História

Proclamação da República foi um golpe da elite que queria branquear o país

Branquear o país significava marginalizar seus descendentes, impedir seu acesso ao estudo, ao trabalho, à terra. 'Desenrola-se um processo de exclusão social', diz professor da UFABC

‘Proclamação da República’, 1893, tela de Benedito Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca de São Paulo

São Paulo – A Proclamação da República, celebrada neste 15 de novembro, foi um movimento alheio à participação popular, sem envolvimento social e articulado por alguns setores da elite em conjunto com setores militares. Quem explica é o professor de Ciências Econômicas Ramatis Jacino, da Universidade Federal do ABC (UFABC), para quem foi a disputa de poder entre setores da oligarquia, e não um consenso nacional por um avanço civilizatório, que conduziu a ação capitaneada pelo marechal Deodoro da Fonseca em 1889. 

Em bom português, um golpe civil-militar, como se veria mais adiante em outros momentos da história do Brasil. Havia grupos que se articulavam em torno da monarquia e a mantinham como sistema de governo, e na ocasião surgia fortemente uma nova elite do agronegócio cafeeiro, que criaria o Partido Republicano. “Não havia uma demanda popular para isso.”

O movimento se situava num ambiente de mudança na composição econômica do país, que um ano antes, sob a influência inglesa que crescia pleiteando a ampliação de mercados consumidores, havia abolido a escravidão.

Ramatis Jacino é pesquisador do período de transição do trabalho escravo para o trabalho livre, como os ex-escravizados sobreviviam no novo modelo econômico e como aquela sociedade em construção se comportava em relação aos negros oriundos do cativeiro. A influência daquelas transformações e seus impactos nas relações de raça, gênero e na composição da renda nacional é o foco de seus estudos. 

Nesta entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, Jacino explica que havia uma expectativa desse setor ascendente da elite de “branquear” o país. “Branquear o país significava marginalizar e desescravizar seus descendentes. Daí vem também o movimento de fortalecimento da imigração, combinado com um impedimento (dos desescravizados) de acesso ao estudo, ao trabalho, à terra. Desenrola-se todo um processo de exclusão social dessa população.”

Embora o sistema republicano represente, em tese, um avanço civilizatório – que se definiria melhor na metade do século 20, o povão se sentia tão pouco representado pela elite dita republicana que acabava defendendo a monarquia. Grandes movimentos sociais que eclodiram, com em Canudos (BA), com Antônio Conselheiro, e do Contestado (SC), eram monarquistas, diz o professor.

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