DEM em dose dupla

Em eleição conturbada, Davi Alcolumbre torna-se presidente do Senado

Candidato apoiado por Onyx Lorenzoni vence após retirada da candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL). DEM passa a comandar as duas Casas legislativas

Pedro França/Agência Senado

Senadores Kátia Abreu (PDT-TO), Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL): disputa quase inédita na Casa

São Paulo  A conturbada sessão para a eleição do presidente do Senado teve quase de tudo: decisão do STF, renúncias antes do pleito, suspeita de fraude e nova renúncia em meio à votação. Ao fim, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) venceu com 42 votos, em primeiro turno. O parlamentar era apoiado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM).

O dia começou com a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, de anular a determinação do dia anterior, em sessão presidida por Davi Alcolumbre, de que a eleição para a presidência do Senado fosse por meio de votação secreta.

A disputa teve seis senadores como candidatos. Além de Renan Calheiros (MDB-AL) – que teve 5 votos mesmo renunciando no início da segunda votação – e Alcolumbre, também concorreram Ângelo Coronel (PSD-BA), que teve 8 votos, Espiridião Amin (PP-SC), segundo colocado com 13, Fernando Collor (Pros-AL), 3 votos, e Reguffe (sem partido-DF), 6 votos. 

Antes do discurso em que apresentou sua candidatura, Alcolumbre contou com as renúncias de Alvaro Dias (Podemos-PR) e Major Olimpio (PSL-SP). Após sua fala, Simone Tebet (MDB-MT), candidata avulsa já que havia perdido a indicação de sua legenda para Renan, pediu a palavra e também renunciou à candidatura em favor do parlamentar do DEM.

Os desafios do atual momento brasileiro são imensos. Por um lado, a complexa crise fiscal exige reformas urgentes a fim de corrigirmos as distorções. Por outro, é preciso reverter a profunda crise política que minou a confiança nos políticos”, disse o senador pelo Amapá.

Em seu discurso, Renan acusou a Casa Civil, em referência indireta a Onyx, pelo fato de ter sido vazada a notícia de um telefonema do presidente Jair Bolsonaro para o senador, feito na quinta-feira (31). “Será que quem fez isso tem dimensão institucional para, em um momento difícil da vida política no país, construir uma correlação nesse Senado que favoreça a votação das reformas?”, questionou.

82 votos e renúncia de Renan Calheiros

Ao fim da primeira votação, uma surpresa na apuração: 82 cédulas em papel, enquanto o Senado tem 81 integrantesOs senadores escrutinadores, escolhidos para fiscalizar a eleição, tomaram a decisão de realizar um novo pleito, e a mesa diretora seguiu a orientação. Os votos foram triturados diante dos membros da Casa.

Até então tido com um dos favoritos à presidência do Senado, Renan retirou sua candidatura em meio à segunda votação. “Desde ontem vivemos um constrangimento”, disse o parlamentar na tribuna da Casa, apontado haver uma pressão desde a sessão comandada na sexta-feira (2) por Alcolumbre.

“Esse processo não é democrático. Para demonstrar que esse processo não é democrático, queria lhe dizer, presidente, que o Davi não é Davi, é Golias, o novo presidente do Senado, e retiro a minha candidatura porque não vou me submeter a isso”, disse Renan.

Quem é Davi Alcolumbre

Alcolumbre não era até agora uma presença marcante no dia a dia do Senado. Matéria do site Congresso em Foco destaca que, antes de presidir a polêmica sessão do Senado que determinou o voto aberto para a eleição da presidência da Casa, decisão posteriormente anulada pelo ministro Dias Toffoli, falou ao microfone por mais tempo do que em seus quatro anos anteriores de mandato. Havia discursado somente sete vezes, sendo o último discurso até então em homenagem a Macapá, capital de seu estado, em 19 de janeiro do ano passado.

A candidatura de Alcolumbre ganhou força graças à rejeição que boa parte do Senado tem em relação a Renan e também por conta do apoio do ministro Onyx Lorenzoni. Sua candidatura também contou com o suporte de figuras centrais do DEM, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e do senador José Agripino Maia (RN) e do presidente nacional do partido, ACM Neto.