Democracia em risco

Para vencer eleição, Haddad tem que falar a toda a sociedade, diz Roberto Amaral

Na opinião de fundador do PSB junto com Miguel Arraes, petista precisa ser o candidato de uma frente ampla. 'Só assim podemos enfrentar essa maré da extrema-direita. Ninguém pode ignorar mais isso'

Ivan Russo/Brasil de Fato

“Corremos o risco de ter a pior das ditaduras: uma ditadura com base parlamentar e popular”

São Paulo – Um dos fundadores do PSB junto com Miguel Arraes, o cientista político Roberto Amaral acredita que, diante dos riscos que ameaçam a democracia do país, a campanha de Fernando Haddad (PT) precisa ampliar o discurso e “falar a toda sociedade” para vencer as forças que estão com Jair Bolsonaro (PSL). “Ele tem que ir para além do espectro lulista, que é muita coisa, mas não elege. Tem que ser um candidato de uma frente ampla. Estamos uma situação similar à de 64, de 70, de 1984. Só uma frente para além dos nossos limites pode enfrentar essa maré, porque a questão não é apenas eleitoral, mas envolve também a resistência à maré da extrema-direita. Ninguém pode ignorar mais isso”, alerta. “Esse é o desafio.”

Para Amaral, o candidato do PT precisa falar com a população, em comícios e na televisão, de temas que que ela vivencia no dia a dia e entende facilmente. “Por exemplo, não adianta ele vir a um comício e falar do ProUni. O Rio e São Paulo têm dois tipos de habitantes: um que já foi assaltado e outro que tem medo de ser. Essas pessoas não sabem o que é ProUni. Elas querem saber se tem emprego, se tem segurança, coisas concretas para elas.”

Em sua opinião, a população de modo geral não está preocupada com temas como fascismo, defesa da democracia e temas afins. “Nos meus artigos eu falo em fascismo. Mas você vai falar de fascismo na periferia? O cidadão não sabe o que é fascismo. Ele sabe o que é violência da polícia. A violência da milícia. Isso ele sabe o que é. Não conseguimos, no Rio de Janeiro, que Haddad enfrentasse o tema da violência. A esquerda não conseguiu formular esse tema aqui. As sociedades do Rio de Janeiro, de São Paulo, Fortaleza, vivem isso todo dia.”

Com 31,3 milhões de votos no primeiro turno, Haddad disse em entrevista coletiva nesta segunda-feira (8) que vai trabalhar pela união das “forças democráticas” em torno de um projeto de “restauração”. Citou Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (Psol), governadores eleitos pelo PSB, Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB).

Economia e parlamento

As propostas econômicas de Paulo Guedes, o chamado “guru” de Bolsonaro na área econômica, foram apresentadas há duas semanas, quando o economista resumiu sua propostas da seguinte maneira, em entrevista à GloboNews: “Vamos fazer o que Temer vem fazendo, só que mais rápido”.

A questão é que, se eleito, o candidato do PSL terá condições de fazer tal plano econômico. “Corremos o risco de ter a pior das ditaduras: uma ditadura com base parlamentar e base popular. Ao contrário da Dilma, ele vai ter maioria no Congresso.”

Amaral lembra dados significativos saídos das urnas neste domingo (7). Por exemplo, o fato de que o partido de Bolsonaro, o nanico PSL, elegeu 12 deputados federais no Rio. Isso sem contar os bolsonaristas eleitos por MDB, DEM, PP, PRB e PRTB, entre outros.

Haddad precisaria conseguir parte do que restou dos eleitores de Alckmin, que teve apenas 4,78% dos votos válidos. “Creio que ainda há democratas no PSDB, mas o que sobrou dos tucanos é pouco. Quem abandonou Alckmin já foi para Bolsonaro. Temos que brigar pelos 4,8% que sobraram. Ou seja, temos que ampliar ao centro, à nossa direita.”

Quanto ao PSB, do qual foi presidente, o partido tem posições divergentes, de acordo com a região. Para Amaral, a Paraíba, que elegeu João Azevêdo (PSB) ao governo estadual no primeiro turno, já votou em Haddad, assim como em Pernambuco, que reelegeu Paulo Câmara (PSB).

No Distrito Federal, Rodrigo  Rollemberg, também do PSB, apoiou Ciro Gomes. Mas ele está em situação difícil no segundo turno contra Ibaneis Rocha (MDB), que teve 41,97% dos votos válidos, contra apenas 13,94% do socialista. “Ele entrou raspando o travessão. Mas a grande incógnita do PSB é Marcio França.”

Atual governador de São Paulo, França disputa o segundo turno no estado contra João Doria (PSDB). Já no Rio Grande do Sul, “o PSB já votou em Bolsonaro”, diz Amaral.

 

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