'Novos tempos'

Para deputados, ‘despetização’ mostra fragilidade do governo Bolsonaro

Na opinião de petistas, anúncio do ministro Onyx Lorenzoni de demitir 320 servidores obedece aos mesmos princípios que acabaram com o Mais Médicos e motivam declarações como as de Damares Alves

Wilson Dias/Agência Brasil

Ministro da Casa Civil anunciou ‘despetização’ de sua pasta nesta segunda-feira em Brasília

São Paulo – O anúncio do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de demitir 320 servidores para “despetizar” sua pasta, “tem o objetivo de atender a necessidade constante e permanente de estabelecer um sentimento na sociedade e espírito de disputa permanente”, na opinião do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), líder de seu partido na Câmara Federal.

Para o deputado federal Enio Verri (PT-PR), o presidente e seus auxiliares “praticam esses atos para chamar a atenção, porque não têm o que mostrar”. “Essas besteiras que eles falam, como as da ministra (Damares Alves) ou as declarações do chanceler (Ernesto Araújo), mostram a fragilidade do governo Bolsonaro.”

Na semana passada, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos no governo, pasta criada por Bolsonaro, causou polêmica com uma declaração que viralizou na internet e foi tema de milhares de memes: “Atenção, atenção! É uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa”, disse ela.

Os parlamentares citam ainda o caso dos Mais Médicos. O governo cubano decidiu retirar seus médicos do país duas semanas depois das eleições, por considerar que eles foram objeto de “referências diretas, depreciativas e ameaçadoras” por parte de Bolsonaro.

“Ele sobrepõe o interesse da disputa permanente e o interesse ideológico ao interesse público e isso ocorre mais uma vez”, anota Pimenta. A própria “grande imprensa” tem reconhecido que a saída dos médicos deixou o atendimento “crítico em algumas das áreas mais remotas do país”, conforme matéria do portal G1, das Organizações Globo, no mês passado.

Com a chamada “despetização”, diz Verri, Onyx Lorenzoni “vai parar o coração do governo”, pois todo projeto de lei do Executivo passa pelo corpo jurídico da Casa Civil.

“Tudo isso mostra que, como não têm competência para tocar as coisas tecnicamente, eles ficam com chavões e histórias que não têm nada a ver com a realidade”, acrescenta Verri.

Pimenta também afirma que os membros do governo “não têm contato com a realidade”. Inclusive porque o último governo petista terminou há dois anos e meio. “Ele diz que a partir de agora vai ser o fim do socialismo e do comunismo no Brasil, quando na verdade o país foi governado por quase três anos pelo Temer e sua equipe.”

Na opinião do parlamentar gaúcho, a medida de Lorenzoni é uma “demonstração de preconceito e utilização da estrutura governamental com fins ideológicos, porque temos um grupo de servidores que, ao longo dos anos, serviram a diferentes governos e agora, sem qualquer motivação que não seja a perseguição, eles são exonerados, trazendo enorme prejuízo à máquina pública.”

Ciência e tecnologia

Em texto publicado em seu blog nesta segunda-feira, o professor Marcos Pedlowski, da Universidade Estadual do Norte Fluminense em Campos dos Goytacazes (RJ), denuncia que “o processo de caça ideológica chegou ao sistema nacional de ciência e tecnologia”.

O post é ilustrado por uma gravura que “reconstrói” a morte do frade dominicano, teólogo e filósofo italiano Giordano Bruno, no ano de 1600. Ele foi queimado pela Inquisição por ter desafiado os dogmas da Igreja.

Apesar dos critérios de “pureza ideológica (de direita) que venham a ser aplicados para “despetizar” o sistema de concessão de bolsas de pós-graduação no exterior, é essencial que as sociedades científicas (a começar pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) comecem um vigoroso processo para repelir qualquer tentativa de diminuir a autonomia das agência de fomento de selecionar os melhores candidatos, independente de sua orientação ideológica e objeto de estudo”, escreve Pedlowski.