satírico

Censurado no Facebook, cronista José Roberto Torero tem ‘Diário do Bolso’ na RBA

Escritor posta sátiras da rotina de Bolsonaro desde a posse. Após ações de bolsominions, rede social retirou textos do ar. Jornalistas Livres e Carta Maior também publicam

Vicente Mendonça


São Paulo – O escritor
José Roberto Torero passará a ter as crônicas Diário do Bolso publicadas pela RBA. Os sites Carta Maior e do coletivo Jornalistas Livres também passaram a postar os textos, que desde a posse de Jair Bolsonaro faz uma sátira da rotina do presidente. As crônicas vinham sendo postadas com frequência na página criada pelo cronista no Facebook. Mas a rede social, alegando “violação dos padrões da comunidade”, retirou do ar as três últimas edições do Diário do Bolso.

Também jornalista e cineasta, Torero é autor de diversos livros e roteiros para cinema e televisão. E colaborou como cronista em várias edições da Revista do Brasil, desde os primeiros números da publicação, lançada em 2006. O autor enviou à RBA toda a série de textos publicados, para que os leitores que ainda não haviam lido no Facebook se familiarizem com o “espírito” do diário. As crônicas retiradas pelo Facebook são as de número 14 e 15, além desta última postada nesta terça-feira (29):

Divulgação e Câmara dos Deputados
Torero e o Bolso: reação ao Facebook deve ampliar acesso ao ‘Diário’

São Paulo, 29 de janeiro de 2017.
Amigo Diário, hoje eu preciso de você. Aconteceu uma coisa muito triste. Eu fui censurado…
Isso mesmo, a corja esquerdopata pediu e o Foicebook tirou dois textos meus do ar.
É triste, mas um indefeso homem numa cama de hospital foi censurado.
Sofri a mesma repressão que Chico Buarque, Caetano Veloso e Waldick Soriano (o melhor dos três e que teve sua música “Tortura de amor” proibida).
Mas a ditadura vermelha não vencerá! O marquicismo cultural será derrotado!
Meus bolsominions, digo, meus apoiadores não me deixarão sozinho! Tenho certeza de que vamos vencer a mídia manipuladora!
Vou espalhar meus textos pelo zapzap e espero que vocês compartilhem minhas palavras aqui no FB (e bem rapidinho, porque eles podem tirar o texto do ar a qualquer hora).
Também espalharei o texto naquele tal de Instagrama. É só procurar por #DiariodoBolso, talquei?
O Brasil acima de tudo, Deus acima de todos e pau em cima dos censores stalinistas!

Acompanhe a seguir a série histórica.

Diário do Bolso – 1

Eu nunca pensei que ia fazer isso. Diário é coisa de menina. Mas, pô, agora eu sou presidente e tenho que escrever as coisas pra lembrar quando eu tiver Alzaimer (como é que se escreve isso? O corretor marcou de vermelhinho, mas tinha que dar a palavra certa, pô).

Só não vou começar escrevendo “Querido Diário” porque isso é coisa de boiola.

Bom, anteontem foi a posse. Coisa fina!

Gostei daquela história de deixar os jornalistas esperando sete horas, presos num cercadinho, sem maçã, sem garrafinha de água, sem cadeira, sem banheiro, sem cafezinho e com um sniper fazendo mira neles. Tem que meter medo. Agora aquelas bichas vão saber onde enfiar as canetinhas.

Falando em canetinha, aquilo de assinar a posse com uma Bic foi demais. Opa! Bic, não. Compactor. Eu devia cobrar mercham. Só espero que não façam um modelo com tinta vermelha.

Falando em vermelho, na festa só o tapete é que tinha essa cor. Gostei de pisar nele, he, he.

Uma boa sacada foi a Michelle fazer discurso em libras antes de mim. Agora quero ver se me chamam de machista. Se bem que aposto que vai ter um comuna dizendo que eu não deixei ela abrir a boca.

Bom, o importante é que cheguei chutando a porta!

A ideia de passar a demarcação das terras dos índios e dos negros para a Agricultura foi muito genial. A Funai sifu.  Quinze por cento das terras do país para essa gente é um exagero. Chega de índio e de quilombola! Vamos botar calça nesse pessoal!

A mexida no Itamaraty também foi boa. Agora qualquer um pode ser chefe. Não precisa mais ser um diplomatinha de carreira, falar catorze línguas e blábláblá. Chega daquela bicharada mandando.

O Moro ficar com a Coaf também foi demais. Agora aquela história do Queiroz vai pra debaixo do carpete. Ou será que o certo é falar pra debaixo do tapete? Tanto faz. Já assinei o decreto que proíbe qualquer um do Coaf de falar qualquer coisa. Sem dar carniça para os urubus, daqui a pouco todo mundo esquece o assunto. Acho que vou chamar isso de Operação Boca Fechada.

A tal da Comissão da Anistia também sai da Justiça e fica com a Damares. Agora não vão mais encher o saco.

E acabei com o ministério da cultura. Intelectual é tudo marxista. Agora o dinheiro vai secar para eles. Nos primeiros dias de desmame os bezerros vão chorar muito. E se depender de mim vão morrer de fome. Artista bom não precisa de ministério da cultura. Olha aí o Zezé do Camargo, a Mara Maravilha e a Regina Duarte.

Bom, agora chega. Prum primeiro dia já escrevi bastante. Tá na hora da reunião com o Onyx, com o Mourão e com os ministros. Reunião é um saco. Se pelo menos fosse num churrasco…

Depois escrevo aqui como foi.

Até amanhã, querido diário. Opa, querido, não!
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Diário do Bolso – 2

Poxa, eu disse que ia fazer um diário, mas não consigo nem fazer o diário ser diário. Ontem já furei. Presidente trabalha mais do que eu imaginava. Até me deu uma saudade do meu tempo de deputado. Aquilo sim era moleza.

Bom, hoje vou contar como é que foi a primeira reunião com os ministros. Na verdade nem foi uma reunião-reunião. A gente deu só uma conversadinha, porque o importante mesmo era foto. Mas mesmo assim foi um papo interessante.

O primeiro a falar foi o Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Ele agora é “ficha suja”, mas com aquele penteado moderno e aqueles óculos coloridos, já, já fica com a ficha limpa. Ele começou dizendo que acabou com a Secretaria de Mudança do Clima. E nem continuou. É que foi interrompido por umas palmas.

Quem ficou de pé e bateu palmas foi o Ernesto Araújo, de Relações Exteriores. Ele falou que essa história de mudança de clima é “uma tática globalista de instilar o medo para obter mais poder”. Achei a frase tão chique que até anotei para escrever aqui.

E ele não parou por aí. Continuou dizendo que o aquecimento global era balela e que não tinha nada disso aí. Então eu mandei essa:

– Ernesto, pode ser balela, mas o ar condicionado vai continuar ligado!

Pô, o pessoal caiu na gargalhada. Me senti mais engraçado que o Costinha.

Depois a Damares pediu a palavra e disse: “O que vocês estão achando do meu trabalho? A história do rosa e azul ficou sete horas nos trend topics do twitter. Mas eu tenho medo de estar exagerando.”

Eu falei para ela dar uma maneirada. Mas o Mourão me cortou e disse que a Damares era uma gênia. “Menina, você tem que continuar com essas suas coisas. Aí ninguém vai falar da reforma da Previdência, da demarcação de terras, da liberação de armas e o escambau. Durante o regime militar, todo mundo ria das burradas do Costa e Silva enquanto ele preparava o AI-5. Tem que dar uma coisa para a esquerda se divertir enquanto a gente faz o ataque pesado. É a tática da distração. Qualquer major sabe disso.”

Pô, aquela história de major foi pra me acertar. Eles quis dizer que eu não tinha percebido a jogada. Claro que tinha. O Mourão vai ser um cara difícil. General obedecer capitão é complicado. Tenho que tomar cuidado com ele. Pena que não existe mais aquele sujeito que provava a comida antes do rei.

Bom, pra minha sorte o Paulo Guedes começou a falar uns números da reforma da Previdência. Nessas horas eu tenho vontade de fazer que nem eu fazia na escola: pedir para ir no banheiro e só voltar na hora do sinal. Mas não dá. Então eu soltava um “taoquei” de vez em quando, só para parecer que estava entendo tudo.

Mas na hora que ele falou na idade mínima eu mandei essa:

– Pô, Guedes, não estraga a minha pensão! Deixa 62 anos, cacete!

Era uma piada, mas dessa vez ninguém riu. Levaram a sério. E agora a idade mínima vai ser isso aí.

Ser presidente dá trabalho mas é bom. Os caras riem das minhas piadas e quando não riem, elas viram lei.

Esses quatro anos vão ser do cacete!

PS: Na hora da foto deu aquela vontade de fazer revolvinho com os dedos, mas eu me segurei.
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Diário do Bolso – 3

Querido Diário,

Opa, Querido, não, que eu sou macho.

Caro Diário, hoje de manhã fiquei no espelho tentando fazer um topete que nem o do Trump. Mas não deu muito certo. Meu cabelo é liso demais. Caía sempre no meu olho. Só se eu pusesse um laquê. Mas aí os meninos iam tirar sarro de mim.

Pensando em topete, lembrei da conversa que eu tive com o Onyx. E lembrei porque o cabeça de ovo não tem um fio de cabelo, mas tem topete.

Uns dias atrás ele me perguntou se podia mandar embora os comissionados do Gabinete Civil para despetizar a pasta.

Eu respondi:

– Despetiza, dedetiza, faz o que quiser!

– Os jornalistas vão me encher o saco, porque eu acabei de falar que a gente precisa de um pacto a favor do Brasil.

– Que nada! Isso não vai te dar problema nenhum. Teve aquela história de Caixa 2 da JBS e ninguém mais te enche o saco, só porque você disse que se acertou com Deus e tatuou uma frase da bíblia no braço. Fica tranquilo que a tua careca é de tefal. Manda a gentalha embora!

Ele saiu feliz da vida e exonerou 320 de uma vez. E tem que ser assim mesmo. Vamos fazer uma limpa. Nos outros ministérios também. Não tem essa de anistia, de bancar o bonzinho. É botar todo mundo na rua. Tem que instalar um terror aí.

Os funcionários públicos tão até apagando os feicebuquis. Quer dizer, os foicebuquis, porque era tudo propaganda comunista.

E a gente não vai passar só funcionário público na peneira, não. Por exemplo, o Vélez está pensando em acabar com as bolsas de estudo para esquerdistas. Se o cara quer fazer pós-graduação no exterior, tem que ser da nossa turma. Não vamos dar dinheiro pra maconheiro comunista ficar falando francês.

A turma da iniciativa privada também já está se mexendo. Aquela bonitona que tem uma faculdade em São Paulo me garantiu que viu pessoalmente os feicebuquis dos professores e deu bilhete azul prum monte deles. Só não despediu mais gente porque não tinha dinheiro para pagar os direitos trabalhistas. Mas isso também vai acabar.

Até escolinha de criança já está proibindo o pessoal de falar no tal de Paulo Freire. Não sei o que esse velhinho fez, mas o Olavo disse que ele é uma praga ideológica. E se o Olavo disse é porque é.

Bom, por hoje chega de diário. Tenho coisa mais importante pra fazer.

PS: Será que o barbeiro do Neymar consegue me fazer um topete? E seu eu pintasse de loiro? Tenho que ver isso aí.
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Diário do Bolso – 4

9 de janeiro de 2019.

Diário, hoje eu sonhei um sonho. Um sonho bem estranho. Esquisitão mesmo!

E como eu sei que as pessoas escrevem seus sonhos nos diários, vou escrever o meu aqui.

A primeira coisa que eu lembro é que eu estava voando, que nem nos meus sonhos de adolescente. Mas desta vez foi diferente. Em vez de ser o Super-Homem, eu tinha uma enorme capa preta. Opa! Não, não era bem uma capa. Era mais um manto bem comprido e esfarrapado. E eu segurava alguma coisa na mão. Tipo uma varinha mágica gigante.

Eu voava bem alto. A minha sombra era enorme, cobria tudo. E ela tinha uma espécie de superpoder: por onde a sombra passava, as coisas mudavam.

Por exemplo, eu passei em cima de uma floresta e ela virou uma plantação de soja.

Depois eu passei em cima de uma aldeia de índios, e todos eles secaram e viraram esqueletos. Uns esqueletos cheios de penas. Coisa bonita mesmo.

Aí voei por cima de uns quilombolas bem gordos. O afrodescendente mais leve pesava sete arrobas. Então minha sombra passou em cima deles e eles deixaram de ser pretos. Foram clareando até ficarem cinza. Só depois eu notei que o cinza era porque eles tinham se transformado em cinzas mesmo. É que bateu um vento e eles começaram a se desfazer como se fossem estátuas de areia.

E teve uma coisa que foi um pouco diferente. Eu vi um arco-íris e pensei: vou atravessar essa coisa. Passei bem pelo meio dele. Depois eu olhei para trás e o arco-íris tinha ficado negro. Demais!

Outro negócio louco é que tinha umas pessoas dançando e cantando. E olhando lá de cima, eles formavam um “S”. Um “S” gigante. Mas aí minha sombra transformou o “S” numa cobra. E a cobra comeu todo mundo.

Teve também uma turma com faixas e bandeiras. Era uma turma de jovens. Quando a minha sombra mágica passou por eles, todos viraram estátuas. Mas não eram estátuas de bronze, nem de ferro. Eram daquelas marrons, que nem os nordestinos fazem.

Na sequência eu vi uma fila de velhos e velhas. Todos de bengala. Tipo fila de INPS (ainda existe INPS?). Bom, quando a minha sombra passou em cima deles, todas as bengalas pegaram fogo. E depois, eles também. Ficou um monte de fogueirinha. Um negócio lindo de se ver.

Aí voei por cima do Rio de Janeiro. Quando minha sombra passou pelo Redentor, o Cristo fez revolvinho com as duas mãos e riu para mim. Legal!

Ah, lembrando agora deu pra ver que o que eu tinha na mão não era uma varinha mágica. Era uma foice. Será que eu era um comunista? Deve ser isso. Eu era um comunista e por isso tudo morria.

Bom, diário, vou para por aqui porque contar sonho é coisa de boiola. Mas foi um negócio muito estranho.

Nem sei direito se foi pesadelo ou sonho. Mas eu gostei.
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Diário do Bolso – 5

Pô, Diário, tá fogo!

Todo dia eu tenho que voltar atrás.

A palavra que eu mais tenho usado é “des”. Desfazer, despedir, desdizer.

Assim vão mudar meu apelido de “Mito” pra “Desminto”. 

É que nem disse aquele cara segurando a caveira: “Ser ou desser, eis a questão.”

Ontem teve a história do livro didático. A gente publicou um edital e teve que despublicar. Pô, o que é que tem colocar umas propagandas no livro? E por que precisa dessa tal “referência bibliográfica”. O pessoal pega tudo da wikipédia mesmo. O jeito vai ser botar a culpa no Temer.

Antes disso foi a história da base militar. Eu convidei os americanos para fazerem uma base aqui, mas todo mundo reclamou (até os militares) e tive que desconvidar.

Teve também aquele negócio do IOF. Primeiro ia ter, depois não teve, todo mundo me desdisse, me chamaram de confuso, e eu fiquei com fama de ioiô.

O Onyx, que despediu todo mundo, agora está tendo que desdespedir.

O cara da Apex, o tal de Alecxandro, fez tanta besteira em uma semana que teve que ser despachado (o que eu achei bom, porque eu nunca ia acertar o nome dele).

A Reforma Agrária ia ser suspensa e foi dessuspensa (na verdade, vai ser suspensa mesmo, mas a gente não pode sair contando por aí em memorando).

Parece que o mundo apertou aquele botão rewind do gravador e está tudo voltando para trás. Até o Olavo de Carvalho entrou nessa e disse que a Terra não gira em volta do Sol. Assim o cara me desmoraliza.

Bom, Diário, o que eu sei é que por estes dias tudo que era para ser desfoi. Assim fica difícil. Meu governo tá dando pra trás. E quem dá pra trás é boiola.
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Diário do Bolso – 6

Diário, que sonho maluco que eu tive hoje!

Sonhei que meu nariz acordou comprido que nem o do Pinóquio!

Fui dar um beijo na Michelle e ela teve que ir pro oculista. Na reunião com os ministros, quando eu virara para a direita, acertava o Paulo Guedes, quando eu virava para a esquerda, derrubava a Damares da cadeira. Foi horrível! O pior foi é que no sonho eu estava resfriado. Cada atchim que eu dava deixava todo mundo verde.

Quando acordei, eu fiquei me perguntando: “Por que que é que eu sonhei isso?”

E eu me respondi: “Acho que é porque os caras estão mentindo muito. E mal.”

Pra mentir direito tem que combinar antes, tem que ensaiar, tem que fazer bem feito.

Por exemplo, o Onyx bobeou. Usou umas notas fiscais de um amigo para receber verba de gabinete. Até aí tudo bem, quem é que não faz isso? Mas 29 notas com numeração seguida? Aí ficou na cara que a empresa do amigo dele era de fachada. O pior é que o Onyx pegou essa de mania de fazer tatuagem cada vez que é pego na mentira e agora vai ter que fazer outra. Até o final do mandato vai parecer o Aquaman.

E o Mourão? Dar emprego pro filho está certo. Acho que todo pai decente tem que fazer isso. Eu mesmo coloquei os meus na política e tá todo mundo bem de vida. Mas o Mourão não podia dizer que o garoto dele foi perseguido no governo do petê. Abriu a retaguarda, pô. Foi só os jornalistas irem atrás para ver que o menino tinha sido promovido oito vezes. Não é assim! Se quer inventar história, tem que inventar direito. Senão é melhor se fingir de morto. É o que eu sempre falo.

O Flávio até me entendeu errado e uma vez desmaiou num debate depois de uma pergunta difícil. Aí eu expliquei que não era para se fingir de morto de verdade, era só para ficar calado, não responder, essas coisas. Agora, no caso do Queiroz, ele aprendeu. Não vai falar nada. O Queiroz que se vire.

Bom, mudando de assunto, saiu a minha foto oficial. Mas eu não gostei muito, não. Parece que eu estou fazendo aquele forcinha final para soltar o pum. É que é muito difícil dar risada. Quase tive uma câimbra na boca. O meu consolo é que meu nariz saiu pequeno.
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Diário do Bolso – 7

12 de janeiro de 2019, o dia da dancinha.

Diário, eu tinha jurado que neste fim de semana não ia escrever nada em você. Mas eu não tenho descanso.

A coisa tá preta.

Não, pior que preta. Laranja.

O Queiroz quer me ferrar. Só pode ser isso. Como é que o sujeito me grava uma dancinha no Einstein. E todo mundo com camisa laranja! Será que ele é um infiltrado do PT? Não, não pode ser. Ele está há muitos anos com a família. É só uma besta mesmo.

Mesmo assim, como é que deixou vazar esse negócio? Ele tinha que espalhar um vídeo em que ele está caidão por causa da quimioterapia. E o título devia ser: “Lutando pela vida”. Mas não. O cara me aparece sambando, todo feliz. E agora, como é que eu fico? E o Flávio? E o Einstein?

Ainda bem que o Moro é do nosso time, senão ia ter condução coercitiva pro Queiroz.

Pô, minha vida não está fácil. Já vou ter que inventar uma história para explicar por que os militares vão ficar fora da previdência. Já vou ter que inventar uma história para explicar o Rodrigo Maia. E agora vou ter que inventar mais uma história para explicar o Queiroz?

Pena que o Alexandre Garcia não aceitou ser o meu porta-voz. Aí ele já inventava um negócio.

Bom, acho que vou dizer que a filmagem aconteceu no reveilom (como será que se escreve essa palavra?) e que todo mundo estava de laranja para que entrasse dinheiro.

Não, não vai colar. Entrou mais de um milhão na conta do cara no ano passado.

Ah, já sei: vou dizer que o PT colocou alucinógeno naquele soro.

Não, aí eu prejudico o hospital, que já vai ter que se explicar um bocado. E a família toda tá maluca.

Já sei! Vou dizer que a Damares fez um milagre. Isso! Ela curou o Queiroz e todo mundo está dançando de felicidade. Essa vai colar!

Ah, que criatividade! Eu devia ter sido escritor.

PS: Me ligaram agora. Preferiram dizer que a festa foi antes da operação. Mas quem é que vai acreditar que um paciente pula daquele jeito antes de tirar um câncer maligno? A minha história era bem melhor.
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Diário do Bolso – 8

Diarinho, uma das melhores coisas do poder é que a gente não tem que obedecer lei nenhuma.

Lei é pros outros. Quem tem poder faz o que quer e acabou.

Olha só: Em outubro o STF arquivou inquérito contra o Aloysio Nunes. Em novembro a Raquel Dodge arquivou o inquérito contra o Aécio. Em dezembro o Gilmar Mendes arquivou o inquérito contra o Jucá.

E agora, em janeiro, a Advocacia-Geral da União mandou o Ibama anular a minha multa por pesca irregular.

Em 2012, quando eu era só um deputadinho de um partido merreca, os fiscais me pegaram pescando lá em Angra, numa área de proteção ambiental. Na mesma hora eu liguei para o Ministro da Pesca da Dilma, aquele petista do Luiz Sérgio, mas ele falou que não podia fazer nada.

Daí eu joguei aquela frase pros fiscais: “Vocês sabem com quem estão falando?”

E os caras responderam: “Não. Mas queremos saber. O senhor pode nos passar seus documentos?”

Agora os caras sabem com quem tão falando! Bando de palhaços! Tavam pensando que eu era o quê? Um merdinha comum? Não, meu chapa, eu sou muita merda!

Rarrarrá!

A minha defesa disse que eu estava no aeroporto naquela hora. Se eu tava no aeroporto, como é que eu podia estar naquela foto. A foto é mentirosa, pô!

Eu gostei foi do que disse o Ricardo Salles: “Ele não foi multado por pescar. Ele foi multado porque estava com uma vara de pesca. O fiscal presumiu que ele estava pescando. Isso já mostra como a questão ideológica permeia a atuação estatal nesses casos”.

Ministro do Meio Ambiente tem que ser assim mesmo: cara de pau.

O que eu ia estar fazendo lá com uma vara de pesca? Salto em altura?

Quem tem poder pode segurar espingarda não está caçando, pode ter a conta cheia de dinheiro que não está roubando.

Lei é para quem não pode nada. Agora na Reforma da Previdência também vai ser assim. Pra militar, político e juiz vai ser uma coisa. Pros outros, outra. É a vida.

Até inventei um ditado: “Quem tem poder põe a vara em quem não tem.”

Rarrarrá!
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Diário do Bolso – 9

Diário, hoje eu acordei mais feliz que besouro na bosta.

É que liberei arma de fogo para todo mundo.

Isso sim é que é direitos humanos. Direito de ter uma arma, pô. O resto é mimimi. 

Ah, como e doce acordar com a sensação de dever cumprido. Quando eu fazia revolvinho com a mão, o pessoal pensava que eu estava fazendo tipo. Na verdade, era o resumo do meu discurso de campanha. Só que para surdos. Desse negócio de libras eu manjo.

Diário, que presidente pode dizer que cumpriu metade do seu plano de governo em 15 dias?! Eu posso. Tudo o que eu tinha que fazer, eu já fiz. Agora é só desfazer. Até escrevi no meu Face esses dias: “Temos muito a desfazer”. Desfazer a Previdência, desfazer a educação, desfazer as reservas indígenas… Mas o que eu tinha que fazer, já fiz. Então foi metade das minhas metas.

O Onyx ficou contentão com a nova lei. Também, nos últimos anos a Taurus despejou um caminhão de dinheiro nele. 

Agora, para completar, acho que vou propor mudar o hino brasileiro. Uma mudancinha de nada. Só um erre a mais na última linha. Aí vai ficar: “Pátria armada Brasil”. Rarrarrá!

Até amanhã, Diário.

PS: Só espero que ninguém venha me encher o saco que nem encheram o do Eduardinho, dizendo que ele gosta de arma porque tem pinto pequeno. Pô, nem é pequeno. É do tamanho do meu.
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Diário do Bolso – 10

Putz, Diário! São seis horas e já estou de pé.

Também, com o pesadelo que eu tive!

Começou com a gente correndo pelo meio da rua, perseguido por um monte de laranjas. A gente que eu digo é eu, o Flávio, a Michelle e o Queiroz.

A Michelle até gritou: “Vamos pegar umas vinte e quatro mil para fazer um suquinho”, mas eu fiz um gesto para ela (libras, né?) e ela entendeu que era para continuar correndo.

O Queiroz, que estava carregando aquele cabide de soro de hospital, ficou um pouco para trás. Então algumas laranjas começaram a alcançar o coitado. Ele tropeçava nelas, elas batiam no rosto dele e o Queiroz acabou envolvido pelas laranjas com se elas fossem uma lula gigante. Opa! Lula, não. Polvo! Um polvo gigante.

“Corram! Eu dancei, eu dancei”, ele gritou. E a gente fez isso mesmo. De longe deu para ver as laranjas jogando o coitado num espremedor gigante. Alguém tem que se sacrificar pelo grupo.

Bom, a gente continuou correndo e as laranjas voltaram ao nosso encalço. Perseguição mesmo. Tipo filme de Roliúdi (nem vou procurar para ver como escreve isso). E o pior é que as laranjas iam crescendo. Algumas já estavam do nosso tamanho.

Mas, quando elas estavam quase alcançando a gente, surgiram dois caras de capa preta.

­ – São Batmans? – a Michelle perguntou.

­ – Batmans, não. Juízes! – gritou o Flávio. – São o Moro e o Fux.

­ – Nada como um foro, digo, um Moro Privilegiado – eu disse, porque eu nunca perco a chance de fazer um trocadilho.

Aí os dois capas pretas sacaram suas espadas jedais, uma verde e outra amarela, e ficaram entre nós e as laranjas assassinas. Elas tentavam vir pra cima da gente, mas nossos heróis cortavam todas ao meio.

– Eu tive que apelar. Passei um S.O.S. pelo zap – explicou o Flavinho.

– S. O. S., não, um S.T.F. – eu falei. E os dois riram muito. Eu faço piadas ótimas em sonhos.

Bom, depois de um tempo as laranjas estavam todas em pedaços. A rua estava encharcada de sangue. Digo, de suco. Nós tínhamos vencido.

Para comemorar, fomos numa pizzaria e os juízes usaram as espadas jedais para cortar a pizza.

Mas ela estava péssima. Era uma pizza de laranja.
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Diário do Bolso – 11

Porra, Diário, eu vou ter que começar a te chamar de Madrugário, porque eu não escrevo mais de dia, só escrevo de madrugada. Que insônia do cacete!

Também, como é que dá para dormir com um barulho desses? A Janaína falou contra o foro privilegiado, a Regina Duarte quer saber quem é quem em Brasília e até o Olavo xingou o PSL (que já está sendo chamado de Partido do Suco de Laranja).

Mas o pior é que o Mourão já está mostrando as garras. Ele falou na cara dura contra o Ernesto Araújo, está se encontrando com uns líderes estrangeiros e ainda recebeu elogio de índio. Será que o Mourão vai ser o meu Temer? Bem que me disseram que general não gosta de ser mandado por capitão. Aquele dia que eu cheguei no gabinete e ele estava sentado na minha cadeira foi bem estranho. Na hora até acreditei quando o Mourão disse que só estava deixando a cadeira quentinha por causa da minha hemorroida, mas não sei não…

O que eu sei é que está foda. Liberei as armas e eu que estou no meio do tiroteio!

Daqui a pouco vão começar a perguntar com quem que o Flávio aprendeu a fazer a Rachadinha. E vão dizer que foi comigo. E se começam a fuçar as minhas contas, a do Eduardo e a do Carlinhos?

Mas quem é que não faz essas tretas? O Onyx não pegou a verba de gabinete com aquelas notas frias? Eu não embolsei os 33 mil da verba de mudança e continuei em Brasília? Isso prova que a gente é honesto, pô. Neste bolso não entra dinheiro da Petrobrás!

O negócio é saber o que eu faço agora. Mando o garoto manter a história até o fim? Mas o que a gente pode inventar? Que ele vendeu uma frota de Brasília 75 e todas custavam dois mil reais?

Ou será que eu tenho que sacrificar o meu próprio filho, feito o Abraão (ou foi o Moisés?)?

Olha, Diário, não é fácil ser pai. Um foi pego na Rachadinha, outro tem pinto pequeno e chamam o terceiro de viado.

Eu devia ter feito aquela vasectomia.
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Diário do Bolso – 12

Amigo Diário, neste fim de semana o Flavinho veio aqui conversar. Não vou lembrar de tudo, mas uma parte foi assim:

– Seja homem e pare de chorar!

– Desculpa, pai.

– Você imagina o que eu tô aguentando por tua causa? Hoje mesmo eu li no meu Face: “Vocês não são a favor da tortura? Tortura o Queiroz para ele falar a verdade”. Ou então: “Vocês não reclamavam que Cuba ficava com parte do salário dos médicos? Como é que o Flávio fica com os salários dos funcionários?”. É foda.
– Eu sei que eu errei, pai…
– Errou. E errou muito! Como é que você me dá uma dessas? Que decepção! Depósito em conta? Porra, põe o dinheiro na cueca, na meia, ou na mala, que nem o Geddel, mas não na conta.

– Pisei na bola…

– Na minha e na de todo mundo. Você vai ficar sozinho nessa. O Partido do Suco de Laranja já te abandonou.

– O PSL?

– Caraca, até eu já estou chamando o partido assim. Vamos ter que mudar de nome.

– A Globo está de marcação comigo, pai. É coisa pessoal. Nos últimos quatro anos o patrimônio do Eduardo aumentou 432% e ninguém fala nada.

– Não põe o Dudu o meio. Alguém pegou ele? Não. Então fica quieto. E vou te falar a mesma coisa que eu escrevi pro seu irmão: “Se você for preso, não vou te visitar na Papuda.”

– Nem no meu aniversário…?

– Nem. E a coisa só tá piorando. Antes era um milhão e duzentos. Agora já são sete! Vai esmerdear tudo!

– Sete milhões não é tanto assim. Vamos manter a história que ele ganhou isso vendendo carro.

– Porra, mas quem vai acreditar? Sete milhões em três anos, se cada carro custa uns vinte mil, quantos carros ele tem que ter vendido?

– Pô, pai, essa conta é difícil. Coisa de Enem. Tem calculadora aí?

– Deixa pra lá. Ninguém vai acreditar nisso! O negócio é que você botou um fuzil no meu cu e apertou o gatilho.

– Pai! Olha o palavreado.

– A gente conversa com o Olavo de Carvalho e fica falando essas baixarias. Mas não foge do assunto! Por sua causa tive que desmarcar a coletiva em Davos. Eu ia falar para o mundo inteiro e agora vou ter que ficar caladinho.

– O Moro não pode dar um jeito na coisa? Tem que despedir o comunista que vazou isso aí, pai.

– Se tem alguém que entende de vazamento é o Moro. Ele é melhor que encanador.

– Rarrarrá! Boa!

– Fecha o bico, palhaço! Só eu que posso dar risada aqui. E não vamos confiar muito no Moro, que o cara já deve estar arrependido. Aposto que tá pensando: “Pô, se eu tivesse ficado na minha, agora ia investigar os Bolsonaro e era eleito presidente em 2022.”

– O que a gente pode fazer, pai?

– Agora que o Fux parou a investigação, vamos aproveitar o tempo para descobrir o que eles sabem. Tem que ver isso daí. Depois, a saída é fazer aquela confusão com advogado, juiz, anular prova, o escambau.

– No final vai dar tudo certo, pai. Eu tenho certeza. Vamos fazer as pazes?

Aí ele me estendeu o dedinho, que nem fazia quando criança.

Eu respondi o que o Olavo de Carvalho responderia.
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Diário do Bolso 13

Diário, que dia…

Esse negócio de discurso não é comigo. O meu foi escrito durante o voo. Eu tinha 45 minutos para falar. Mas meu estilo é mais tuíter. Então rabisquei um negócio que dizia assim: “In my govern go to be all diferent, is ok?”. Bem resumidinho e já estava até em inglês.

Mas o pessoal que estava no avião disse que era curto demais. Aí cada um deu uma mexida. Quando o Moro mexeu pôs o nome dele, quando o Ernesto mexeu pôs o nome dele e quando o Paulo Guedes mexeu pôs o nome dele. Ficou um negócio meio puxa-saco, mas pelo menos ficou mais comprido. Deu quase sete minutos. Meu recorde!

Na internet falaram que eu parecia um robô, sem nenhuma emoção. Mas emoção é coisa de viado.

Depois almocei num restaurante bem fubeca. Acho que pega bem se fazer de pobre. Mas por pouco não tomei um suco de laranja. Sorte que lembrei que o pessoal podia fazer piada e troquei por um refrigerante.

Falando em laranja, estão dizendo que vai ter um boneco “Inflávio” na Paulista. E já estão chamando a gente de Família Embolsonaro, Bolsotralhas e outras porcarias. A maldade das pessoas não tem limite.

Olha, Diário, acho que até que eu não me saí mal na minha primeira viagem internacional. Opa! Primeira, não, que eu levei os garotos pra Disney. E lá foi um inferno, porque os três corriam o tempo todo brincando de milícia, polícia e ladrão.

Falando em milícia, parece que o negócio. Agora vai feder. E esse ano nem no carnaval vai dar para esquecer do assunto, porque tem aquele samba da Mangueira que fala da Marielle. Tem gente que nem morta morre!

No ano que vem tem que acabar com isso aí. Em vez de escolas de samba, as igrejas evangélicas é que deviam fazer desfiles. Tudo sobre a Bíblia. Gostei dessa ideia! Vou ligar para o Crivella!

Ou não.

Porque estou começando a desconfiar que no ano que vem posso não ser mais presidente. Vi agora a edição de ontem do Jornal Nacional. Os caras detonaram o Flávio e logo depois fizeram uma matéria toda simpaticona sobre o Mourão. Como se ele fosse um estadista.

Que isso tá com cara de golpe, tá.

A maldade das pessoas não tem limite.
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Diário do Bolso – 14

Querido diário, com a imprensa eu não falo. Não falo, não falo, não falo! Mas para ti eu me abro feito uma rosa desabrochada. Opa! Digo, feito uma metralhadora desmontada.

Ah, como estar no avião voltando para casa. Odiei cada minuto naquela terra (que ainda não sei se chama Dávos, Davós, ou Davôs). O frio era de lascar. O xixi virava gelo antes de bater na naftalina. Tá, é exagero, mas por pouco.

O pior não era mijar. Era falar em público. Pô, como isso é difícil. O meu negócio é falar para a câmera do celular, falar lá em casa para o facebook. Com um monte de jornalista e político olhando não dá.

Aquele discurso de abertura parecia que não acabava mais. Me disseram que teve menos de sete minutos, mas para mim durou mais que uma partida de futebol. E daquelas que seu time leva goleada. Que inferno! Mas eu acho que fiz uma boa retrospectiva do nosso futuro. Ou será que o certo é dizer que eu fiz uma boa previsão do nosso passado? Tanto faz. De qualquer jeito a imprensa esquerdocomunista ia dar um jeito de me criticar.

Por isso que eu não falei lá na coletiva. Acho que foi a primeira coletiva com ausência coletiva da história. Eu até cheguei cedo e sentei lá com o Moro, o Araújo e o Guedes. Mas quando eu percebi que o pessoal ia começar a entrar, me meti debaixo da mesa e chamei os três. Eles acharam ótimo não ter que falar.

O Moro não quer nem ver a imprensa, porque iam perguntar: “O senhor não diz que persegue os corruptos? O que acha do caso Queiroz? Não vai ter coercitiva?”

O Guedes não quer que perguntem do plano econômico dele, porque o plano dele é só “Vamos privatizar tudo que der”. E isso aí é mais curto que o meu discurso.

E o Araújo não quer falar porque acha que todo mundo aqui é maluco: “Como é que podem falar em aquecimento global se no encontro global faz um frio desses?”

Bom, aí nós quatro ficamos ali embaixo da mesa, esperando os jornalistas irem embora. Pra gente se distrair, ficamos jogando jokempô. Eu ganhei todas as partidas, porque pros outros só valia pedra, papel e tesoura, mas pra mim valia revolvinho. O Moro até começou a reclamar, mas aí eu disse: “Eu sou o presidente, pô. Eu que mando na lei”. E aí ele ficou calado.

Aliás, foi ótimo o Mourão ter assinado aquela mudança na Lei de Acesso à informação. E o BC já está encaminhando aquela coisa de parar de investigar parente de político. É que nem eu sempre digo: “Tem que mudar isso daí!”.

Mas o melhor de tudo, Diário, é que, enquanto eu volto, o Jean Wyllys vai embora. O Brasil está ficando cada dia melhor.

Ah, e fica tranquilo: eu vou te levar para o hospital comigo. Com a imprensa eu não falo, mas pra você eu conto tudo.
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Diário do Bolso – 15

Caro Diário, não morri.

A operação foi um sucesso. Meu intestino já está costurado. Só espero que a emenda não estoure, senão vou ficar que nem Brumadinho, rarrarrá!

Pô, esse desastre vai ser ótimo para o pessoal me esquecer um pouco. Nada como um mar de lama para encobrir outro. E ficar no hospital também vai ajudar. Por mim eu passava quatro anos aqui, sem dar entrevista nem fazer reunião. Mas vão ser só uns dez dias. Que pena…

O chato é que os militares me encheram o saco e eu tive que passar o cargo para o Mourão. Meu medo é que ele pegue gosto pela coisa.

Modéstia à parte, achei que foi uma boa sacada pedir ajuda do Benjamim Nataniel. Mas já tem pentelho dizendo que eu não quis médico cubano mas aceitei soldado israelense. É difícil agradar os esquerdopatas.

Eles estão escrevendo os maiores absurdos na internet. Dizem que eu devia prender o presidente da Vale e que eu devia reestatizar a empresa. Uns loucos! Todo mundo sabe que a Vale nem paga multa. Só no Espírito Santo são umas vinte. E como é que eu vou ser contra mineradora? A Flapa, por exemplo, praticamente obrigou que seus empregados votassem em mim, porque colocou no seu mural que se eu não fosse eleito a empresa fechava. São gente boa, pô.

A saída vai ser pegar um pato qualquer, tipo o auditor que disse que estava tudo ok. Ou então aquele secretário do meio ambiente de Minas Gerais, o tal do Germano Vieira. Se bem que ele deve ser amigo das mineradoras, porque entrou na gestão do petê e continuou com o Zema.

Bom, o que a gente tem que fazer é mostrar pros cidadões (eu falava cidadãos, mas o cara do Enem me explicou o certo) que estamos fazendo uma “colheita de provas” (essa foi o Moro que me ensinou) para apurar o que aconteceu com a bagagem de dejeitos.

Aí, quem sabe?, os vermelhos da internet se acalmam um pouco. Se bem que eles não tem dó de ninguém. Vi gente postando que a minha cirurgia era de alto risco porque separar gêmeos siameses é sempre perigoso.

Eu devia ter um saquinho de plástico só para esses chatos encherem. Em vez de bolsa de colostomia ia ser bolsa de comunistomia, rarrarrá!

Bom, Diário, agora eu vou ler um pouquinho. Eu não gosto muito de livro, que ler é coisa de viado, mas este parece bom. O nome é “Memórias de um sargento de milícias”. Deve ter um monte de tiroteio.

Até amanhã.

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