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Bolsonaro ironiza nomeação de amigo como executivo na Petrobras

Apesar de currículo compatível, novo gerente executivo da estatal – que terá salário de cerca de R$ 50 mil – sempre foi chamado de 'grande amigo' pelo próprio presidente

Alan Santos/PR

Jair Bolsonaro e o tuíte em que reduz o trabalho da imprensa, que lembrou que novo gerente executivo da Petrobras é ‘grande amigo’

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro usou mais uma vez sua conta no Twitter para, desta vez, ironizar as críticas que recebeu pela indicação de um amigo para um cargo de gerente executivo na Petrobras. “Peço desculpas à (sic) grande parte da imprensa por não estar indicando inimigos para postos em meu governo!”, escreveu o presidente. Na manhã de hoje (11), Bolsonaro anunciou, também pela rede social, que Carlos Victor Guerra Nagem será gerente executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras. Nagem foi apontado por Bolsonaro como um “amigo particular” durante campanhas políticas anteriores, segundo o jornal Folha de S.Paulo.

Ao anunciar a nomeação, o presidente afirmou que “apesar de brilhante currículo, setores da imprensa dizem que é apenas ‘amigo de Bolsonaro’.” O novo gerente executivo da maior estatal brasileira terá um salário de cerca de R$ 50 mil – a empresa não divulga os vencimentos de seus funcionários. Ele é empregado da companhia há cerca de 11 anos e atualmente está lotado em Curitiba, onde cumpre funções na área de Segurança Corporativa. Ele nunca havia ocupado cargo comissionado na estatal.

Nagem já se candidatou a cargos públicos pelo PSC duas vezes sob usando a alcunha Capitão Victor, em referência a sua passagem pela Escola Naval. Não teve votos suficientes em nenhuma das eleições de que participou.

Em 2002, disputou vaga de deputado federal pelo Paraná e em 2016, a vereador da capital paranaense. Nessa campanha, contou com o apoio do atual presidente da República, que apareceu em vídeo pedindo votos para o “amigo particular”. “É um homem, um cidadão que conheço há quase 30 anos. Um homem de respeito, que vai estar à disposição de vocês na Câmara lutando pelos valores familiares. E quem sabe, no futuro, tendo mais uma opção para nos acompanhar até Brasília”, diz Bolsonaro no vídeo.

Pouco antes da mensagem irônica dirigida à imprensa, o presidente resolveu retirar um trecho de um de seus tuítes sobre o assunto, no qual elogiava a escolha de Nagem. A princípio, ele escreveu: “A seguir o currículo do novo Gerente Executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras: a era do indicado sem capacitação técnica acabou, mesmo que muitos não gostem. Estamos no caminho certo!”.

A postagem foi alterada minutos depois sem a referência à necessidade de “capacitação técnica”, uma das bandeiras de sua campanha eleitoral: “A seguir o currículo do novo Gerente Executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, mesmo que muitos não gostem, estamos no caminho certo!”.

Atualização: Promoção viola plano de cargos da Petrobras

Para atender ao pedido do presidente e promover seu amigo, a direção da empresa violou o próprio Plano de Cargos e Remuneração (PCR) e nomeou um profissional pleno para um cargo sênior, triplicando o seu salário. 

Carlo Victor Guerra Nagem, o “amigo particular” de Bolsonaro, é capitão-tenente da reserva da marinha e funcionário da Petrobras há 11 anos, período em que também disputou cargos legislativos pelo PSC, com apoio do presidente eleito. Bolsonaro defendeu a indicação, alegando que o amigo tem um currículo com várias atribuições externas que o qualificam para o cargo.

No entanto, títulos acadêmicos não justificam aceleração na carreira ou, até mesmo, aumento da remuneração, segundo esclareceu a própria Petrobras, durante a campanha para implementação do PCR. No documento “Perguntas e Respostas sobre o PCR”, a empresa informa que “a proposta do PCR é avaliar as pessoas por suas entregas e não por suas titulações”

Profissional de nível Pleno, Carlos Victor, segundo as atribuições de carreira do PCR, teria grandes dificuldades de ocupar uma Gerência Executiva, cujas funções estão diretamente relacionadas às atribuições dos profissionais de nível Sênior.

Leia íntegra da nota da Federação Única dos Petroleiros (FUP)

Mamatas?

A nomeação de Nagem é mais uma que levanta suspeitas de favorecimento a amigos e parentes dos integrantes do alto escalão do novo governo, muitos deles sem a devida qualificação para os cargos indicados.

É o caso de Antônio Mourão, filho do vice-presidente, o general da reserva Hamilton Mourão, promovido a assessor especial da presidência do Banco do Brasil. Ele é funcionário do banco há 18 anos e ocupava um cargo de assessor empresarial cujos salários giram em torno de R$ 12 mil a R$ 14 mil. Com a promoção, fortemente contestada, passará a receber R$ 36 mil.

Na quinta-feira (10), o governo Bolsonaro sofreu sua primeira baixa, ao demitir Alex Carreiro, nomeado para dirigir a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex) – ligado ao Ministério das Relações Exteriores –, sem nem mesmo saber falar inglês, como exige o cargo. Ao assumir o posto, Carreiro executou demissões em massa de cargos técnicos e administrativos, promovendo o caos no órgão, responsável por desenvolver políticas de comércio exterior.

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