Articulações

Haddad quer frentes em defesa dos direitos civis e sociais no Congresso

Ex-candidato do PT à presidência confirmou que viaja aos Estados Unidos na semana que vem para participar de reunião de lançamento da Internacional Progressista, ao lado do democrata Bernie Sanders

Ricardo Stuckert

Haddad anunciou que, na viagem aos EUA, poderá entrar com uma ação judicial contra o WhatSapp

São Paulo – Após reunião com as bancadas do PT da Câmara e do Senado, além dos parlamentares eleitos em 2018, o ex-candidato à presidência da República pelo partido, Fernando Haddad, afirmou em entrevista coletiva a intenção de construir uma “ampla frente (de oposição ao governo de Jair Bolsonaro) contra qualquer tipo de retrocesso no campo dos direitos”. Ele falou a jornalistas ao lado dos deputados federais Paulo Pimenta (líder do PT na Câmara) e Maria do Rosário (RS), e dos senadores Humberto Costa (PE) e Gleisi Hofmann (PR), presidenta da legenda.

Segundo Haddad, há a necessidade de serem criadas duas agendas para congregar forças diferentes: a defesa dos direitos sociais deve ser enfrentada por uma frente mais restrita à centro-esquerda, enquanto a defesa dos direitos civis pode ser formada por representantes de um espectro que congregue forças “até a centro-direita”.

“Há duas considerações. A primeira é sobre direitos sociais. A pauta dos direitos sociais vai definir um determinado recorte de alianças partidárias. Não vai congregar talvez um amplo espectro que possa somar forças com a centro-direita, que muitas vezes se alinha à agenda neoliberal”, disse. De acordo com ele, essa aliança fará a defesa, por exemplo, do Sistema Único de Saúde (SUS), e contra o contingenciamento de verbas voltadas a direitos da população relativos a serviços públicos.

“Entendemos que há uma outra agenda de direitos civis, que pode ser mais ampla e congregar setores do Congresso Nacional, inclusive da centro-direita, comprometidos com o não retrocesso”, disse. Segundo o ex-prefeito paulistano, essa segunda agenda conterá, por exemplo, a defesa da escola pública laica e do magistério brasileiro. A expectativa dos petistas é de que a frente de defesa dos direitos civis deve contar com apoio de setores que não concordam que “os professores sejam inimigos públicos número um”, por exemplo.

Haddad confirmou também que viajará aos Estados Unidos na semana que vem para participar de reunião da chamada “Internacional Progressista”, a convite do ex-ministro das Finanças da Grécia Yanis Varoufakis. O movimento conta com a presença do senador norte-americano Bernie Sanders, do Partido Democrata dos Estados Unidos.

Em julho, Sanders, que foi pré-candidato ao governo dos EUA em 2016, assinou um documento junto a 28 parlamentares do partido Democrata em solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O lançamento do movimento está marcado para o dia 1º de dezembro em Nova York. Segundo a Folha de S. Paulo, o grego Varoufakis enviou uma carta a Haddad em 16 de novembro.

O ex-prefeito paulistano anunciou ainda que, na viagem aos EUA, poderá entrar com uma ação judicial contra o WhatsApp, “para que (a empresa) preste contas do que fez aqui (nas eleições de 2018), desconhecendo a jurisdição das autoridades brasileiras”.

Ele afirmou que a iniciativa de ir à Justiça norte-americana está sendo avaliada, e que a intenção da possível ação não é ter acesso aos “micro dados” ou à privacidade das pessoas, mas que a empresa forneça “macros dados, para que eles digam o que aconteceu nas eleições brasileiras, quem financiou, quantas mensagens, para beneficiar quem? As redes sociais devem ser utilizadas em benefício das pessoas, não para destruir a democracia”.

Haddad disse que a mobilização contra o crescimento da direita deve se estender à Europa, onde a “centro esquerda europeia que se sente também ameaçada”, em países como Portugal, Itália, França e Alemanha, além dos sul-americanos Uruguai e Chile. “É preciso mobilizações internacionais, uma vez que o conservadorismo é mundial”, disse.

O vice-líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), disse hoje em Brasília que a decisão do juiz Leonardo Barreiros, da 5ª Vara Criminal da Barra Funda, de São Paulo, de instaurar ação penal contra Haddad, com base em delação premiada sem prova, é ilegítima. Para Teixeira, o promotor responsável pela denúncia, Marcelo Mendroni, “tem mais de uma dezena de denúncias rejeitadas pela Justiça, que não as acatou exatamente pela forma leviana com que faz suas denúncias”, disse.

Lula

O desembargador João Pedro Gebran Neto, relator da Operação Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sediado em Porto Alegre, negou pedido dos advogados de Lula para que ele seja interrogado novamente na ação penal sobre o terreno do Instituto Lula e a compra de um apartamento em São Bernardo do Campo.

Segundo a defesa do ex-presidente, como o juiz Sérgio Moro deixou a 13ª Vara Federal de Curitiba, Lula teria o direito de ser ouvido outra vez. A juíza Gabriela Hardt, que substituiu Moro, já havia negado pedido dos advogados por novos interrogatórios. Os advogados do ex-presidente vão recorrer.