FIM DO IMPASSE

Decisão por Haddad encerra divisão no PT e dá unidade a estratégia eleitoral

Entendimento de que é preciso apresentar um “candidato real” e comunicar bem à população que “Haddad é Lula e Lula é Haddad” supera período de embates entre correntes

Reproução/Youtube

Haddad e lideranças do PT se reuniram diante da Vigília Lula Livre, perto da PF em Curitiba, para anunciar “decisão forçada” por ação do Judiciário

Brasília – A decisão tomada hoje (11) pelos petistas pela renúncia da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República e formalização da chapa Fernando Haddad (PT), em substituição a Lula, e Manuela D’Ávila (PCdoB), como candidata a vice, encerra uma divisão que vinha sendo observada há pelo menos três meses dentro do partido. Os dois grupos, o que defendia adiar o anúncio ao máximo e o dos que defendiam a antecipação da substituição, destacaram na reunião da direção executiva nacional da legenda, em Curitiba, que agora a luta passa a ser intensa, e com metas convergentes.

Ainda que a legenda tenha conseguido estancar as diferenças, evitando grandes exposições e embates no ambiente externo, ficou assinalado na reunião de hoje que a unidade entre as correntes deve ser o fio condutor dos dos objetivos de derrotar o golpe, alcançar vitórias regionais e ampliar as bancadas legislativas.

A primeira tarefa é disseminar o potencial de transferência de votos de Lula para chapa “Haddad-Manu”, conforme as pesquisas começam a expor – vai de 33% a 49%, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem. E fixar entre o eleitorado, que costuma definir na reta final da campanha a sua escolha, o entendimento de que “Haddad é Lula e Lula é Haddad”.

A tese da substituição já estava consolidada desde o sábado (8), quando se avaliava que o Judiciário está irredutível em desacatar as recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU). Cresce a falta de confiança na independência dos magistrados dos tribunais superiores para respeitar a tese constitucional da preservação do direito de Lula até que seu caso tenha sido julgado em último grau.

Alem disso, pesou o fato de que, se prevalecer a decisão da presidente do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, que não concordou com o adiamento do prazo para indicação de um substituto para a candidatura Lula, a se encerrar nesta terça-feira, o partido poderá ficar fora da disputa.

A posição da procuradora-geral-da República, Raquel Dodge, também vem sendo muito criticada. Raquel, antes de assumir o cargo, era defensora de tratados internacionais. Mas a procuradora-geral mudou o discurso desde que assumiu o cargo, nos pareceres relacionados ao caso do ex-presidente.

‘Não tivemos escolha’

“Estamos satisfeitos por compreendermos que Haddad além de leal a Lula, é extremamente preparado e um autêntico representante do nosso partido, mas não estamos aqui por opção e sim porque não tivemos escolha, diante de um Judiciário que tem uma lei para os outros e outra lei diferenciada apenas para o Lula”, disse o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS).

“Estamos na verdade, fazendo isso praticamente com a faca entre os dentes”, completou o deputado Wadih Damous (PT-RJ). “O Judiciário assumiu um protagonismo digno de magistrados que vivem num Estado de exceção”, criticou ainda o líder.

Pimenta e Damous se mobilizaram com a apresentação de inúmeros recursos e representações protocolados em várias instâncias do Judiciário, sem participar diretamente da decisão dos grupos divergentes. Um grupo capitaneado pela presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), e o senador Lindbergh Farias (RJ), trabalhou para que a decisão fosse adiada até o último instante e que ainda se aguardasse o julgamento do último recurso, apresentado pela defesa de Lula no Supremo Tribunal Federal (STF) – que tem como relator o ministro Celso de Mello.

Pesaram na decisão, entretanto, argumentos do ex-governador da Bahia e ex-ministro Jaques Wagner, de que o PT precisaria apresentar o que ele vinha chamando de “candidato real” o quanto antes. E, também, informações do governador do Piauí, Wellington Dias, de que a agilidade na questão era necessária porque, por parte do Nordeste, os eleitores embora propensos a votarem no representante do Lula, podem não estar prontos para fazer isso “cegamente”.

Eles foram considerados petistas que apresentaram uma posição “mais pé no chão” no convencimento da maioria dos integrantes da sigla. 

Agora, a executiva pretende dar início à campanha por Haddad e Manuela com intensidade, aproveitando todo o suporte do Lula e da carta escrita pelo ex-presidente nesta tarde.

‘Nova etapa do golpe’

“Não temos como mentir, hoje é um dia triste para nós”, disse Lindbergh. “Um dia histórico que consolida uma nova etapa do golpe iniciado em 2016, com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, mas estamos confiantes que os que fizeram tudo isso para impedir o Lula de ser candidato não podem prender o povo nem impedir o povo de votar no Haddad”, acrescentou.

“Os militantes precisam entender que este é um momento muito importante nesta eleição porque precisamos nos unir, esquecer divergências e agora lutar para fazer o povo entender que Lula é Haddad e Haddad estará no governo, mas desenvolvendo o plano de governo do Lula”, disse ainda o parlamentar fluminense, líder do PT no Senado. “Precisamos saber comunicar bem ao eleitor do Lula que o nome é Haddad”.

Lindbergh ressaltou a grande diferença da militância do PT. “Somos guerreiros”, frisou, ao contar que os que estiveram com o ex-presidente o acharam “muito triste”. “Ele (Lula) queria ser candidato, é claro. Ninguém está feliz aqui, mas estamos todos determinados. E podem ficar certos de que a força de Lula será maior do que qualquer coisa e que é ele quem vai decidir o resultado desta eleição”, disse.

Recentemente, a defesa de Lula entrou com um pedido urgente no STF para que seja prorrogado o prazo dado ao PT para substituí-lo como candidato do partido à Presidência da República. Além disso, em paralelo à apelação, os advogados entraram com outra petição na mais alta Corte do país, desta vez pedindo com urgência a concessão de uma liminar (decisão provisória) que permita a Lula continuar como candidato ao menos até o dia 17 – data limite para troca de candidatos, ou até que o plenário do STF discuta em definitivo a situação do ex-presidente.

A posição inicial da defesa de Lula foi de que o TSE julgou o registro de candidatura de forma açodada, suprimindo prazos para a defesa, além de ter impedido Lula de fazer campanha enquanto recorre da rejeição e ter aberto de imediato o prazo para o PT trocar de candidato. 

 

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