do nocaute

Assessor de Trump derrubou diplomata brasileiro crítico à invasão do Iraque

Ex-ministro Celso Amorim descreve perfil do assessor de segurança dos EUA saudado por Bolsonaro com continência de subordinação. John Bolton já propôs fim da ONU

Divulgação/ASS

Bolton também teria convidado Bolsonaro para visita oficial aos EUA

São Paulo – O assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, que se encontrou com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) nesta quinta-feira (29) no Rio de Janeiro, foi responsável pela derrubada do então diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), o embaixador brasileiro José Maurício Bustani em 2002. 

Naquele momento, a Opaq, órgão ligado à ONU, havia concluído após diversas inspeções que o Iraque não possuía armas químicas, pretexto utilizado pelo governo do presidente republicano George W. Bush para promover a invasão daquele país em 2003.

Segundo o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, Celso Amorim, as conclusões do órgão comandado por Bustani – a quem classifica como “grande embaixador”, “homem correto e inteligente” – não atendiam aos interesses de Washington.

“Não servia à narrativa que estava sendo construída para justificar o ataque a Bagdá. Então era muito importante que a Opaq mudasse a sua narrativa ou se omitisse. Bustani se recusou a se dobrar a essas exigências, cujo emissário principal era o Bolton, então secretário para controle de Controle de Armas no Departamento Estado norte-americano”, relata Amorim ao Nocaute, blog do jornalista Fernando Morais.

“Ele entrou no meu escritório, me ameaçou e deu 24 horas para que eu renunciasse”, relatou o próprio Bustani em entrevista ao The Intercept Brasil, em março deste ano, quando Bolton foi escolhido assessor do presidente americano Donald Trump. 

A derrubada de Bustani causou constrangimento internacional, pois o diplomata havia sido reeleito por unanimidade, em 2000, para seguir à frente do órgão, em reconhecimento pelo trabalho prestado desde 1997, quando a Opaq foi fundada. 

Poucos anos antes desse episódio, Amorim conta que se encontrou com Bolton num seminário na Universidade de Harvard, onde mais tarde atuaria como professor visitante. “Me impressionou muito, porque o Bolton, já nessa época, defendia o fim das Nações Unidas. Ele não era simplesmente uma pessoa da direita americana. Ele era uma das pessoas de visão mais extremada da direita norte-americana.”

“Essa é a pessoa de quem nós estamos falando. Um homem que queria acabar com a ONU, que não quer as normas internacionais, que derrubou de maneira totalmente absurda o nosso compatriota”, diz Amorim.

Tido como um “falcão” na Casa Branca, Bolton adota retórica ainda mais agressiva que Trump, ao defender uma ação militar norte-americana contra a Coreia do Norte, por exemplo. Ele também defendeu a saída dos Estados Unidos de acordo com Irã, que retirou sanções em troca da regulamentação do programa nuclear iraquiano. O acordo foi rompido por Trump em maio deste ano. 

Durante a campanha, Bolsonaro também defendeu a saída do Brasil da ONU, mas depois voltou atrás. “Se eu for presidente eu saio da ONU, não serve pra nada esta instituição”, disse Bolsonaro em agosto, durante evento na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ). “É uma reunião de comunistas, de gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul, pelo menos.”

Bolsonaro diz que conversou com Bolton sobre Israel, Cuba e Venezuela, além das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. O presidente eleito, que durante a campanha comparou seu estilo ao de Trump, também prometeu “grande aproximação” com os americanos.

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