Davos

Bolsonaro fugindo de entrevista é ‘vexame internacional’, diz Estadão

Presidente comprovou que não tem condições físicas e psicológicas para ocupar o cargo, diz o jornal, caracterizado pela linha antipetista

Luciano Coelho/Folhapress

Além dos presidentes, ministros Paulo Guedes, Sérgio Moro e Ernesto Araújo também escaparam de coletiva

São Paulo – Insuspeito de ter qualquer simpatia “comunista-bolivariana”, o jornal O Estado de S. Paulo, em editorial nesta quinta-feira (24), classifica como “vexame sem precedente” o cancelamento de uma entrevista coletiva que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) deveria conceder à imprensa internacional durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Segundo o jornal conservador, a explicação que corria entre os jornalistas para o cancelamento da entrevista é que “o novo presidente brasileiro é incapaz de se comportar como um chefe de governo, ou, em termos mais simples, como uma figura pública preparada para exercer esse papel.” “A menos que surja outra interpretação”, diz o Estadão, Bolsonaro “foi incapaz de aguentar a tensão em seu primeiro teste internacional”.

Decepcionado, o jornal diz que no dia anterior, o presidente havia passado “sem brilho, mas também sem desastre”, pelo primeiro teste, quando discursou por pouco mais de seis minutos na terça-feira (22). O jornal, liberal em termos econômicos, ainda esboça elogio às declarações sobre criar condições mais favoráveis aos negócios, mas reconhecem que a fala do presidente pareceu mais um discurso requentado de campanha. “Vários ministros mexeram no discurso, que ainda assim não apresentou substância. Produziram um mexidão com ideologia e insuficiência de informação relevante.” 

A expectativa do Estadão era que, em encontros e entrevistas, Bolsonaro transmitisse ideias “mais claras”, “com maior pragmatismo”. “Mas o cancelamento da entrevista comprovou suas más condições para o exercício de uma função física e psicologicamente exigente como a que acaba de assumir.”

Eleições

Em outubro, durante as eleições, o mesmo jornal não poupava ataques ao PT, quando o partido denunciava a fraude eleitoral montada pelo esquema de caixa 2 de empresários amigos que custeavam sistema de disparos em massa de notícias falsas pelo Whatsapp, em escândalo revelado pela Folha de S.Paulo.

Um dos editoriais, republicado inclusive pelo site do PSL, partido de Bolsonaro, acusava o PT de autoritário, corrupto e demagogo, para citar alguns dos adjetivos mais brandos. “O clima eleitoral já não é dos melhores, e o PT ainda quer aprofundar essa atmosfera de rancor e medo ao lançar dúvidas sobre a lisura do pleito e da possível vitória de seu oponente.”

Vitorioso, o presidente agora constrange o distinto público de Davos, bem como os leitores do Estadão, e foge da imprensa para evitar dar explicações sobre os escândalos que envolvem o seu filho e senador eleito Flávio Bolsonaro e o ex-PM e ex-assessor Fabrício Queiroz, amigo de décadas do próprio presidente, pegos Coaf em transações milionárias “atípicas” e mantendo relações com grupos criminosos de milicianos do Rio de Janeiro.