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Escritores defendem liberdade e legado de Lula em lançamento de livro

Autores de 'Luiz Inácio Luta da Silva: Nós vimos uma prisão impossível' defendem fortalecimento da democracia, solidariedade ao ex-presidente e que Haddad e Manuela D'Ávila carreguem seu legado

divulgação

‘Livro surge do afeto, da dor de vermos um processo que rasga nossa democracia e, mais do que isso, rasga nossos corações

São Paulo – A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 7 de abril, desencadeou uma onda de solidariedade daqueles que acreditam que seu cárcere tem motivações políticas. Ontem (111), a livraria Tapera Taperá, no centro de São Paulo, foi palco do lançamento de mais um livro resultado desse movimento: “Luiz Inácio Luta da Silva: Nós vimos uma prisão impossível” é uma obra de diversos autores de diferentes segmentos, lançada pela editora Contracorrente.

A ideia da obra partiu da socióloga Esther Solano, e conta com a participação de nomes como a candidata a vice de Fernando Haddad, Manuela D’Ávila (PCdoB), o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa Celso Amorim, e do psicanalista Aldo Zaiden, um dos organizadores do livro. “O livro surge do afeto, da dor de vermos um processo que rasga nossa democracia e, mais do que isso, rasga nossos corações”, definiu Zaiden.

Ele argumenta que, entre os autores, nem todos votariam em Lula caso ele fosse candidato à presidência. “Tem quem ache que Lula não deveria voltar ao poder, mas todos escrevem sobre a decadência de um projeto de democracia, de Estado social. Esse é o valor compartilhado pelos autores.” Com o impedimento de Lula de ser candidato, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indeferir sua candidatura, o PT designou o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para ser cabeça de chapa no partido, como um representante do projeto de Lula.

A psicanalista Maria Rita Kehl lembra do discurso de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, no dia em que se entregou à Polícia Federal. “O sujeito, mesmo aprisionado, triunfa nas palavras. Daqui a 50 anos, as pessoas vão falar do cara que foi preso para não concorrer às eleições e ele disse: ‘Se me prenderem, viro herói, se me matarem, viro mártir e se me soltarem, viro presidente’”.

Agora, Haddad carrega a missão de levar à diante o legado deixado pelo ex-presidente, como define a cineasta Tata Amaral. “Temos que seguir em frente e evidenciar o processo absolutamente espúrio que nos levou a retirar uma candidatura vitoriosa do ex-presidente Lula e que vai nos levar à vitória na expressão da candidatura de Haddad e Manuela. Por um país democrático e inclusivo.”

Tata Amaral diz que lembrou do nascimento de sua filha, e do que esperava do futuro do país: “Relato, de maneira pessoal, que eu era uma jovem militante em 1979, quando conheci meu companheiro. Fiquei grávida e nossa filha nasceu pouco antes de ser decretada a anistia. Éramos jovens e sonhadores. Desejamos que essa criança, que hoje tem 39 anos, vivesse em um país democrático. Percebemos que no Brasil, não havia ninguém com 50 ou 60 anos que tivesse vivido exclusivamente em uma democracia. Pois bem, ela não tem 40 anos e sentimos que nossa democracia está ameaçada”.

O lançamento do livro aconteceu no dia do anúncio de Haddad como candidato do PT, o que despertou emoções antagônicas em Celso Amorim. “Este é um dia difícil, de emoções misturadas. Temos a decisão definitiva de que Lula não poderá ser candidato e, ao mesmo tempo, temos uma bela chapa que fará inveja a muitos países desenvolvidos”, disse o diplomata. “Não só porque são bonitos, porque são, os dois, mas porque eles encarnam a energia, a mudança, tudo que países desenvolvidos pregam mas custam a fazer.”

O 11 de setembro é também um marco triste para as democracias latino-americanas: dia o golpe de Estado no Chile que levou Salvador Allende à morte, em 1973, e deixou no poder o ditador Augusto Pinochet. Leon Garcia, que então completava 1 ano, morava naquele país com o pai Marco Aurélio Garcia, um dos grandes pensadores da união dos povos do continente, exilado por conta da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). No livro, Leon faz paralelos com os momentos de crises históricas nas democracias latino-americanas.

“A experiência de São Bernardo do Campo me remeteu muito à minha infância, 45 anos atrás, no Chile. Nasci lá, filho de pais brasileiros exilados. Nós fugimos em condições precárias por conta do golpe militar. Em São Bernardo (durante a vigília no Sindicato dos Metalúrgicos que antecedeu a prisão, em 7 de abril), lembrei de muitas coisas, inclusive, do golpe no Chile, do fim de Allende, que se suicidou. Já Lula não se suicidou, o que aconteceu foi muito diferente”, ressaltou.

“Lula aprendeu a ser um pouco de todos os que o acompanharam. Não vamos nos entregar, não vamos romper. Não vamos nos dividir com companheiros como o Ciro Gomes (PDT) ou Guilherme Boulos (Psol). Lula é diferente. E que esse livro seja um convite a pensarmos na militância com Lula, que incorpora um pouco de cada um de nós e, em troca, nós incorporamos um pouco de Lula”, completou Leon.

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