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Áudio vazado de Bolsonaro revela privilégios de emissoras de TV com governo

Ao colocar Rede Globo como inimiga, governo federal assume uma articulação favorável com concorrentes. Para professor da Unifesp, governo limita acesso à informação

Alan Santos/PR

Bolsonaro estreitou relações com a TV Record e o SBT. ‘Trabalham de maneira chapa branca’, diz Quinalha

São Paulo – Os áudios de conversas entre o presidente Jair Bolsonaro com o ex-ministro Gustavo Bebianno, vazados na terça-feira (19) expõem que, além de mentir, Bolsonaro também assume uma articulação com emissoras de televisão. Em conversa com Bebianno, o presidente reclama de um encontro marcado entre o ministro com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo e chama a emissora de “inimiga”. Nos áudios divulgados, o presidente se diz preocupado com as consequências que esse encontro teria na relação com as outras emissoras. 

“Isso coloca uma questão ética sobre a publicidade do governo e como ele privilegia determinadas emissoras. Isso limita o acesso à informação”, criticou Renan Quinalha, professor de Direito da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se (sic) aproximando da Globo”, disse o presidente.

Para o professor da Unifesp, além de agir de forma de autoritária ao colocar uma emissora como inimiga, Bolsonaro expressa que possui canais que protegem seu governo. “Ele vê a Globo como inimiga e sugere que ele tem uma relação privilegiada com outras emissoras, como a Record e SBT, que trabalham de maneira chapa branca com o governo”, afirmou aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

O vazamento dos áudios, apontando mentiras do Bolsonaro que negava conversas com Bebianno, mostram que “o laranjal está ligado ao Palácio do Planalto”, diz o professor. Quinalha acrescenta que a demissão do ex-ministro vai prejudicar as articulações do governo federal no Legislativo.

“O Bebianno era uma figura fundamental na articulação do governo no Congresso Nacional. A situação de ontem já levou uma derrota para o governo, com a tentativa de alteração da Lei de Acesso à Informação, que foi recusada. É uma crise que vai tomar proporções maiores. Precisando de uma coordenação política forte, o Bolsonaro não consegue dar conta disso. Fica colocando os assuntos da família com os assuntos do governo”, finalizou.

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