NOVO CICLO

Dirceu: As forças de direita não toleram a democracia

Ex-ministro lança livro de memórias em Brasília, pede que a oposição ao governo Bolsonaro apresente propostas concretas e diz que país vive retrocesso 'democrático e cultural'

Lula Marques

“Hoje temos mais condições de resistir, mas é preciso avaliar os sinais”

Brasília – Parlamentares de vários partidos, militantes do PT e sindicalistas realizaram na noite dessa quarta-feira (7), no Sindicato dos Bancários de Brasília, o que foi considerado o primeiro ato político de resistência e oposição ao governo de Bolsonaro na capital do país. No lançamento de seu livro de memórias, o ex-ministro José Dirceu fez comparações do atual momento político com o cenário de 1964 e defendeu que o PT faça uma oposição voltada para a apresentação de propostas concretas, retomando o contato com as ruas.

“Todas as vezes em que, no Brasil, conseguimos constituir uma força política social, as forças de direita se aliam a forças militares e conseguem retomar o poder”, disse. “O pano de fundo deles sempre é patrimônio, renda e riqueza. Eles não toleram a democracia.”

O ex-ministro destacou ainda que o país vive “não só um retrocesso social e econômico, mas também democrático e cultural, norteado pelo controle das escolas, da comunicação, de ações que estão sendo anunciadas como o ‘Ministério da Família’ e ‘a Escola Sem Partido’”.

Condições de resistância

“Este é o momento de termos consciência da força política que somos. Em 1964 não restaram 14 mil sindicatos como temos hoje. Naquela época, centenas de milhares de trabalhadores foram demitidos, houve uma repressão amplíssima. Hoje temos mais condições de resistir, mas é preciso avaliar os sinais”, ponderou.

A oposição que se forma no país não pode apenas resistir, segundo ele, mas apresentar propostas. “A sociedade está observando o novo governo que tomará posse em janeiro. Precisamos ter uma coordenação nessa resistência, pensar no futuro dados os riscos porque não sabemos aonde pode nos levar esse trem.”

Dirceu traçou outros paralelos entre o cenário atual e o do início da ditadura civil-militar, lembrando que o mote moralista da campanha de Bolsonaro já foi utilizado em outros momentos da vida política nacional. “O golpe de 64 foi contra a corrupção, Collor foi eleito dizendo que iria caçar os marajás, A corrupção sempre é usada como uma bandeira da direita. Não que não se tenha de combatê-la, mas hoje ninguém duvida que a Lava Jato foi usada para ajudar na eleição do candidato que foi eleito com o argumento de combater a corrupção”, acrescentou.

“Querem sair da crise cortando gastos sociais e vendendo ativos do país. Sabemos o que vem por aí, é o de sempre. A diferença é que desta vez possuem respaldo popular. Essa é a questão que temos que avaliar. O que nos faltou? Onde estávamos quando as igrejas evangélicas, com suas fake news, inundaram nos sermões críticas ao kit gay com informações falsas contra o PT? Não estamos ao lado do povo na luta por educação, por transporte. Essa é a realidade que temos de enfrentar”, afirmou o ex-ministro.

Liberdade de Lula

A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi outro tema abordado por Dirceu. “É preciso dar continuidade a esta luta, num outro patamar. Todos sabem do papel de Lula e do legado que ele tem hoje e terá nos próximos anos”, observou.

O ex-ministro destacou a importância de se entender que a vitória destas forças não tira a legitimidade da vontade popular expressa nas urnas, já que desta vez o futuro mandatário do país é alguém eleito. “Mas também não podemos deixar de lembrar e avaliar que essa vitória aconteceu porque nosso candidato, o presidente Lula, foi impedido de entrar na disputa. Caso contrário teria sido ele o eleito”, ressaltou.