Liberdade

Ato por Lula marca 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Evento no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC lembrou o artigo 10º da Carta, que garante julgamento justo a todo cidadão. Lideranças reafirmam que direito do ex-presidente está sendo violado

ricardo stuckert

‘Defender os direitos humanos é lembrar que Lula estaria hoje sendo diplomado, pela terceira vez, presidente do Brasil’

São Paulo – Lideranças políticas do campo progressista de todo o mundo estiveram presentes na noite de ontem (10) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, para o Ato Internacional Lula Livre. Durante o evento, os discursos chamaram a atenção para a data, que marcou o 70º aniversário da Declaração Internacional dos Direitos Humanos. Os ativistas alertam que a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva possui vínculo com o marco, já que enxergam motivação política para tal.

O direito a um julgamento justo está presente na declaração, em seu 10º artigo. Foi o que disse, em discurso emocionado, o advogado fundador do PT Luiz Eduardo Greenhalgh: “Lula quer o que está escrito na carta. Quer um julgamento justo. Ele quer o devido processo legal, o que a declaração diz (…) Ele grita que não existem provas para estar preso, que é um preso político”. Também seguiram nesta linha o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad, que foi candidato ao pleito presidencial deste ano e leu uma carta de Lula, escrita especialmente para este evento.

“Defender os direitos humanos é lembrar que Lula estaria hoje sendo diplomado, pela terceira vez, presidente do Brasil. Infelizmente, hoje, comanda o país alguém que desconhece a história do povo na luta pelos direitos civis, direitos políticos, direitos sociais e direitos ambientais”, disse Haddad, em referência à diplomação do presidente eleito, representante da extrema-direita no Brasil, Jair Bolsonaro (PSL). “É uma trágica ironia que nós, no dia de hoje, comemoramos 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos no mesmo dia em que Bolsonaro é diplomado”, completou.

Haddad lamentou o fato, e não poupou referências diretas ao presidente eleito. “Talvez não tenha um paradoxo maior do que esse. Se tem uma pessoa que representa o repúdio a tudo que foi construído no pós-guerra em proveito das mulheres, negros, trabalhadores, maiorias e minorias, essa pessoa é o presidente diplomado. Isso só acontece porque Lula foi impedido de participar das eleições. Todas as pesquisas davam a ele ampla margem de vantagem sobre o segundo colocado.”

Sobre o futuro incerto, a liderança petista concluiu que “vamos inaugurar uma jornada de lutas para impedir os retrocessos. Estaremos irmanados com aqueles que acreditam no horizonte de cada um de nós. Nisso estamos engajados. No nosso ponto de vista, a bandeira da liberdade do Lula se insere nesse contexto. A luta por um julgamento justo é a luta que representa gerações de democratas. Lula livre é uma bandeira que se insere nos direitos humanos”.

Solidariedade

O presidente estadual do PT, Luiz Marinho, afirmou não saber ao certo quando Lula poderá deixar a prisão, mas que continuará solidário. “Hoje um taxista disse que Lula vai sair dia 19. Não sabemos, mas tomara. Eu estarei na Vigília nas duas ceias, no Natal e ano novo para levar energia para Lula. Que não deixem a chama da Vigília diminuir. Precisamos de todos os militantes revezando para manter a chama mais forte do que nunca”, afirmou, e concluiu que “perdemos uma eleição, mas não a guerra”.

Já o anfitrião, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Wagner Santana, o Wagnão, falou sobre a história do ex-presidente e sobre os efeitos de uma prisão injusta. “Lula é presidente de honra desta Casa. Foi metalúrgico. Aprendeu perdendo várias coisas que lhe foram caras. Mas nunca abandonou a luta pela transformação desse país e desse mundo. Lutar por Lula livre é a honra àqueles que assinaram essa declaração 70 anos atrás. Não existe pessoa melhor relacionada a essa luta como aquele homem que está preso. Se violam o direito de um companheiro que chegou à presidência, imagina o que são capazes de fazer com cada um de nós, com aqueles distantes de nós.”

A presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), seguiu na mesma linha ao afirmar que “Lula paga pelo que ele fez, pelo que ele permitiu a este país. Nos governos do PT o povo brasileiro conheceu direitos mínimos como o de comer. Neste país sempre teve fome, sempre foi naturalizada. Mas veio o Lula e disse que não era normal e mostrou que todos podiam ter três refeições por dia. Lula deu luz elétrica para parte do país que não tinha. Não haverá pacificação neste país enquanto não tivemos Lula livre.”

Pelo bloco internacional que esteve presente, o ex-chanceler da Argentina e atual deputado do Mercosul, Jorge Taiana, do Partido Justicialista, disse trazer “a solidariedade do povo argentino”. “Quero dizer que não pensem que estão sós. Lula não está só, em Curitiba. Os metalúrgicos do ABC não estão sós. O povo brasileiro tem o apoio de todo o povo da América Latina e dos trabalhadores do mundo, que têm o seu principal objetivo a defesa dos direitos. Nada melhor do que estar aqui no aniversário da Declaração. Estamos defendendo os direitos de um homem injustamente privado de sua liberdade e estamos fazendo aqui, na casa dos que lutam pelos trabalhadores.”

Por fim, Isabel Moreira, deputada do Partido Socialista de Portugal, falou sobre a importância da solidariedade. “Sendo socialista, sou internacionalista. Por isso estou aqui e por isso ‘sou brasileira’. Nunca foi tão importante como agora ser de esquerda e, por isso, nós, progressistas, temos de dar força a esse movimento, unidade. Haddad disse, em sua campanha extraordinária, para que não tenhamos medo. Lula não é um homem vencido, é um homem vencedor. Ele representa o progresso e se transformou em um preso político. Todos estamos encarcerados. E temos que nos recusar a sermos cúmplices. Por isso estamos aqui.”

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