Contagem regressiva

Para analista, pesquisas indicam que eleição irá para o segundo turno

'Nenhuma pesquisa deu a Bolsonaro mais do que 40% dos votos válidos. Pelos nossos cálculos, ele precisaria conquistar cerca de 8 milhões de votos em 48 horas', avalia Maria do Socorro Sousa Braga

Reprodução/Ricardo Stuckert

Confirmando-se Bolsonaro e Haddad no segundo turno, a balança deve começar a pender contra o candidato do PSL

São Paulo – O clima de “aliança antecipada” estabelecido no debate da TV Globo entre os dois mais fortes candidatos progressistas, Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), além de Guilherme Boulos (Psol), foi consequência de percepção de que Jair Bolsonaro (PSL), além de eleitoralmente forte, está conseguindo atrair grande parte do chamado antipetismo, incluindo os votos que seriam de Geraldo  Alckmin (PSDB).

Para a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), ficou claro também que “a atuação coordenada” entre os três teve o objetivo de tentar reduzir a possibilidade de Bolsonaro vencer no primeiro turno. Mas a analista não aposta na possibilidade, apesar de ele ter apoio de meios de comunicação importantes como TV Bandeirantes e Record.

“As pesquisas não indicam isso. Nenhuma pesquisa deu a ele mais do que 40% dos votos válidos. Pelos cálculos que a gente tem, ele precisaria conquistar cerca de 8 milhões de votos em 48 horas. Não conseguiria essa transferência em tão pouco tempo. Não existem sinais de movimento de tal magnitude.” Segundo ela, essa coordenação entre os três candidatos de centro-esquerda e esquerda (Boulos) aponta para o segundo turno e para um “debate de conteúdo”. 

A postura de Haddad, Ciro e Boulos é uma tentativa de unir os setores contrários ao programa do oponente, de características autoritárias e antidemocráticas.“Por mais que haja diferenças entre Boulos, mais à esquerda, Haddad e Ciro, já caminhando para a centro-esquerda, eles têm o elo comum de pensar em questões como a convivência democrática, os direitos humanos, a inclusão das minorias, por exemplo.”

Uma vez superado o primeiro turno, alguns setores democráticos e partidos, como o PSB e até mesmo parcela do PSDB, vão estar contra Bolsonaro no segundo, o que deve fazer a diferença, na opinião da professora. O PSDB está rachado. De um lado, estão grupos tucanos como os do candidato ao governo de São Paulo João Doria e do senador Cássio Cunha Lima (PB), a favor de Bolsonaro. “Mas há uma elite tradicional do PSDB, com uma visão mais politizada da sociedade, para a qual não há condições de apoiar Bolsonaro. Haddad, então, teria muito mais chance de vencer.”

Confirmando-se Bolsonaro e Haddad no segundo turno, a balança deve começar a pender contra o candidato do PSL, acredita a cientista política. Ele terá que ir aos debates, embora possa também tentar se recusar a participar. Participando, Haddad prevalecerá no debate de ideias e conteúdo. 

“Do mesmo jeito que Bolsonaro já conseguiu apoio de bancadas da bala e agrobusiness, outras bancadas vão apoiar o PT e as forças progressistas. Com PSDB  e MDB rachados, uma parcela desses partidos deve preferir apoiar Haddad a colocar o país nas mãos de uma pessoa imprevisível, que é um Donald Trump muito piorado”, avalia Maria do Socorro. “Nesse cenário, a tendência é Haddad ter mais apoio do que se espera e fazer frente ao campo bolsonarista, que de fato cresceu muito.”

Ironicamente, o crescimento inesperado do candidato de extrema-direita foi impulsionado pelo atentado a faca que sofreu, inclusive porque não participou de debates desde o episódio. “Ele teve pouco tempo no horário eleitoral, mas ficou na mídia sem responder aos debates de conteúdo.”, lembra a professora. “Essa presença constante na mídia deu a ele algo inédito, que não teria. Por causa do episódio, capitalizou muito espaço nos jornais, muito maior que no horário eleitoral que ele não tinha.”

Porém, no segundo turno o tempo de TV é igual, observa, e a questão de visibilidade vai se equiparar. “Isso, somado à contraposição dos projetos políticos e os debates, deve levar o eleitor a pensar melhor sobre que escolha ele está fazendo, o que é assustador”, conclui.

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