Política?

‘Estilo de governo’ com militares em ministérios pode descambar para o autoritarismo

Para cientista político Wagner Romão, escolhas de Bolsonaro inserem 'uma posição de força em um ambiente que deve ser o da pluralidade política, do respeito e da negociação'

Arquivo EBC

“O que realmente ele (Bolsonaro) está fazendo é delegar aos grupos de interesses seu poder”, afirma Wagner Romão

São Paulo – Na análise do professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão, as escolhas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para os ministérios de seu futuro governo têm refletido a possibilidade de outro estilo de governo, que pode trazer problemas no futuro.

O professor concorda com o que diz em artigo no jornal Valor Econômico o cientista político Fernando Limongi, que aponta para uma substituição do presidencialismo de coalizão pelo “presidencialismo de delegação”, com as pastas sendo chefiadas por personalidades ligadas aos interesses dos setores que representam.

“O que ele (Bolsonaro) realmente está fazendo é delegar aos grupos de interesses, que têm capacidade de articulação política, a sua tarefa que é exatamente de articular e organizar o seu poder”, avalia Romão em entrevista ao jornalista Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

Outro aspecto que chama a atenção na montagem da máquina do governo é a nomeação de militares. Nessa segunda-feira (26), o presidente eleito anunciou, mais uma vez por sua conta no Twitter, a indicação do general-de-divisão Carlos Alberto de Santos Cruz para a Secretaria de Governo. Agora, são quatro militares entre as seis autoridades com gabinetes próximos ao presidente eleito, o que pode ser problemático, segundo Romão.

“Ele está fazendo uma espécie de ‘dispositivo militar’, já que está eliminando o espaço que seria daqueles políticos de carreira, como o Onyx Lorenzoni, indicado para a Casa Civil, que, com a escolha de Santos Cruz para a Secretaria de Governo, fica em uma posição enfraquecida antes do início do próprio governo”, afirma.

“O que parece ser um problema é que esse outro estilo de governo pode descambar para um autoritarismo, uma posição de força contra a política de maneira geral”, aponta. “Quando você coloca militares (em ministérios), a questão não é se eles são bons ou maus gestores, mas sim que se agrega uma posição de força em um ambiente que deve ser o da pluralidade política, do respeito e da negociação.”

Ouça a entrevista completa:

Você pode conferir a partir de 44’10

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