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‘Indicação de Moro para ministério comprova prisão política de Lula’, diz Gleisi

Após visita ao ex-presidente, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, argumentou que a indicação representa conflito de interesses e que Lula está indignado com a nomeação de seu algoz para o ministério

ebc/lula marques

‘Gostaríamos de saber desde quando essa articulação de Bolsonaro com Moro existe’, afirmou Gleisi

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou hoje (1º) com a presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), sobre a aceitação do juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato no Paraná, para ser ministro da Justiça do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). Para eles, existe um conflito de interesses, visto que ele foi o responsável pela sentença inicial que condenou Lula.

“Lula está indignado com essa notícia da nomeação de seu algoz como ministro da Justiça. Só confirma o que tínhamos denunciando que ele mesmo sempre falou. Ele é vítima de um julgamento iminentemente político”, disse Gleisi, na porta da sede da Polícia Federal do Paraná, onde Lula está preso desde 7 de abril.

Gleisi afirmou que é “muito estranho o juiz que o condenou agora passa a ser executor da pena como parte do próximo governo. É um escândalo mundial, basta ver as manchetes dos jornais do mundo.” 

Ela reafirmou que o fato enfraquece o Judiciário brasileiro frente ao mundo. “O Brasil está pagando outro vexame internacional. Vai ser muito ruim para o Judiciário brasileiro. O processo do Lula está cheio de vícios. Ele questiona qual a prova para a prisão, mas na realidade o próximo ministro da Justiça foi quem ajudou Bolsonaro a ganhar a eleição.”

Além da sentença contra Lula, que o PT, bem como inúmeros juristas, considera fraca e com ausência de provas concretas, outras ações de Moro expõem seu comportamento partidário. “Impediu Lula de ser candidato, durante o processo eleitoral soltou uma delação do Palocci que não tinha sido homologada, para fazer debate político, e o MP entrou nisso também. Moro ajudou Bolsonaro a ganhar a eleição e agora o vice-presidente eleito atestou hoje que Paulo Guedes já tinha feito acertos prévios com Moro para ser ministro da Justiça antes do primeiro turno”, disse Gleisi.

A bancada do PT entrou com uma representação junto ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que averiguem a situação. “Gostaríamos de saber desde quando essa articulação de Bolsonaro com Moro existe para que ele ocupe um superministério. Reforçamos que o CNJ paute a denúncia que fizemos como bancada para investigar o vazamento do grampo da Dilma para impedir Lula de ser ministro. Creio que desde lá essa articulação vem sendo feita para desestabilizar e impedir que Lula participasse das eleições. Moro alçado a superministro da Justiça. Consideramos um escândalo. Isso só confirma que o processo que condenou Lula é absolutamente político. Está preso para não ter sido candidato e proporcionar que Bolsonaro ganhasse as eleições. Isso fica evidenciado com o aceite de Moro para o ministério.”

Agenda neoliberal

Além de Gleisi, o ex-ministro Aloizio Mercadante falou sobre as primeiras indicações de caminhos que Bolsonaro deve adotar como presidente, como a fusão dos ministérios da Fazenda e do Planejamento. “Bolsonaro repete a estratégia de Collor de criar um ministério da Economia. A experiência mostra que isso dificulta a gestão do Estado. O ministério do Planejamento é responsável pelas carreiras do funcionalismo, gestão do orçamento. Você preserva a Fazenda para seu principal papel que é consistência macroeconômica e responsabilidade fiscal. Está sobrecarregando um ministro que não tem experiência.”

Sobre a fusão das pastas da Justiça e da Segurança Pública, que devem ficar sob comando de Moro, ele disse que “Polícia Federal, CGU, todo o poder político policial estará nas mãos de um único ministério que vai ser a construção de um Estado autoritário que vai aprofundar esse Estado de exceção seletivo que vivemos.”

“O que esse ministério tem a ver com a criminalização dos que lutam por moradia ou por terra em um dos países mais desiguais do planeta. Problema de moradia é de política pública, problema da terra é reforma agrária. Não é questão de polícia e muito menos de terrorismo. Isso é um retrocesso brutal na história da democracia. Temos neoliberalismo de um lado e o Estado autoritário com sinalização clara para a perseguição da oposição”, finalizou.