educação Fernando Haddad chegou nesta sexta-feira (15) em Fortaleza, onde participa do seminário O Brasil que Saiu das Urnas. O petista se reuniu com integrantes de diversos movimentos sociais e se referiu à viagem como uma parte de uma jornada pelo país, pelos direitos ameaçados pelo governo Jair Bolsonaro e pela liberdade de Lula. Haddad almoçou no Palácio do Governador com o governador Camilo Santana (PT). No início da noite, falando a militantes, afirmou que já começou a conversar com os movimentos sociais no Ceará.

Organizações populares de versos segmentos planejam para o mês de março uma caravana que partirá do estado em direção a Curitiba para um agenda de atividades em defesa da liberdade do ex-presidente.

Dirigindo-se à comunidade LGBT, afirmou que ficou impressionado com o voto do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a criminalização da homofobia. “O voto é uma expressão profunda e filosófica de uma visão de sociedade que tem espaço para todo mundo, de acordo com sua perspectiva pessoal, sem que isso coloque em risco sua vida, como aconteceu ontem com o jovem no supermercado Extra no Rio de Janeiro, que aparentemente teve um problema de saúde e de repente termina o dia sem vida.” Celso de Mello, porém, considerou que o caso é assunto para o Legislativo, e não para a Corte.

Haddad afirmou que esse tipo de ocorrência está se tornando rotina no pais, “mas é cada vez mais visível”. “A gente se negava a acreditar e a ver o que acontecia todo dia nas comunidades e favelas do país.”

Em seguida, discorreu sobre a intolerância do governo de Jair Bolsonaro, dos seus representantes e apoiadores. “Esse governo tem um problema grave com quem pensa criticamente, no âmbito da ciência, das artes ou no âmbito da política.”

Para o ex-prefeito, o grupo que está no poder entende essas atividades não como um traço da modernidade, mas como uma ameaça ao “status quo que eles querem manter, ou fazer retroceder e, em alguns aspectos, o retrocesso é gigantesco”. Ele citou como setores mais afetados educação, saúde, direitos humanos, relações exteriores e meio ambiente.

Embora esse estado de coisas configure uma situação que “a gente jamais imaginaria que pudesse acontecer no Brasil de 2019, mas está acontecendo”, por outro lado Haddad destacou o fato de as pessoas, entidades, militantes e membros de partidos poderem se mobilizar.

“Apesar das ameaças, estamos podendo caminhar, conversar, se organizar. Acredito que o povo brasileiro dê uma resposta, assim que ele acordar. Mas quem acordou antes é preciso cutucar o vizinho”, disse.

Segundo Haddad, o governo Bolsonaro “está meio perdido do ponto de vista de coordenação”. “Porém, eles têm um projeto, que não sei se é dele, do presidente, não sei se ele tem alcance do que ele representa”, ironizou. “Mas as propostas estão sendo encaminhadas ao Congresso, e são muito ameaçadoras aos direitos sociais, trabalhistas, ao Estado democrático de direito, aos direitos civis.”

Para o petista, esse modelo que está sendo criado pelo mundo “não é propriamente ditadura ou democracia, mas um modelo híbrido”. Nesse modelo, disse, as instituições “vão sendo corroídas por dentro, com aval do Congresso, do Judiciário, mas tem a vantagem de a gente poder caminhar e falar”.

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