Une e desune

Ciro causa polêmica sobre Lula e sai vaiado da Bienal da UNE

Criticado por estudante, o ex-presidenciável reagiu repetindo a frase pronunciada por seu irmão durante a eleição. A plateia em peso respondeu aos gritos de 'Lula Livre'

Reprodução/Ciro Gomes

“Provocou, vai ouvir”, disse Ciro, em bate-boca com participantes de encontro da UNE

São Paulo – O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) se envolveu em mais uma polêmica relacionada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em debate na Bienal da UNE, nesta quinta-feira (7) em Salvador, que discutia os rumos da soberania nacional, ele foi instado a saudar o ex-presidente, e resistiu. A partir daí, seu discurso foi marcado por embates com a plateia que respondia com gritos de “Lula Livre” a cada provocação. Ao final, saiu vaiado, aos gritos de “Fora, Ciro”. 

“Nós do campo progressista sofremos uma derrota profunda. E é apenas o começo”, afirmou Ciro, candidato do PDT nas últimas eleições presidenciais. Ele afirmou que milhões de brasileiros, incluindo jovens, mulheres, evangélicos e católicos, abandonaram os candidatos da esquerda para votar no atual presidente Jair Bolsonaro. 

Segundo Ciro, a esquerda deixou de discutir a questão econômica, e parte do campo progressista busca refúgio na “agenda identitária”, e pregou o retorno à “velha” e “não resolvida” luta de classes. Ciro também criticou a atuação do que chamou de “onguismo”, que contribui, segundo ele, para reafirmação da ordem neoliberal, pois entidades trariam para si questões públicas que deveriam receber tratamento do Estado. Foi quando novamente recebeu críticas de um dos estudantes na plateia, e respondeu.

“Tem coisa mais chata que um jovem no bar defendendo corrupto? Agora, imagina um jovem tendo que defender corrupção, ladroeira, aparelhamento do Estado. Eu sou limpo, engole essa”, trocando impropérios com um dos estudantes. “O Lula tá preso, babaca”, repetindo diversas vezes a frase proferida pelo seu irmão Cid Gomes, durante a campanha eleitoral. “Provocou, vai ouvir.” Os estudantes responderam então em peso, aos gritos de Lula Livre.

“Temos o maior líder popular brasileiro preso, condenado em duas sentenças que somam 25 anos. Isso é fato, não me agrada. Mas ou o Brasil entende que isso é fato, ou vamos delirar”, disse Ciro, sugerindo que Lula deveria ter acatado seu conselho de se exilar numa embaixada, em vez de aceitar a condenação judicial. “Acreditando em minorias ínfimas, fomos humilhantemente derrotados nessa estratégia. Insistir nela afunda o Brasil”, afirmou, ao final, quando a maioria dos estudantes já gritava “Fora, Ciro” e vaiava o ex-candidato.

Apelo à unidade

Buscando baixar a temperatura, os demais oradores clamaram pela unidade no campo da esquerda para enfrentar as ameaças do governo Bolsonaro. A vice-governadora de Pernambuco e presidenta do PCdoB, Luciana Santos, pediu “maturidade política” para entender o significado da derrota nas últimas eleições. Segundo ela, Bolsonaro foi adotado pelo sistema financeiro, representado pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelos militares, numa campanha marcada pela desinformação.

“Na campanha, discutiu-se sobre tudo. Menos os problemas essenciais para o povo brasileiro”, afirmou Luciana, citando os desafios do crescimento econômico e o combate ao desemprego como temas ausentes no debate. Ela também cobrou “sagacidade” para explorar as contradições do governo Bolsonaro que, em um mês de governo, registrou inúmeros recuos.

Ivan Alex, da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Social do PT, pregou a unidade do campo popular e defendeu os movimentos de resistência à prisão do ex-presidente. “Quem defende o Lula não é babaca. Para nós, defender Lula é uma posição histórica, é defender a população brasileira.” Ele também afirmou que a violência contra a população negra não é uma questão de “luta identitária”, mas uma herança do escravismo.  

O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues também destacou a luta pela liberdade do ex-presidente Lula como uma das mais importantes bandeiras da esquerda. Outras batalhas fundamentais, segundo ele, serão contra a “reforma” da Previdência do governo Bolsonaro, que atinge o conjunto da classe trabalhadora, bem como as suas propostas de privatização. Ele também destacou a luta pelos direitos dos povos indígenas, negros e movimentos sociais, alvos preferenciais do atual governo. E, por último, a reforma agrária, a bandeira mais importante do MST.

Já a líder indígena Sônia Guajajara, vice de Guilherme Boulos (Psol) nas eleições presidenciais, afirmou que não há como falar em desenvolvimento nacional sem falar da questão ambiental, e criticou Bolsonaro por classificar a luta pela preservação do meio ambiente como “patrulhamento ideológico”. Ela também criticou o presidente por afirmar que os indígenas “querem ser como nós”. “Nós, quem? Eu não quero ser que nem eles.” Ela também defendeu a união das populações do campo e nas cidades na defesa do meio ambiente. “A gente precisa dizer para o mundo que a falta de florestas vai tirar a água das cidades. Essas lutas estão conectadas.”

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