Presidência da Câmara

PCdoB adota posição pragmática ao apoiar Rodrigo Maia

Para cientista política, com Lula preso, campo progressista não conseguiu uma liderança que o unisse. 'É preciso ter canais de interlocução muito sólidos”, diz Luciana Santos, presidenta do PCdoB

Richard Silva/PCdoB na Câmara

Orlando Silva e Luciana Santos participaram de reunião que definiu apoio a Rodrigo Maia à presidência da Câmara

São Paulo – “É uma decisão pragmática, nada ideológica, como seria a de compor um campo, colocando-se como alternativa à população. Como a população sai da eleição divida e polarizada, seria importante que a oposição se unisse. Mas está faltando uma liderança à oposição, e nem estou falando só de esquerda”, diz a cientista política da Universidade Federal de São Paulo (Ufscar) Maria do Socorro Sousa Braga. Ela se refere à decisão do PCdoB de apoiar a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados.

Para ela, os motivos da decisão do PCdoB ainda não estão claros. “É pragmático, mas também sinaliza como a esquerda está fragmentada, não consegue ter uma agenda comum. Era para PCdoB, Psol, PT construírem um projeto conjunto. Psol e PT já disseram que não vão apoiar Rodrigo Maia, até porque Maia, com o apoio do PSL (partido do presidente Jair Bolsonaro), sinaliza que vai para a base do governo”, avalia a professora.

Em vídeo divulgado na internet, a presidenta do partido, Luciana Santos, afirmou que o PCdoB prioriza, na atual conjuntura, a manutenção da democracia. “E é preciso ter canais de interlocução muito sólidos.” Segundo ela, a relação estabelecida pelo PCdoB com Rodrigo Maia “é de confiança”. “É alguém que defendeu, nesse período, a autonomia do Legislativo, cumpriu compromissos com o PCdoB.”

A dirigente destacou que o Congresso Nacional passa por um “momento de correlações de forças muito adversas e, por isso, “não era possível imaginar” um candidato do campo progressista competir pela presidência da Câmara com chances de vencer. “É necessário a gente ter relações institucionais que possam garantir que a atuação do bloco da oposição se dê com um mínimo de civilidade e respeito.”

Em texto publicado no site do partido, o deputado federal Orlando Silva (SP) destacou que “muitas vezes, para galvanizar prestígio na opinião pública ‘engajada’ e deslegitimar movimentos de outras forças, argumentos enviesados são apresentados, como se as eleições internas do parlamento seguissem as mesmas regras ou fossem um terceiro turno das eleições”.

O deputado aponta quatro objetivos para atuação do PCdoB no Congresso, na atual conjuntura: “Garantir funcionamento democrático do parlamento, de maneira que a oposição possa exercer efetivamente seu papel; atuar para o que o legislativo reequilibre a relação com outros poderes; manter relações políticas amplas, fundamentais para nossa ação política nos próximos anos; e participar da governança da Casa e das comissões, com alguma relevância”.

Para Maria do Socorro, com Lula preso e a dificuldade de ele sair da prisão ou ter um papel institucional mais importante, a esquerda não conseguiu ainda uma liderança para comandar a oposição, que, em sua opinião, poderiam ser o paulista Fernando Haddad e o carioca Marcelo Freixo. “Eles conseguiram mais expressão popular. Mas parece que, internamente, os partidos não conseguiram um certo consenso.”

Manuela D’Ávila

 A candidata do PCdoB à vice-presidência da República, Manuela D’Ávila, ao responder o questionamento de um internauta no Facebook, demonstrou descontentamento pelo fato de o campo progressista, representado por cinco partidos (PCdoB, PT, Psol, PDT e PSB), não ter conseguido a união. “Para mim, demarcações e divisões entre partidos de oposição a Bolsonaro de nada servem ao Brasil e às duras batalhas que teremos pela frente”, escreveu.

Ela diz que “o passo inicial” seria uma posição conjunta dos cinco partidos para procurar construir “uma candidatura comprometida com a democracia, mesmo que essa não fosse de nossos partidos, já que tal eleição não é terceiro turno presidencial”. Ela conclui: “Não foi o que aconteceu: os partidos seguiram diversos caminhos. Lamentavelmente”.

No vídeo, Luciana Santos explica que, no final do ano passado, foi formatado um “bloquinho” com PDT e PSB e que a ideia é que ele cresça. “Vamos lutar para fazer um bloco ainda maior, que possa cumprir esse papel de frente ampla que envola Psol, nosso aliado histórico que é o PT, e que envolva partidos do centro.”