Eleições 2018

Votos brancos e nulos devem cair com polarização entre Haddad e Bolsonaro

Para o Legislativo, anular ou deixar de votar é perder a oportunidade de melhorar a qualidade da representação. 'É um protesto tolo', afirma analista do Diap

Divulgação/TSE

Votos brancos e nulos são excluídos dos votos válidos e não valem como forma de protesto

São Paulo – De acordo com as últimas pesquisas Datafolha e Ibope sobre as intenções de voto para a disputa presidencial, os votos brancos e nulos somam cerca de 10% do eleitorado. São números que estão dentro da média histórica das eleições realizadas desde a redemocratização. A disputa polarizada entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) deve inclusive estimular o eleitor a escolher um dos lados, de modo a evitar que o opositor vença a disputa.

Ainda assim, há aqueles que acreditam que o voto branco ou nulo possa ser uma forma eficiente de protestar contra qualidade da classe política como um todo. Contudo, aqueles que apertarem a tecla “branco” ou digitarem um número que não corresponde a nenhum candidato e “confirmar” vão desperdiçar uma oportunidade de melhorar a qualidade da representação, já que esses votos não serão computados como válidos. Ao contrário de boatos que sempre circulam nesse período, não há previsão na legislação eleitoral que o pleito possa ser anulado se brancos ou nulos atingirem mais da metade dos votos.

“A polarização vai reduzir o número de votos brancos e nulos. As pessoas vão se motivar a punir as duas forças em disputa. Quem é contra o PT, vai votar no Bolsonaro. Quem é contra o Bolsonaro, vai votar no candidato que tiver mais chance de batê-lo. Esse índice deve ficar abaixo de 10%, na nossa avaliação”, avalia o analista político do Diap, Antônio Augusto de Queiroz, o “Toninho”. 

Segundo ele, deixar de votar, seja para presidente, seja para o Legislativo, é uma forma de protesto “tolo” porque os representantes serão eleitos da mesma forma. “Significa que é ruim que deixem de votar. As pessoas que mais desejam a renovação, as que mais questionam a política, são aquelas que anulam ou se abstêm. Deixam assim de contribuir para que haja uma renovação qualitativa”, explica o analista. 

O cientista político Francisco Fonseca, professor da PUC-SP e da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV), concorda com a avaliação. “Temos dois grandes temas nessa eleição: a direita e a antidireita, o petismo e o antipetismo, a civilização e a barbárie. Isso deve fazer com que o eleitor saia da posição de isenção e opte por votar, para impedir a eleição daquele que considera inaceitável ou para escolher quem acredita. Por isso deve haver uma reversão nas expectativas em relação à alta nos votos branco, nulo e abstenções”.

Segundo ele, a disputa atual não deve repetir fenômeno registrado nas eleições municipais de 2016, quando nas principais capitais do país – São Paulo e Rio de Janeiro – João Doria (PSDB) e Marcello Crivella (PR) venceram com menos votos do que a soma dos “não votos”. 

“Há dois anos, a disputa municipal foi a eleição da Lava Jato, assim como a própria figura do Bolsonaro é criação da Lava Jato. Ao tentar liquidar uma parte do sistema político, deu terreno fértil para que essa direita reacionária crescesse. Hoje a operação Lava Jato caiu no descrédito da maioria dos brasileiros. Moro não é juiz, é um militante político que defende as elites, o PSDB, a entrega das riquezas nacionais para o exterior”, afirma o professor. 

Congresso

Independentemente de quem vença a disputa presidencial, Toninho diz que pautas “restritivas e excludentes”, centradas no corte de gastos, devem ter destaque na próxima legislatura, o que aumenta a importância do voto. “Aqueles que se omitem serão potenciais vítimas desse processo, porque não contribuíram para eleger alguém que pudesse eventualmente fazer o contraponto, reduzindo o impacto negativo de algumas dessas políticas etc. A omissão é trágica, desse ponto de vista”, alerta.

Ele explica que há dois tipos de alinhamento de atuação parlamentar. O primeiro, em termos de posicionamento entre situação e oposição. O segundo, em termos ideológicos, de visão de mundo do parlamentar e do partido ao qual pertence. “Os parlamentares à esquerda do espectro político tendem a votar a favor daquelas políticas que vêm em benefício da população, que protegem os mais necessitados, independentemente de ser oposição. São pautados pela ética da responsabilidade e deixam em segundo plano a ética da convicção, na medida em que votam a favor de  propostas que, embora partindo da oposição, coincidam em parte com o seu programa e visão doutrinária.”

Já para os setores mais à direita, a lógica do parlamentar é inversa, segundo o analista. “Se é um partido de esquerda que está no governo, ele vota contra de qualquer maneira. Mais radicalizado. Eventualmente, alguns setores até admitem o voto pautado na ética da responsabilidade, mas esse número é baixo.” Deputados e senadores desse campo tendem a adotar uma postura pró-mercado, com vistas à ampliação da competitividade e da lucratividade das empresas. “Trabalham em favor da iniciativa privada e pretendem utilizar os recursos e poderes do Estado não para promover inclusão, mas para melhorar o chamado ambiente de negócios, criando condições para que o capitalismo se dê sem risco e com lucro assegurado.”

Bancadas

Sobre a organização das bancadas dos partidos no Congresso Nacional, o analista do Diap prevê avanço da bancada progressista, mas também aposta no crescimento da chamada “bancada da bala”, com parlamentares ligados à pauta da segurança, bem como de representantes evangélicos. “Haverá pequeno crescimento da esquerda, pequeno crescimento da direita, e uma leve redução do centro. Mas continua tão ou mais conservador quanto o atual, em relação a valores, comportamentos e costumes. Tende a ser mais liberal que o atual, por conta da crise fiscal existente e da intolerância do mercado em relação a qualquer ação que possa significar redução na margem de lucro ou interferência na gestão.”

Já o professor da PUC-SP diz que, se confirmadas as previsões do Diap, o fortalecimento da bancada progressista representará uma derrota política para os defensores da Lava Jato. “A grande mídia e a operação Lava Jato acharam que iriam extirpar o Partido dos Trabalhadores e os partidos de centro-esquerda. Isso não está acontecendo, já que o Haddad aparece em segundo lugar e os partidos de esquerda devem ampliar suas bancadas”, diz Fonseca. 

Toninho dá dicas de como orientar o voto para o Legislativo: “Primeiro é o projeto de visão de mundo. Quer um Estado voltado para o mercado ou voltado para atender a população? A segunda coisa é analisar a trajetória dos candidatos, como se comportaram quando exerceram cargos ou a que grupo político pertencem. O terceiro é verificar como têm financiado as suas campanhas.”

Fonseca chama atenção para as distorções causadas pelo dinheiro. “Mesmo com a proibição do financiamento privado, a minirreforma do ano passado conseguiu piorar o que era ruim ao permitir o autofinanciamento ilimitado. Significa que milionários e bilionários podem financiar suas campanhas e de aliados de maneira praticamente ilimitada. É o poder do dinheiro sobre o público.”

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