judicialização da censura

Ao atacar a revista ‘Fórum’, Bolsonaro escancara intolerância à liberdade de expressão

O presidente e seu filho Eduardo estão processando a Revista Fórum e Lula Marques por uma foto que expõe uma conversa entre os dois. Confira a petição pública contra a tentativa de intimidação

Lula Marques

Assunto tratado era de interesse público, em um local público e envolvendo homens públicos

São Paulo – Um dos mais importantes meios de comunicação alternativos do país, a revista Fórum está sendo processada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e seu filho Eduardo, deputado federal pelo PSL-SP. O motivo da ação judicial é uma publicação da revista, de 2017, com uma fotografia produzida por Luiz Araujo Marques, o Lula Marques, expondo uma conversa comprometedora entre pai e filho por meio do Whatsapp, em plena Câmara dos Deputados, em Brasília.

Segundo a Fórum, trata-se de clara tentativa de intimidação de seu trabalho e da imprensa como um todo. Pressionado pela avalanche de manchetes e reportagens sobre escândalos de corrupção envolvendo outro filho seu, o senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), além de sucessivas polêmicas e desentendimentos entre a base de seu governo, Jair Bolsonaro, ao atacar a Fórum e Lula Marques, expõe a sua intolerância à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa. 

Em jornalismo, é ponto pacífico que a privacidade deve ser preservada, mas deve ser relativizada quando o acontecimento diz respeito ao interesse público, à opinião pública e em casos relevantes para a vida política do país. Jair Bolsonaro, um político, homem público, conversava com seu filho, outro político e homem público, em um lugar também público: a Câmara dos Deputados. O assunto tratado também era de interesse público: a eleição da presidência da Câmara. Na ocasião, o filho faltou à votação. Segundo o pai, Eduardo estava viajando a passeio e o que estava fazendo poderia levá-lo à cadeia da Papuda, em Brasília. Esta é a revelação feita pela fotografia de Lula Marques. 

Ou seja, no caso escolhido por Bolsonaro para colocar em prática a chamada “judicialização da censura”, é a faceta pública da vida do capitão reformado e deputado por quase três décadas que prevalece, o que desmonta o seu argumento na ação judicial. 

Saudoso da ditadura militar, cujo expediente para os meios de comunicação era o da censura e da mordaça, Jair Bolsonaro e seu clã mostram extrema indisposição para conviver com a liberdade de expressão. Sem liberdade de expressão, não há democracia. Para quem se declara defensor da tortura e admirador de torturadores, talvez não seja problema. Para a sociedade brasileira e os signatários desta nota, trata-se de violação grave aos princípios que balizam uma sociedade democrática e o livre exercício do jornalismo. 

A intolerância em conviver com a divergência por parte do presidente, de seus filhos e das figuras políticas que os acompanham é gritante. O recado que fica é de que, se com Michel Temer os meios de comunicação que nadam contra a corrente de um sistema midiático dominado por um punhado de famílias já entraram na mira, com Bolsonaro a animosidade deve aumentar. A ação movida contra a Fórum e Lula Marques é, para além de uma clara tentativa de intimidação, não apenas um sintoma de incapacidade, por parte do presidente da República, de respeitar a liberdade de imprensa e de expressão, mas a sua sanha irrefreável de calar oponentes. 

Assinam esta nota: 

Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé 
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) 
Laura Capriglione – Jornalistas Livres 
Lucia Rodrigues – jornalista 
Kiko Nogueira – DCM 
Lourdes Nassif – Jornal GGN 
Luís Nassif – Jornal GGN 
Conceição Lemes – Violando 
Paulo Souza – Rede Brasil Atual 
Ana Flávia Marx – jornalista 
Igor Felippe, jornalista e militante do MST 
Paulo Salvador – Rede Brasil Atual 
Leandro Fortes – jornalista 
Rodrigo Vianna – jornalista 
Aparecido Araújo Lima – jornalista 
Vanessa Martina Silva – jornalista 
Paulo Cannabra Filho- jornalista 
Carlos Tibúrcio, jornalista 
Paulo Teixeira, deputado federal (PT-SP)

Assine a petição pública contra a tentativa de censura