#Elenão

Em Brasília, 20 mil vão às ruas ‘contra o fascismo’

Manifestantes evitaram provocações e não se intimidaram com fumaça de barris queimados. Protestaram contra Bolsonaro e 'os gestos de caráter machista, racista, homofóbico e contra os trabalhadores'

divulgação

Mobilização em Brasília para impedir ‘a destruição do país’, segundo destacou a deputada Érika Kokay (PT-DF)

Brasília – A marcha #Elenão na capital do país, contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), conta com aproximadamente 20 mil pessoas, conforme coordenadores, e está sendo realizada desde 15h. A organização teve o cuidado de seguir à risca a regra para uso correto do espaço público, pedir aos manifestantes evitarem provocações e para que procurassem pessoas usando pulseiras amarelas durante transtornos que surgissem. Mesmo assim, por volta das 16h muita gente foi surpreendida por uma estranha fumaça, ao lado do Setor Hoteleiro Sul.

Segundo organizadores e militantes que foram até o local investigar, a fumaça foi iniciada por grupos que apoiam o candidato do PSL, para inibir o ato. Mas tudo o que fez foi escurecer parte do céu do lado direito do eixo monumental durante o início da mobilização, que seguiu em frente.

Não atrapalhou a caminhada de grupos de mulheres e homens que foram às ruas, neste sábado (29), para protestar contra as declarações com tom machista, homofóbico e fascista proferidas por Jair Bolsonaro e seu candidato a vice-presidente, o general Hamilton Mourão.  

Dentre donas de casa, professoras, bancárias, estudantes universitárias, militantes do movimento LGBT, agricultoras rurais, profissionais liberais, estudantes e mães com filhos pequenos formaram um grupo a parte. Elas participaram da ala que protestou, mais especificamente, contra a frase recente de Mourão, segundo o qual famílias formadas por mães sozinhas levam a filhos desajustados.

“Estão aqui meus dois filhos, ele no último ano do curso de engenharia da UnB (Universidade de Brasília), ela profissional de comunicação formada pelo Ceub (Centro de Ensino Universitário de Brasília) e já trabalhando”, afirmou a bancária Diana Vidal, ao lado dos filhos Henrique, de 22 anos e Eduarda, de 25. “Vim mostrar que lá em casa não tem nada de desajustado”.

Diana contou que o marido faleceu dez anos atrás num acidente de carro quando viajavam para visitar a família, em Goiânia (GO). Ao longo do período passou por apuros, teve de mudar de casa, deixar o Plano Piloto para ir morar em Águas Claras – região administrativa do Distrito Federal –, e ajustar o orçamento familiar, mas deu tudo certo.

“Estou aqui dizendo ‘ele não’ por mim, por minha família. Fico muito indignada com a possibilidade de termos uma possibilidade de retrocesso tão grande no país, com a presença desse homem e seu candidato a vice. Justo no Brasil, em que as mulheres são maioria do eleitorado”, destacou.

Mais adiante, Fabiana Ribeiro, professora do Governo do Distrito Federal (GDF) não temeu em apresentar os filhos bem menores (com idade entre 5, 6 e 8 anos), ao lado do marido, Fernando, no mesmo grupo. “Lá em casa viemos todos. Morei sozinha por alguns anos quando meu marido estava em outro país. Asseguro-lhes que meus filhos são muito bem criados. Tenho certeza que dou para eles valores importantes, não os que são pregados por esse louco”, disse.

Do outro lado da rua, recebia cumprimentos e carinhos dona Alda Vasconcelos, que aos 92 anos vestiu uma camisa com a inscrição “ele não” e foi para a rua ao lado da filha e duas netas. “Tenho boa saúde e votei em todas as últimas eleições. Dia 7 estarei lá novamente”, afirmou. Ela não quis dizer o nome do seu candidato por ainda estar na dúvida, mas contou que no segundo turno votará “no candidato que for contra o ‘coiso’ (como Bolsonaro tem sido chamado pelas mulheres)”.

Sem ‘fraquejadas’

“Dei muito duro trabalhando com meu falecido marido em uma mercearia em Taguatinga. Eu ajudava no balcão, ainda cuidava da casa, que ficava nos fundos da loja e criava os filhos. Fico feliz em ver que, hoje, as mulheres têm mais direitos assegurados do que no meu tempo, apesar da crise. Vou fazer o que posso para impedir que a situação fique pior”, ressaltou dona Alda.

Na manifestação, outros destaques foram faixas na cor roxa com as inscrições “#Elenão”, “Fora Bolsonaro”, “Ele nunca” e “Não nascemos de uma fraquejada” – esta última, numa ironia a frase famosa do candidato, de que teve uma filha porque deu “uma fraquejada”.

Um grupo formado por faixas nas cores coloridas do movimento LGBT formado por cerca de 50 pessoas, da cidade do Gama, levou um aviso, escrito em cartaz: “Somos mulheres, homens, negras e negros, sapatas, gays. Todos nascidos nas quebradas da periferia”.

A estudante de engenharia Janaína Almeida ressaltou que a importância do ato se dá por seu caráter suprapartidário, prova de que não se trata de uma manipulação de campanhas contra o candidato do PSL, em sua opinião, mas de uma manifestação legítima da população.

“Este não é um ato político para ajudar na candidatura de quem quer que seja, até porque não estamos aqui defendendo tendência alguma. Só achamos que a situação é grave e que a eleição desse homem representa o retorno à ditadura, por isso estamos aqui”. “Vamos impedir a vitória deste fascista”, acrescentou.

Mesmo assim, a passeata foi formada por pessoas com várias faixas e adesivos de partidos políticos e dos candidatos. Principalmente Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSol),  Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede). 

 “Vamos derrota-lo nas ruas, revogar a reforma trabalhista e derrubar a reforma da Previdência”, pediu a servidora pública federal Elcimara Souza, que concorre a uma vaga de deputada federal no DF pelo PSTU. “Sou contrária a ele porque é machista, racista e LTBfóbico”, afirmou. 

Rompimento das instituições

A deputada Érika Kokay (PT-DF), que conviveu de perto com Bolsonaro, no período em que foi vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que integra até hoje, figurou na frente de uma das faixas e afirmou em entrevista que o objetivo do ato é “impedir uma destruição do país”.

“Dizemos ‘Ele não’ agora porque o país já vivenciou um rasgar da Constituição com a retirada da presidenta que foi eleita pelas urnas, por meio de um impeachment baseado em crimes que nunca foram cometidos. Agora estão tentando uma nova fase do golpe, que passou também pela prisão arbitrária do presidente Lula. Consiste na subida do fascismo ao poder”, ressaltou a parlamentar.

“O fascismo perdeu a modéstia, não tem mais enredo, se mostrou. Você tem uma chapa concorrendo em que o candidato a vice diz que o 13º salário é uma jabuticaba (numa referência a outra fala de Mourão), que fala em constituinte sem participação popular, formada apenas por notáveis. São muitas as ameaças contra nossa democracia. Eles estão construindo as condições para uma nova etapa do golpe, ocorrido em 2016, que contou com o apoio da elite do país. Estão construindo parâmetros para o rompimento das instituições. Não podemos deixar isto acontecer”, alertou Érika.

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